Os bastidores da política nacional, com Romoaldo de Souza

Política em Brasília

Por Romoaldo de Souza
opinião

Lula não pode ignorar que entre o 'Mensalão' e 'Petrolão' havia um conluio montado com a participação do PT

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Romoaldo de Souza

Publicado em 11/03/2021 às 7:23 | Atualizado em 11/03/2021 às 7:23
EX-PRESIDENTE História de gravidez após parada na vigília de Curitiba foi contada a Lula pelos advogados - MIGUEL SCHINCARIOL/AFP

Chovia torrencialmente, na Vila Kostka, em Indaiatuba, no interior de São Paulo, quando o recém eleito presidente da República chegou para participar da assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Incensado pelo clero católico, Luis Inácio Lula da Silva, o primeiro presidente a participar de uma assembleia da CNBB, não quis que a imprensa registrasse o encontro com os bispos, mas na saída, quando pegava o helicóptero da Força Aérea para seguir rumo ao comício que faria no 1º de maio no ABC paulista, Lula deixou escapar que tinha feito três importantes promessas. A primeira é que ao final do mandato, nenhum trabalhador rural sem terra ficaria de fora do grande programa que estava para ser lançado de assentar 10 milhões de famílias.

A segunda promessa que Lula fez aos bispos foi de que seria colocado em prática um grande programa de combate à fome e por fim, o ex-militante da Pastoral Operária prometeu aos bispos que faria um governo pautado pela honestidade.

Eu me recordei dessa reunião do presidente com o episcopado, em maio de 2003, para fazer uma comparação com o discurso de Lula ontem, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista, no mesmo palanque de onde saiu para se entregar à Polícia Federal, 15 anos depois do jantar em que foi abençoado pelos bispos.

Arrumado, meticuloso, escolhendo as palavras e os adversários para atacar, Lula saiu-se melhor do que a encomenda quando disse que não sentia mágoa com o que chamou de “a maior mentira jurídica contada em 500 anos de história [do Brasil]”.

Aqui o ex-presidente retoma uma narrativa dos tempos em que durante oito anos ocupou o Palácio do Planalto, quando começavam seus discursos com o surrado chavão: “nunca antes na história deste país”. Sobre a vitimização, ainda que seja comprovada sua inocência, Lula há de se recordar que o Brasil é mestre em causar injustiça a seus filhos, principalmente os menos abonados coisa que Lula não é.

Negando que já esteja em campanha embora a estética, da roupa ao discurso, passando pela entonação da voz, seja de um pré-candidato, Lula cometeu uma pequena confusão, e certamente ainda terá tempo de fazer a correção.

O ex-presidente confundiu memória curta com consciência limpa. Lula poderá até vir a ser inocentado ou se beneficiar da prescrição dos seus processos, mas não pode ignorar que entre o “Mensalão” e o “Petrolão”, esquema que desviou recursos da Petrobras, havia um conluio montado com a participação do PT, legenda que Lula se vangloria de ter fundado. Para quem acredita na conversão de políticos, Lula ainda tem pela frente, um dúzia de meses para recontar a história como ela foi e não como ele quer narrar.

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