Com a pandemia de covid-19, o número de doadores de transplantes de órgãos e tecidos diminuiu ao longo de 2020. Além disso, procedimentos que não são considerados urgentes foram suspensos. Isso fez aumentar a fila de espera pelo procedimento. A esperança despontou no primeiro semestre deste ano, quando mais pessoas conseguiram um sim para mudar a qualidade de vida através dos transplantes. Apenas entre janeiro e junho deste ano, foram 616 transplantes de órgãos e tecidos realizados em Pernambuco, um aumento de 45,6%, em comparação com o mesmo período do ano anterior (423).
Nos primeiros seis meses de 2021, foram realizados 309 transplantes de córnea, 122 de rim, 111 de medula óssea, 54 de fígado, 16 de coração, 3 de válvula cardíaca e 1 de fígado/rim, totalizando 616 procedimentos. Já a fila de espera por um órgão ou tecido possui 1.936 pacientes, sendo 1.150 aguardando um rim, 583 córnea, 121 fígado, 44 medula óssea, 21 rim/pâncreas e 17 coração.
"A pandemia diminuiu as ocorrências que levavam uma pessoa a ser um potencial doador. Além disso, foram impostos diversos desafios e novas condições para que pudéssemos confirmar que uma pessoa poderia fazer a doação e também para obter a autorização familiar. Aprendemos muito em 2020 e estamos avançando a cada dia para dar esperança àqueles que precisam de um órgão e tecido para viver e ter uma vida mais plena", afirma a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE), Noemy Gomes.
Para se ter uma ideia, houve um aumento de 100% nos transplantes de coração: foram 8 no primeiro semestre de 2020 e 16 no mesmo período de 2021. Já os procedimentos de rim cresceram 64,9% (74 em 2020 e 122 em 2021). Córnea (53,7%), fígado (45,9%) e medula óssea (15,6%) também tiveram o número de procedimentos ampliado. "Ainda não estamos em patamares de anos antes da pandemia, mas esse reaquecimento precisa ser celebrado, pois são mais pessoas saindo da fila de espera e ganhando qualidade de vida", frisa Noemy.
Atualmente, se for confirmada a covid-19, o potencial doador perde esse status, não podendo doar. "Além do exame laboratorial, também fazemos uma entrevista com os parentes. Se houver algum indicativo de contato recente com pessoa confirmada para a doença ou sintoma sugestivo, essa doação, por segurança, também é inviabilizada", explica.
A coordenadora da CT-PE, que é enfermeira, ainda lembra da nova forma de abordar as famílias, que são as responsáveis por autorizar a doação de órgãos e tecidos do ente querido. "A pandemia modificou a dinâmica hospitalar, restringindo visitas para evitar contaminações. Com isso, tivemos que aprender a fazer a abordagem a distância, sem o contato olho a olho e as interações que surgem a partir das conversas ao vivo." Ela ressalta que atualmente se faz uso das ligações ou chamadas de vídeo para auxiliar nesse processo, "acolhendo o familiar neste momento de extrema dor e informando sobre a possibilidade de exercer o direito da doação, podendo salvar vidas".
Segundo Noemy, também foram retomados os acolhimentos presenciais seguindo os protocolos de segurança. "Estamos em constante processo de melhoria dessas entrevistas para que os familiares possam ter todas as informações necessárias para tomar a sua decisão (de doar os órgãos do parente ou não)", salienta. Ela lembra que, no Brasil, a autorização é dada por um familiar de até segundo grau, sendo importante o indivíduo externar em vida sua vontade de ser doador de órgãos e tecidos.
Em portaria publicada recentemente, o Ministério da Saúde modificou a idade limite para cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), que agrega as pessoas cadastradas para doação desse tecido. A partir de agora, só serão aceitos novos cadastros de pessoas entre 18 e 35 anos - anteriormente era até 55. O cadastrado permanece ativo nesse banco até os 60 anos, e todos aqueles que se inscreveram anteriormente, mesmo com mais de 35 anos, continuam podendo doar.
"A doação da medula óssea só ocorre quando há compatibilidade entre o doador e a pessoa em fila. Essa compatibilidade é rara. Por isso, vem a importância do cadastro no Redome, que faz essa triagem do público e possibilita a doação para qualquer Estado do País", destaca Normey Gomes.
Em Pernambuco, o cadastro no Redome é feito pelo Hemope. Na instituição, além das informações gerais e autorização, é feita a retirada de uma pequena quantidade de sangue, que será analisado em laboratório para identificar características genéticas que vão ser cruzadas com dados de pacientes que necessitam de transplantes, sendo possível determinar uma possível compatibilidade.