Cinthya Leite
Publicado em 18/11/2020 às 23:08
A situação vivenciada atualmente pelas unidades de saúde, que recebem cada vez mais pacientes com sintomas de covid-19 dia após dia, começa a ser refletida nos boletins epidemiológicos oficiais. Nesta quarta-feira (18), por exemplo, o Recife voltou a confirmar mais de 200 novos casos da doença num único dia, após ter 49 dias consecutivos de registros entre 2 e 192 casos. A última vez que a capital pernambucana ultrapassou a marca diária de 200 confirmações da infecção pelo novo coronavírus foi em 29 de setembro, com 273 registros. E nesta quarta-feira, 208 novos testes positivos apareceram no boletim da Secretaria de Saúde do Recife (Sesau). Com isso, a atual semana epidemiológica, de número 47 (iniciada no último dia 15, com término no dia 21), totaliza 735 casos e já ultrapassa o número de infecções confirmadas na semana anterior, a de número 46 (8 a 14 deste mês), quando 722 pessoas receberam o diagnóstico positivo da doença.
Paralelamente a esse recorte de casos totais (inclui a soma dos quadros graves com os leves), o Recife volta a aparecer, no boletim da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES), em primeiro lugar entre as cidades do Estado com o maior número de moradores internados com síndrome respiratória aguda grave (srag) confirmada para covid-19. Até esta quarta-feira (18), 121 residentes da capital (com diagnóstico positivo da doença, sem contar com os suspeitos) estavam em leito de enfermaria ou de terapia intensiva (UTI). É mais que o dobro do município que aparece em seguida, Paulista (Região Metropolitana), com 55 residentes que apresentam srag confirmada para covid-19 e ocupam uma vaga de enfermaria ou UTI.
A reportagem do JC entrou em contato com a Sesau para saber a avaliação da prefeitura sobre o fato de a cidade voltar a despontar nessa lista. Em nota, a assessoria de comunicação da pasta resumiu que, "do total de pacientes internados, na segunda-feira (16), no Hospital Provisório Recife 1 (em Santo Amaro, área central), 43% são do Recife. Os demais são oriundos de outros municípios da Região Metropolitana, Zona da Mata e Agreste". A nota não fez alusão a moradores da capital e não trouxe a avaliação sobre o aumento de residentes da cidade internados com covid-19, como mostra o boletim da SES. Estão hoje ocupados 76 dos 116 leitos municipais dedicados a casos suspeitos e confirmados da doença.
Uma análise dos dados do Estado também revelam que os indicadores da covid-19 não são mais os mesmos do período de estabilidade e tendência de queda dos casos. A 46ª semana epidemiológica confirmou 4.631 novas confirmações da infecção pelo novo coronavírus; a anterior (45ª) teve 3.029 confirmações. "Em novembro, o cenário epidemiológico do Estado volta a ser extremamente preocupante, após um processo de estabilidade de casos em níveis elevados com tendência de queda na capital. A realidade é que, em Pernambuco, a situação nunca chegou a níveis confortáveis", explica o médico sanitarista Tiago Feitosa, doutor em Saúde Pública. Ele esclarece que o momento vivenciado agora não se trata de segunda onda da covid-19, como tem ocorrido na Europa. "Existe atualmente um repique da primeira onda, que nunca foi controlada. O que temos agora é a tendência de aumento de casos", acrescenta.
O médico pneumologista Murilo Guimarães ressalta que esse incremento nos quadros da doença tem se tornado cada vez mais claro nos hospitais e no dia a dia dos consultórios. "Voltamos a ver mais pacientes doentes, mas que apresentam uma menor gravidade do que no primeiro momento (pico da pandemia no Estado, em maio). Outro detalhe é que a maior frequência tem sido nos adultos jovens. Contudo, há pessoas que continuam precisando de UTI, principalmente os idosos", destaca Murilo, com a certeza de que os cuidados devem permanecer porque a pandemia não desacelerou.
Os casos de síndrome respiratória aguda grave (srag) positivos para covid-19, por semana epidemiológica, também têm aumentado em Pernambuco. Essa é uma das análises levadas em consideração, pelas autoridades sanitárias do Estado, para medir as oscilações da pandemia. Na 45ª semana, de 1º a 7 de novembro, foram notificados 685 quadros de srag, com 212 confirmações para covid; na anterior, a 44ª (25 a 31 de outubro), foram registrados 646 casos de srag, com 198 confirmações.
A última semana, a de número 46 (8 a 14 de novembro), ainda recebe um volume de atualizações ao longo dos próximos dias, já que há as notificações geralmente não entram de imediato no sistema. Por enquanto, naquele período, foram 500 confirmações de srag, com 156 confirmações para a infecção pelo novo coronavírus.
Para evitar a superlotação dos leitos destinados a esses pacientes, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) tem aberto novos leitos de enfermaria e de terapia intensiva (UTI). Na última quinta-feira (12), foram ativados 77 vagas - sendo 40 de UTI e 37 de enfermaria nos hospitais Maria Vitória, no bairro de Areias, e Evangélico, na Torre, ambos na Zona Oeste do Recife.
"Com a abertura dessas novas vagas, a taxa de ocupação irá para patamares menores. Ao longo dos últimos meses, com a redução da demanda e para evitar a ociosidade, mais de 1.500 leitos foram bloqueados. Dessa forma, com índices baixos e menor disponibilidade de leitos, devido à desmobilização, qualquer flutuação nos dados, causa mudanças significativas nas taxas de ocupação. No entanto, nosso plano de contingência prevê o desbloqueio e reconversão de leitos, se alcançado o percentual de 80%", disse o secretário Estadual de Saúde, André Longo.