AÇÃO VIOLENTA

Após 10 meses, SDS diz que identificou PM que atirou no olho de adesivador durante ato contra Bolsonaro no Recife

Dois trabalhadores que não faziam parte da manifestação foram atingidos por tiro de bala de borracha nos olhos e perderam a visão

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Raphael Guerra

Publicado em 29/03/2022 às 18:54 | Atualizado em 12/04/2022 às 17:00
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Dez meses após a ação violenta da Polícia Militar contra um grupo que participava de uma manifestação em repúdio ao governo Bolsonaro, na área central do Recife, a Secretaria de Defesa Social (SDS) confirmou que identificou o responsável por atirar no adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos. A vítima passava pela Ponte Duarte Coelho quando foi atingida no olho esquerdo e perdeu a visão.

"A Polícia Civil de Pernambuco informa que o inquérito sobre o caso está em fase de conclusão do relatório. O autor do disparo foi identificado por meio de trabalho conjunto, envolvendo também Instituto de Criminalística e Corregedoria Geral da Secretaria de Defesa Social do Estado", informou, em nota, a SDS.

O nome do militar, bem como o cargo que ele ocupava no dia da ação, não foi informado. 

A mobilização aconteceu em 29 de maio de 2021. Outro trabalhador que perdeu a visão, ao passar pelo protesto, em 29 de maio deste ano, foi o arrumador de contêineres Jonas Correia de França, de 29 anos.

O terceiro sargento do Batalhão de Choque Reinaldo Belmiro Lins, acusado de disparar o tiro de elastômero (bala de borracha), foi indiciado e, atualmente, responde na Justiça pelo crime de lesão corporal grave, com o agravante de o crime ter sido cometido por um militar.

A pena, em caso de condenação, pode chegar a cinco anos de prisão. No dia 19 de janeiro de 2022, ele sentará no banco dos réus. O processo ainda está em fase de instrução e julgamento.

Durante a ação desastrosa da PM, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida no rosto por spray de pimenta ao tentar negociar com policiais militares do Batalhão de Radiopatrulha, na Ponte Santa Isabel. Esta investigação foi concluída pela Polícia Civil, mas a SDS não revelou o resultado, sob a alegação de que o caso está sob segredo de Justiça.

QUATRO POLICIAIS INDICIADOS

Por causa da truculência, 16 policiais militares (três oficiais e 13 praças) foram identificados e afastados das atividades nas ruas. Nesta terça-feira (29), a SDS informo que  o Inquérito Policial Militar que havia sido instaurado foi concluído com o indiciamento, por prática de crime militar, de quatro dos policiais investigados, sendo dois oficiais e dois praças, todos já submetidos a processos disciplinares.

"Os autos do IPM foram encaminhados à Central de Inquéritos do Ministério Público, para análise e possível oferecimento da denúncia", disse a nota.

A coluna Ronda JC questionou à SDS qual crime militar foi atribuído aos policiais, mas não houve resposta até a publicação.

Além disso, a Corregedoria da SDS está em fase final das investigações administrativas em desfavor dos PMs envolvidos na ação. 

"A Corregedoria finalizou, na esfera administrativa, cinco dos sete Processos Administrativos Disciplinares (PAD) instaurados. Dois desses relatórios concluídos aguardam parecer técnico da Corregedoria Auxiliar Militar, enquanto outros três estão em análise para elaboração de parecer do Corregedor Geral. Dois processos continuam em andamento", informou a pasta. 

QUEM DEU A ORDEM PARA ATIRAR?

YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
TROCA Antônio de Pádua deixou a SDS após ação violenta da PM - YACY RIBEIRO/JC IMAGEM

Três dias após a ação da PM, o então comandante geral da corporação, Vanildo Maranhão, foi exonerado. No seu lugar, ficou o coronel José Roberto Santana. A saída de Maranhão se deu em meio aos depoimentos que apontaram ele como o responsável por dar a ordem de ação dos policiais contra os manifestantes, mesmo com o ato ocorrendo de forma pacífica, conforme documento revelado em primeira mão pela coluna Ronda JC.

Vanildo nunca veio a público dar sua versão sobre o caso. Ele foi transferido para a reserva remunerada.

Dias depois, o delegado federal Antônio de Pádua, até então secretário estadual de Defesa Social, também foi exonerado do cargo. Humberto Freire, até então secretário adjunto, assumiu a titularidade da pasta.

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