Uma pandemia não é um processo linear. Com essa frase, o epidemiologista Wanderson Oliveira, ex-secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, traça um raciocínio para explicar a análise sobre os seis meses da confirmação dos primeiros casos de covid-19 em Pernambuco, ocorrida em 12 de março. Nesse período, o conhecimento sobre o novo coronavírus evoluiu, a assistência hospitalar, a vigilância e os cuidados com casos leves foram intensificados, a adoção de medidas preventivas, incorporadas ao dia a dia e a testagem, ampliada. Com isso, Wanderson Oliveira comparou a letalidade (mede a gravidade da infecção e a chance de pessoa com covid-19 ir a óbito) no início da epidemia no Estado com a taxa atual. Pelo estudo do epidemiologista, em uma das semanas de março, esse índice chegou a 16,9% e caiu para 14,1% no início de abril, quando a testagem começou a ser ampliada. Pela análise, considerando a última semana de agosto, a letalidade caiu para 1% em Pernambuco.
Ao considerar o acumulado de casos e óbitos desde o início da epidemia no Estado, a letalidade está em 5,7%. "É consequência do período em que houve maior transmissão do novo coronavírus e maior positividade (nos exames). Isso significa que, no período de maior número de casos, os que eram testados davam positivo em sua maioria. E eram casos graves. A situação atual está diferente, pois a positividade é menor, mesmo se processando mais testes. Por isso que, quando separei a análise por semana epidemiológica, vi que a letalidade agora é de 1%", esclareceu Wanderson Oliveira. Nesta sexta-feira (11), ele esteve no Recife para apresentar o trabalho que fez para traçar um panorama dos seis meses de covid-19 no Estado. Os dados foram divulgados em coletiva de imprensa transmitida pela internet.
Com a explanação, ele demonstrou que, ao longo do tempo, Pernambuco foi ampliando a testagem e diminuindo a letalidade. Para exemplificar, ele citou a 18ª semana epidemiológica (a última de abril), quando essa taxa estava em 14%, com positividade de 66% (em cada 100 exames, 66 apresentavam detecção do vírus). "Já na 35ª semana (de 23 a 29 de agosto), a positividade estava em 14%, e a letalidade em 1%, que é o padrão esperado para a doença." Atualmente só o Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) tem capacidade para processar diariamente até 3,2 mil testes. Até pouco tempo, esse número era de apenas 800 amostras diárias. Para Wanderson Oliveira, esse cenário também demonstra que, por mais que se façam exames para detecção do vírus, eles vão dar cada vez mais negativos, considerando ainda o fato de o vírus estar circulando menos. "Então, o adoecimento pode ser por outra causa, como influenza, VSR (vírus sincicial respiratório), metapneumovírus e até outros tipos de coronavírus, que são responsáveis por cerca de um terço das gripes todos os anos", explicou.
Apesar dos indicadores em tendência de queda no Estado, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, destacou que, até ser produzida uma vacina segura e eficaz para aplicação em massa, a população precisa aprender a conviver com o novo coronavírus, adotando cuidados incorporados ao cotidiano. "Mesmo com a retomada de diversos setores da economia, os indicadores da pandemia vêm registrando uma queda progressiva. Isso é claramente visto na rede hospitalar. Os leitos dedicados à covid-19, que viveram em maio e junho constante ocupação, apresentam tendência de diminuição permanente na ocupação, alcançando patamares de antes da aceleração da pandemia em Pernambuco", frisou Longo.
Ainda durante a coletiva, o secretário reforçou que o enfrentamento à pandemia depende das atitudes coletivas. "Todos gostaríamos de voltar a ter uma vida normal, mas ela não existe quando se tem circulação de um vírus que causa sofrimento e pode levar à morte. Pernambuco continua firme no combate. Isto não é um retrato, ainda estamos vivendo um filme. Precisamos que todos incorporem um sentimento altruísta, e não egoísta", salientou o gestor, ao se referir especialmente ao comportamento adotado, no feriadão, pela população, que lotou as praias.
O secretário lembrou que a higienização das mãos, o uso correto da máscara e o cumprimento do distanciamento social devem se manter durante o processo de convivência com a pandemia. "É (um momento) diferente do isolamento social pregado anteriormente e do 'fique em casa' obrigatório. Agora, falamos em respeitar o distanciamento social. Tudo isso é questão de compromisso e cuidado com quem está à nossa volta", salientou.
Também durante a coletiva, o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia, sublinhou que a pandemia não acabou e que todos devem continuar vigilantes. "Temos riscos permanentes e precisamos continuar atentos a todos eles, além de ter um olhar diferenciado para populações com maior vulnerabilidade social ou biológica, determinada pela idade ou presença de comorbidades."