Com UTIs para coronavírus cheias em Pernambuco, conselho de medicina instrui priorizar quem tem mais chance de sobreviver

Cremepe diz que já encaminhou documento à Secretaria de Saúde de Pernambuco
Cinthya Leite
Publicado em 29/04/2020 às 14:57
Para atuação no combate à pandemia, Pernambuco nomeou 3.261 profissionais aprovados em concurso público e outros 6.669 aprovados por meio de seleções simplificadas Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


O Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) divulgou uma recomendação com definição de critérios de prioridade de internação dos pacientes infectados com coronavírus em unidade de terapia intensiva (UTI), na falta de leitos para atender a demanda terapêutica. O documento já foi encaminhado à Secretaria Estadual de Saúde (SES), segundo o Cremepe. 

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A recomendação do Cremepe foi feita no momento em que Pernambuco enfrenta uma franca aceleração da curva epidêmica de covid-19, o que causa uma pressão imensa no sistema de saúde, com taxas de ocupação dos leitos de UTI no limite. Em linhas gerais, o documento do Cremepe se baseia no uso de três escalas e orienta que devem ser priorizados os pacientes com covid-19 em estado grave que tenham maior chance de sobrevivência. 

"Nós não podemos interferir na política de saúde do Estado. Mas, diante do cenário de leitos insuficientes para a grande demanda de pacientes (com suspeita ou confirmação de covid-19), podemos ajudar na tomada de decisão para priorização do acesso. Não estamos falando em fazer um corte por faixa etária, como fez a Itália. A nossa recomendação reúne três tipos de score para dar a decisão (ao médico) de que pacientes estão com maior necessidade de UTI e maior chance de sobrevivência", explica o vice-presidente do Cremepe, Maurício José de Matos e Silva. 

O conselho recomenda a utilização do Escore Unificado para Priorização (EUP-UTI) de acesso a leitos de terapia intensiva, assistência ventilatória e paliação, como meio de hierarquização da gravidade dos pacientes, na ausência absoluta de leitos suficientes para atender a demanda terapêutica. O documento, publicado na segunda-feira (27), destaca que caberá à autoridade sanitária definir o início, a duração e a gradação do ponto de corte de utilização do EUP-UTI, conforme a necessidade de adequação dos quantitativos de leitos à demanda existente.

"Encaminhamos a recomendação à SES, órgão que cabe avaliar essa nossa contribuição. A secretaria deve se pronunciar, poderá usar totalmente a recomendação ou parte dela", informa Maurício, ciente de que a missão do médico de decidir o paciente que deve ser encaminhado a um leito de UTI, nesse cenário de esgotamento da rede, é extremamente difícil. "Parece cruel, mas alguém tem que fazer isso."

O vice-presidente do Cremepe acrescenta que a recomendação de acesso a vagas de terapia intensiva leva em consideração a condição clínica do paciente, as doenças preexistentes (ou seja, aquelas diagnosticadas antes da infecção pelo coronavírus) e a fragilidade - condição que tem implicações na qualidade de vida e na autonomia de cada pessoa. "Para fazer essa recomendação, reunimos três scores que avaliam a previsão de sobrevivência a curto prazo do paciente (com suspeita ou confirmação de covid-19) e a longo prazo a partir da presença de comorbidades (doenças crônicas)", diz Maurício. A previsão de sobrevivência global é avaliada pela condição de fragilidade. "O score, vale dizer, não é fixo e deve ser feito todos os dias (com base no quadro de cada paciente)."

Sobre a recomendação do Cremepe, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, sinalizou, em coletiva de imprensa online, nesta quarta-feira (29), que a contribuição do conselho é importante. “Em situação de calamidade pública, o médico é chamado para tomar decisões difíceis. É essencial ter esse parâmetro, baseado em escores, para não ficar apenas em iniciativas simplistas, como usar o ponto de corte apenas da idade. Ninguém ficará desassistido; não queremos isso. Nosso trabalho é para salvar cada vez mais vidas”, destacou Longo. 

Cuidados paliativos 

Para os pacientes com covid-19 que não forem priorizados para o uso de leitos de UTI, Maurício frisa que deve ser utilizada a prática dos cuidados paliativos, uma abordagem voltada para o controle de sintomas, conforto e qualidade de vida. Além disso, é um tipo de cuidado oferecido em conjunto com o tratamento padrão de qualquer doença que ameace a continuidade da vida, sem ser associado com a omissão ou exclusão (abandono terapêutico), mesmo durante uma pandemia.

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