O isolamento social é uma das medidas para conter o avanço do novo coronavírus, além de evitar que a curva de crescimento de casos aumente ao ponto de causar um colapso no sistema hospitalar. Mas o que fazer quando sua rotina muda abruptamente e ficar em casa é a sua única opção? A estudante de Relações Internacionais, Thalita Sobrinho, de 21 anos, encontrou nos passeios de carro uma forma de driblar a quarentena e fazer com que seu irmão, Pedro Eduardo, de 12 anos, se distraísse.
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"Meu irmão tem síndrome de down e é bem difícil ficar com ele em casa, porque ele sempre pede para ir ao shopping, a escola e para outros lugares. Ai pensei em dar voltas com ele de carro pela cidade, com os vidros abertos e sem descer para ele poder se distrair e olhar a rua", conta. Devido a síndrome, Pedro não entende o porquê da necessidade de estar em quarentena e fica estressado dentro de casa.
A saída é feita geralmente duas vezes na semana e com todos os cuidados necessários. "Não saímos do carro. A gente leva álcool em gel pra passar nas maçanetas, no volante do carro e nas mãos. Quando voltamos, tomamos banho, lavamos as roupas e os sapatos. O passeio é só para ele olhar a rua pela janela, o que o acalma bastante", explica.
Quem também encontrou nos passeios de carro uma forma de driblar a solidão da quarentena e de ver gente foi a funcionária pública Viviane Aquino, de 33 anos, moradora de Olinda. Sua rotina era agitada: trabalhava, fazia academia, pilates e tinha uma vida social ativa. De isolamento desde o dia 16 de março, ela relata que a decisão aconteceu para não 'surtar'. "Estava em casa há duas semanas sem ver ninguém. Com saudade das pessoas, de ver o mundo e de me arrumar", explica. Mesmo sabendo que não iria sair do carro, ela afirma que tomou todos os cuidados com álcool em gel e máscara. "Fui no Sítio Histórico de Olinda, vi que tinha muita gente em casa, pois era um sábado e as ruas estavam vazias. Passei pela Sé e voltei pela Orla. Só isso me acalmou bastante", completa. A atitude, de acordo com ela, serviu para desopilar e dar uma relaxada.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, a infectologista Lívia Medeiros, alerta para os devidos cuidados. "Até que a pessoa chegar no carro, encontra com outras pessoas e toca em superfícies, como na maçaneta, porta e botão do elevador. É difícil realizar a desinfecção desses itens diariamente. Por isso, o isolamento social é de extrema importância", explica. Em situações como a de Thalita e Pedro, Lívia alerta que o ideal é redobrar os cuidados. "Quando a saída é necessária, o ideal é que as pessoas higienizem as mãos antes e depois de tocar no botão do elevador e abri-lo com o cotovelo ou as costas. Chegando no carro, após abrir a maçaneta, é preciso higienizar o volante e as mãos. Se o carro for manual, higienizar também o câmbio. Esses artifícios, antes e após tocar em superfícies de uso comum, tornam o passeio mais seguro". Deixar que o fluxo contínuo de ar transite dentro do carro também é uma dica da profissional.
Já a psicóloga clínica e especialista em gestão de pessoas Maria do Carmo orienta que quando a situação não é específica e não há a necessidade de sair, o melhor é encontrar meios de olhar para dentro de si e permanecer no isolamento. "O ser humano é um ser social e precisar da relação com outros seres. Diante do isolamento, algumas pessoas sentem ansiedade, pois tem um ritmo de vida exterior intenso e não praticam o ato de ter um movimento interior. Esse momento é importante para que essas pessoas investiguem os motivos de precisarem sair e não conseguirem ficar sós consigo mesmas e em si", completa. Ela ainda aconselha a prática de meditação e terapias onlines para quem não consegue lidar com a quarentena.