A decisão política do governo Raquel Lyra em não aumentar, pelo segundo ano consecutivo, as passagens de ônibus do Grande Recife - sistema gerido pelo Estado por ser metropolitano - e criar o Bilhete Único Metropolitano ao extinguir o Anel B, foi um gesto para com os passageiros, sem dúvida. Impossível negar. Mas ainda é muito pouco para melhorar o transporte público.
O ganho, na prática, foi mais político para o governo do que para quem utiliza os ônibus diariamente. Isso porque, para viabilizar o reajuste zero e a extinção do Anel B - um custo adicional de R$ 60 milhões por ano - o Estado não previu melhorias no sistema como contrapartida das empresas de ônibus permissionárias (que não têm contrato e representam oito das dez operadores do STPP/RMR).
Sem prioridade na maioria das ruas e avenidas do Grande Recife, o serviço de transporte público está ruim. Os ônibus estão velhos e quentes - apenas 18% da frota está refrigerada. E não há nenhuma previsão de mudança. Ao contrário, já há empresas de ônibus entregando linhas, como aconteceu com a Vera Cruz, que pediu para devolver a operação de nove linhas na área Sul do Recife, em Jaboatão dos Guararapes, no Cabo de Santo Agostinho e em Ipojuca. E mais: unificar duas linhas, compartilhar e permutar outras cinco, estando na iminência de ter o contrato de operação revogado pelo Estado.
Germano Travassos, consultor em transporte público, lembra que a participação efetiva - ou seja, divisão da responsabilidade financeira e de gestão - do Recife no Consórcio de Transporte Metropolitano é um dos grandes desafios do setor. “A gestão está viabilizada só com o Estado e a capital pernambucana, que responde pela maioria das linhas em operação. A entrada de outros municípios da RMR, além de Olinda, que já faz parte, é bem vinda, sem dúvida. Mas o consórcio não depende disso”, alerta.
E segue: “Agora, é preciso que a capital tenha uma participação mais efetiva, que compartilhe a responsabilidade com o Estado. Isso permitiria, por exemplo, que ações da CTTU fossem mais voltadas ao transporte público. E, principalmente, daria força às reivindicações financeiras junto ao governo federal e instituições públicas de financiamento, por exemplo”, reforça.
LICITAÇÃO DAS LINHAS DE ÔNIBUS FICARÁ PARA O FIM DE 2025, COM SORTE
Outro desafio do setor de transporte que está virando mais uma lenda urbana é a conclusão da licitação das linhas de ônibus do Grande Recife. O processo foi realizado em 2014, mas apenas dois contratos foram firmados com os Consórcios Conorte e MobiBrasil. Em 2019, o governo do PSB revogou a licitação e iniciou o processo de retomada três anos depois.
Agora, a gestão Raquel Lyra tenta finalizá-la, mas a previsão é de que, após mais um período de revisão da rede de transporte, o edital seja lançado apenas em julho de 2025. E, se tudo correr bem, a transição operacional aconteceria apenas no mês de outubro do mesmo ano.
“A licitação, sem dúvida, é fundamental para dar segurança jurídica aos operadores e para garantir o cumprimento de melhorias que beneficiem os passageiros. Além de ser uma obrigação legal. Só com a licitação será possível ter um sistema mais claro financeira e operacionalmente”, destaca um empresário de ônibus em reserva.