Atualizada às 17h35
Somente nos primeiros três meses deste ano, 61 mulheres foram assassinadas em Pernambuco. O número representa um aumento de 22%, se comparado com o mesmo período de 2020 - quando houve o registro de 50 vítimas. As estatísticas são da Secretaria de Defesa Social (SDS).
Dentro desse recorte, da violência contra a mulher, também estão incluídos os feminicídios. Foram 27 contabilizados no Estado no primeiro trimestre. Oito a mais do que no mesmo período do ano passado.
Uma das vítimas foi a dentista Emelly Nayane da Silva, de 24 anos. De acordo com a Polícia Civil, o autor do crime foi o ex-marido dela, o comerciante Lívio Quirino de Oliveira Neto. As investigações apontaram que houve uma discussão na casa dele, no bairro do Janga, em Paulista, Região Metropolitana do Recife, e ela acabou sendo morta. O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) apontou que Emelly morreu vítima de asfixia por esganadura. Havia lesões no pescoço dela. O crime foi registrado em 22 de fevereiro. O comerciante, que está preso, virou réu e poderá ir a júri popular.
Na contramão do aumento das mortes de mulheres, a SDS diz que a violência doméstica diminuiu nos primeiros três meses. Foram10.761 queixas nas delegacias contra 10.971 no mesmo período do ano passado, o que corresponde a uma diminuição de -1,91%.
ANÁLISE
Para a socióloga e coordenadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Edna Jatobá, essa diminuição de queixas pode não significar que a violência doméstica está diminuindo, mas que as mulheres estão encontrando dificuldade de registrar as denúncias. "A violência doméstica é é a porta para os feminicídios. Então se diminui a notificação desses casos e os feminicídios aumentam é preciso avaliar o que está por trás desse resultado. Houve diminuição da oferta da rede de apoio a essas mulheres nesse período de pandemia? Elas estão desencorajadas a denunciar? Com os companheiros mais tempo em casa, estão com medo de procurarem ajuda?", questionou.
A gestora do Departamento de Polícia da Mulher, Julieta Japiassu, confirmou que existem estudos que indicam que, em processo de pandemia ou reclusão, as mulheres e até mesmos as crianças encontram dificuldades em procurar ajuda porque ficam mais tempo em casa com seus agressores. "Uma das formas encontradas pela polícia para ajudar as vítimas foi a possibilidade de que elas façam o registro do boletim de ocorrência de violência doméstica pela internet. Desde o ano passado esse serviço ficou disponível", destacou. A queixa pode ser feita no site servicos.sds.pe.gov.br/delegacia.
Lembrando que as vítimas podem procurar a delegacia mais próxima para prestar queixa. E também ligar para o número 190, da Polícia Militar. "Estamos atentos e sensíveis aos casos de violência. As vítimas podem nos procurar e solicitar a medida protetiva se for preciso", completou a gestora.