Pesquisa financiada pelo Ministério da Saúde e desenvolvida pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) mostra que 3,8% da população brasileira possuem anticorpos contra o novo coronavírus. Ou seja, ainda há muita gente susceptível ao adoecimento, o que exige cautela nesta fase de flexibilização das medidas restritivas. O estudo Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional (Epicovid19-BR) teve os resultados divulgados no último dia 2, com achados que surpreenderam os próprios pesquisadores. Em coletiva de imprensa, o coordenador da pesquisa e reitor da UFPel, Pedro Hallal, destacou que a novidade do estudo é que 91% dos entrevistados apresentaram sintomas, diferentemente de outros levantamentos. Outro dado relevante é que, entre as 2.064 mil pessoas testadas positivo, 62,9% tiveram alteração de olfato e paladar – o sintoma mais comum entre todos os outros relatados pelos participantes.
Esse percentual, encontrado na população brasileira, corrobora os achados de outras pesquisas ao redor do mundo que confirmam o elo entre covid-19, perda de paladar e de olfato. Há pouco menos de um mês, um consórcio científico (Global Consortium of Chemosensory Researchers) que congrega especialistas de 43 países comprovou que esse sintoma está associado, em maior ou menor grau, à infecção pelo novo coronavírus. O grupo reuniu dados de 4.039 pesquisas traduzidas para 30 idiomas.
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Ainda entre as pessoas que tiveram manifestações da covid-19 no estudo de Pelotas, os outros sintomas (depois de alteração de olfato e paladar) que foram relatados por mais da metade das pessoas com anticorpos foram: dor de cabeça, febre, tosse, e dor no corpo e dor de cabeça. “Estamos dizendo que os sintomas da covid-19 aparecem, e isso é bom para as autoridades locais desenvolverem protocolos para identificar esses sinais. Mas não quer dizer que cada uma delas necessitará de atendimento hospitalar”, afirmou Pedro Hallal. O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Élcio Franco, destacou que os resultados do estudo devem ser avaliados, pois confrontam com os de outros estudos. “Ainda precisaremos de outros elementos para compreender completamente a dinâmica da doença no território. Os dados trazidos pela UFPel serão confrontados com outros estudos. Mas certamente é contribuição do Brasil para comunidade científica internacional”, comentou.
A letalidade (número de mortes por total de casos da doença) no Brasil encontrada na pesquisa foi de 1,15% – uma taxa menor do que a apresentada, na sexta-feira (3), pelo boletim do Ministério da Saúde, de 4,1%. Segundo o estudo da UFPel, os óbitos por covid-19 foram obtidos de estatísticas oficiais no dia 20 de junho nas 133 cidades incluídas na pesquisa. O número de infectados foi calculado pela proporção de pessoas com resultado positivo no teste (com correção para validade do teste e delineamento amostral) nas cidades, multiplicado pela soma da população das cidades. Esse cálculo resultou numa letalidade de 1,15%, podendo variar de 1,05% a 1,25% pela margem de erro. Em resumo, de cada 100 pessoas que têm o vírus, uma acaba indo a óbito.
Os 133 municípios foram selecionados por serem os mais populosos das regiões intermediárias. De acordo com os pesquisadores, trata-se do maior estudo epidemiológico do mundo, com uma amostra de quase 90 mil pessoas escolhidas por sorteio. O estudo usou o teste rápido.