A partir do consentimento da doação de órgãos, famílias conseguem representar o real significado da generosidade. Além disso, os profissionais que se dedicam a esta causa colocam em prática a arte de zelo ao próximo e de levar esperança a quem precisa recomeçar a vida. Essas mensagens sintetizam a celebração realizada na noite desta quinta-feira (19), no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, para marcar os 30 anos do primeiro transplante cardíaco do Estado — realizado no Real Hospital Português (RHP), em agosto de 1991, pelo cirurgião Carlos Moraes.
Nomes da área de saúde, colegas e parentes do médico participaram da solenidade, que seguiu os protocolos sanitários para evitar a transmissão do coronavírus. A cerimônia foi marcada por depoimentos e homenagens não apenas a Carlos Moraes, presente na ocasião, mas também a demais profissionais que cruzaram o caminho do médico na trajetória do transplante cardíaco no Estado.
"Dias de glórias vêm com os dias de luta. A gente vem aprendendo sobre a forma com que a grandiosidade de um trabalho feito por muitas mãos pode atingir. Estar como coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco (CT-PE) tem sido um dos maiores desafios da minha vida profissional como enfermeira. Então agradeço por este reconhecimento. Sozinha não faço absolutamente nada", disse Noemy Gomes, ao ser homenageada durante o evento.
"Gratidão também aos profissionais das OPO (organização de procura de órgãos) e CIHDOTT (Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante). Diariamente eles cumprem a nobre missão de acolher o sofrimento alheio e conseguir transformar certidões de óbito em certidões de nascimento", ressaltou Noemy.
Trajetória
Desde o primeiro transplante cardíaco de Pernambuco, realizado em agosto de 1991, Carlos Moraes soma 221 pacientes, de diversas faixas etárias, que passaram por esse procedimento e ganharam nova força no RHP, por terem recebido um novo coração, sob os cuidados da equipe comandada pelo médico. Os procedimentos também só foram possíveis porque famílias conseguiram se deixar tocar pela generosidade e dizer sim à doação de órgãos. É um consentimento que possibilita a transformação da dor da morte no renascimento de outras vidas.
"Nunca interrompemos o programa nestes 30 anos", frisa Carlos Moraes, que também instituiu, em 2012, o programa de transplante cardíaco do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), na Boa Vista, área central do Recife. Na instituição, de 2012 a 2014, a equipe do médico realizou 49 transplantes de coração, sendo seis deles em crianças.
"Meu filho (o também cirurgião Fernando Moraes) sempre fala que, nos últimos 30 anos, nós permanecemos em sobreaviso. E graças a essa condição, conseguimos, além de realizar os transplantes de coração, beneficiar muitos outros pacientes que nem precisam desse procedimento. Sabe por quê? Somos uma equipe acostumada a tratar doentes graves. Então, quem chega ao hospital numa condição mais severa também conta com nosso apoio, porque sempre há plantonistas do nosso programa à disposição", relata Carlos. Para isso, ele diz contar sempre com um grande apoio do RHP.