A desordem no transporte público segue na Região Metropolitana do Recife. Além das invasões pela porta traseira e os pulos de catracas, vândalos seguem com a prática do chamado ‘surf e morcegamento’ nos ônibus. Atos que assustam passageiros e motoristas, além de colocar em risco a segurança de que usa o transporte público.
E o ‘surf nos ônibus’, que antes era visto apenas em bairros da periferia do Grande Recife, agora tem flagrantes fáceis em corredores de transporte importantes da cidade, como a Avenida Herculano Bandeira, uma das principais vias de entrada da Zona Sul do Recife.
O flagrante que o JC fez dos ‘surfistas’ no teto de um ônibus da empresa Borborema, em pleno fim de tarde da segunda-feira (1/7), é um exemplo de que a situação segue fora do controle, sem que a segurança pública estadual consiga impedir a ousadia dos jovens - muitos deles, vale ressaltar, adolescentes e até crianças.
“É assustador estar em um ônibus quando esses meninos praticam o que chamam de surf. Nós temos medo por nós, porque sempre existe a possibilidade de um roubo aos passageiros, mas também por eles, no caso de um deles cair e ser atropelado, provocando um dano maior para todos que estão no coletivo. Absurdo demais”, critica a servidora pública Maria Aparecida Silva, que diariamente usa o transporte público para ir e voltar do trabalho.
MOTORISTAS AUTORIZADOS A PARAR OS COLETIVOS
Diante do aumento dos casos de ‘surf’ nos ônibus, há um ano o governo de Pernambuco - gestor do sistema de transporte por ônibus da RMR - decidiu autorizar os motoristas a parar os coletivos durante as viagens até que o problema seja resolvido. A decisão vale não só para o ‘surf e morcegamento’ nos coletivos, mas também para os pulos de catraca.
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Inicialmente, a autorização era uma imposição, sob ameaça de as empresas operadoras serem multadas. Mas, diante do risco para os motoristas na prática, a decisão de parar os coletivos foi flexibilizada. “Cabe ao motorista decidir se para ou não”, explica o diretor de Planejamento do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), Jonathan Valença.
“Considerando a necessidade de promover a segurança de todos os envolvidos na operação, o CTM determina que o motorista deve interromper a viagem até que o usuário que esteja praticando o surf (viajar em cima do teto do ônibus) ou o morcegamento (viajar do lado de fora do ônibus, pendurado nas janelas e portas) desça ou embarque normalmente no veículo”, diz a resolução.
MINISTÉRIO PÚBLICO INVESTIGA OS CASOS DE SURF NOS ÔNIBUS
As mortes de jovens que praticavam o ‘surf nos ônibus’ também levou a Promotoria de Transportes da Capital do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) a instaurar um procedimento preparatório com o objetivo de apurar se há ou não irregularidades sendo cometidas e que poderiam facilitar a prática nos ônibus.
A apuração foi provocada pelas últimas mortes de jovens que aconteceram em 2023, no Grande Recife, especificamente a de um adolescente de 17 anos que caiu do coletivo e teria sido atropelado por um automóvel que seguia atrás, em plena Avenida Agamenon Magalhães, no Derby, área central do Recife e um dos pontos mais conhecidos e movimentados da cidade.
O caso aconteceu em maio do ano passado. O adolescente estava com um grupo de quase 20 jovens, que já tinha sido expulso de outro coletivo também por estar praticando ‘surf e morcegamento’ nos ônibus.
A Secretaria de Defesa Social (SDS) e o CTM chegaram a ser provocados a dar explicações sobre as medidas adotadas para coibir as práticas.
CAMPANHA EDUCATIVA VEM SENDO REALIZADA PARA INIBIR A PRÁTICA
O governo de Pernambuco vem realizando a campanha “Pegar Bigu e Surfar, nem pensar” em diversos Terminais Integrados da RMR. Até agora, oito terminais já receberam a ação e, nesta quarta-feira (3/7), chegará ao TI Jaboatão, em Jaboatão dos Guararapes. A campanha realiza panfletagem e mini-palestras, alertando sobre os riscos que os jovens correm com a prática de se pendurar do lado de fora ou no teto do ônibus.
Estudos realizados pelo Consórcio destacam que domingos, feriados e quando acontecem disputas futebolísticas são os dias mais corriqueiros para se ver diversos flagrantes do “surf” nos coletivos.
“Queremos conscientizar esses jovens que essa prática não é um esporte, e sim, extremamente perigosa, colocando sua vida em risco. Além disso, com essas ações, estamos garantindo a segurança dos passageiros, salvando vidas e preservando o patrimônio público, trazendo cada vez mais dignidade e respeito aos usuários do sistema. Solicitamos que, todas as vezes em que a população constatar essas irregularidades, denuncie através dos nossos canais de atendimento”, destaca o presidente do CTM, Matheus Freitas.
As denúncias devem ser feitas à Polícia Militar ou pelo WhatsApp do CTM (9.9488.3999).