O Maio Amarelo, mês que virou símbolo da segurança viária no mundo, principalmente no Brasil, onde o movimento ganhou força nos últimos anos, começa em 2024 mais uma vez sem ter o que comemorar. Ao contrário. O País tem o que lamentar e, diante do cenário, precisa agir de forma efetiva contra a matança promovida pelo trânsito brasileiro, que tem números equivalentes a uma guerra.
Foram 33.894 mortes em 2022, segundo a estatística mais confiável e atualizada do País, fornecida pelo DataSus, o sistema de dados do Ministério da Saúde. A divulgação foi referente às causas de mortes no ano de 2022.
E os números mostram que, infelizmente e apesar das metas previstas nas Décadas de Segurança Viária, houve um aumento de 0,24% nas mortes de trânsito, comparado com 2021.
TENDÊNCIA DE CRESCIMENTO DAS MORTES NO TRÂNSITO É O QUE MAIS PREOCUPA
E, o que é o mais grave - como destaca Dante Rosado, gerente sênior de Programas de Segurança no Trânsito, da Vital Strategies - representa o terceiro aumento seguido desde 2019. Por isso, acende um alerta. “Isso reforça a hipótese de que saímos de uma tendência de queda - no fim da década passada - para uma de crescimento”, afirma Rosado.
Em 2019 eram 31.945 mortes no trânsito do País, em 2020 esse número subiu para 32.716 - mesmo no auge da pandemia de covid-19 e com diversos lockdowns impostos no País. Em 2021 um novo aumento: passou para 33.813 e, em 2022, chegou a 33.894 mortes.
Diante da tendência de crescimento, a preocupação dos estudiosos da segurança viária e as consequências da ausência dela, é com relação ao que o País vai encontrar quando os dados de 2023 e 2024 forem fechados pelo DataSus. “O que esperar para 2023 e 2024? O que fazer de diferente para mudarmos esse cenários? Deixo essas reflexões para o início do mês da segurança viária, Maio Amarelo”, afirma.
MOTOQUEIROS, COMO SEMPRE, LIDERANDO AS ESTATÍSTICAS
A morte de ocupantes de motocicletas, sejam condutores ou passageiros - vítimas, aliás, que têm crescido no País, principalmente no Norte e Nordeste devido à explosão dos aplicativos de transporte, como Uber e 99 Moto - segue sendo a mais comum. Os usuários de motos responderam por 43,7% dos óbitos do País em 2022.
Quase o dobro das mortes de ocupantes de automóveis, por exemplo, que representaram 27,2% das mortes, e muito mais até mesmo do que os pedestres, com 19,5% dos óbitos, e dos ciclistas, com 4,9% das mortes.
BOMBEIROS EMITEM ALERTA SOBRE O PERIGO DAS MOTOS
O aumento dos sinistros de trânsito envolvendo motocicletas fez com que o Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) fizesse um alerta público à sociedade sobre os perigos que envolvem o uso das motos como transporte de pessoas. O alerta foi feito em abril.
O crescimento do atendimento às ocorrências foi verificado em 2023 em todo o Estado, mas principalmente na Região Metropolitana do Recife. Foram registrados 3.831 sinistros de trânsito com motos atendidos pela Corporação, o que corresponde a 77% das colisões registradas em todo o ano - um total de 4.300 registros. Nesses casos, as vítimas eram condutores e passageiros das motocicletas.
Os Bombeiros também registraram um aumento em relação aos atropelamentos envolvendo motos, o que evidencia o crescimento da frota no Estado: foram 408 atropelamentos, o que representou quase a metade (41,5%) de todos os atropelamentos atendidos em 2023.
No alerta, a Corporação define os números como alarmantes. E destaca a importância da conscientização e prevenção para evitar os sinistros de trânsito. As ocorrências com motocicletas respondem por até 60% dos registros no trânsito atendidos pelos Bombeiros.
TRÂNSITO MATA 1,19 MILHÃO DE PESSOAS POR ANO NO MUNDO
O Movimento Maio Amarelo é internacional e foi criado para alertar a sociedade sobre os altos números de mortos e feridos no trânsito, não só no Brasil, mas em todo o mundo. De acordo com o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número anual de mortes no trânsito diminuiu ligeiramente para 1,19 milhão por ano, mas continua assustador.
No entanto, com mais de duas mortes ocorrendo por minuto e mais de 3.200 por dia, os sinistros de trânsito continuam sendo a principal causa de morte de crianças e jovens de 5 a 29 anos. O mais recente relatório global de status da OMS sobre segurança no trânsito de 2023 mostra que, desde 2010, as mortes no trânsito diminuíram 5%.
A OMS confirma que os sinistros de trânsito continuam sendo uma crise persistente de saúde global, com pedestres, ciclistas e outros usuários vulneráveis enfrentando um risco agudo e crescente de morte.