PMs acusados de matar Victor Kawan, no Recife, se entregam e já estão no Creed

Na semana passada, a Justiça determinou a prisão dos policiais. Investigação apontou que eles teriam fraudado provas do crime
Raphael Guerra
Publicado em 03/11/2022 às 16:29
INVESTIGAÇÃO Segundo denúncia do MPPE, policiais simularam que Victor Kawan tinha uma arma de fogo, o que foi negado por testemunhas Foto: ALEX OLIVEIRA/JC IMAGEM


Os dois policiais militares acusados de matar o adolescente Victor Kawan Souza da Silva, de 17 anos, durante uma abordagem no bairro de Sítio dos Pintos, Zona Norte do Recife, foram encaminhados ao Centro de Reeducação da Polícia Militar (Creed), em Abreu e Lima, nessa quarta-feira (02). A prisão preventiva deles foi determinada pela Justiça na última sexta-feira (28/10), conforme publicou a coluna Ronda JC.  

De acordo com a Polícia Militar de Pernambuco, José Monteiro Maciel de Lima e Clezya Patrícia de Souza Silva "se apresentaram voluntariamente ao subcomandante da unidade na qual são lotados, o 11° Batalhão". Ambos respondem pelos crimes de homicídio doloso duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa da vítima) e homicídio tentado - este último referente ao amigo de Victor que não se feriu.

Victor Kawan foi morto em 11 de dezembro de 2021. Segundo testemunhas, ele e o amigo andavam de moto quando passaram a ser seguidos pela viatura policial. Houve uma perseguição e, pouco depois, Victor, que estava na garupa, foi baleado no peito. Ele morreu na UPA da Caxangá.

A Polícia Militar alegou que o tiro foi disparado porque, durante a tentativa de abordagem, os garotos teriam reagido. Victor estaria sem capacete. Além disso, na época, a corporação afirmou que um revólver calibre 38 com seis munições havia sido apreendido.

Testemunhas negaram toda a versão da polícia. A investigação também apontou que os policiais simularam que a vítima estivesse armada. Ainda tentaram fraudar provas para atrapalhar as investigações. 

A prisão preventiva dos policiais foi solicitada pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e decretada pelo juiz Jorge Luiz dos Santos Henriques, da 2ª Vara do Tribunal do Júri Capital.

PROVAS APONTAM QUE POLICIAIS MENTIRAM

"Diferentemente da alegação dos acusados, sobre a quantidade de disparos efetuados (cada um teria deflagrado apenas dois tiros), consta nos depoimentos das testemunhas que foram efetuados cerca de dez (10) disparos, isto em via pública, com risco de atingir outras pessoas. A propósito, também distingue o caso dos autos a constatação de que a vítima fatal foi atingida nas costas. De igual modo, não há como ignorar o fato de as armas utilizadas pelos acusados não terem sido apreendidas, como de rigor", descreveu o juiz na decisão.

Com base na denúncia do MPPE, a partir dos depoimentos das testemunhas, o magistrado ainda cita que "os acusados teriam simulado a existência de uma arma de fogo na cena do crime, como se estivesse em poder da vítima fatal. Além disso, consta que os acusados teriam removido indevidamente o corpo da vítima do local do crime, a pretexto de socorrê-la, conforme a denúncia, inviabilizando a realização de perícia em local de crime, que poderia trazer melhor elucidação dos fatos".

"Destaca-se a perícia do IML no sentido de que o projétil que atingiu a vítima fatal rompeu a aorta, assim provocando a morte rapidamente. As duas condutas antes especificadas podem configurar prática de crime de fraude processual, evidenciando a necessidade da prisão cautelar", completa o juiz.

PROCESSO ADMINISTRATIVO

Além do processo criminal, os policiais também respondem a um procedimento administrativo disciplinar, na Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), que pode resultar na expulsão deles da corporação. Não há prazo para conclusão. 

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