Pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Inovação Terapêutica-Suely Galdino (Nupit-SG) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e do Instituto Aggeu Magalhães (unidade da Fiocruz no Estado) alertam para o que consideram “sensível aumento proporcional” de casos de pessoas infectadas pela variante delta do coronavírus em Caruaru, no Agreste de Pernambuco.
A preocupação é decorrente dos dados de uma pesquisa, realizada pelo núcleo no município, no período de 3 de setembro a 20 deste mês, a partir da coleta de 87 amostras de secreção por meio de hastes (swab) e que apontam que, diferentemente do indicava o rastreio realizado há cinco meses, os casos da delta predominam em relação aos da variante gama (P.1).
“Chama atenção o fato de, no mês de maio, ter sido realizada um amplo rastreio entre paciente internados em UTIs e em salas de setor vermelho, e os dados anteriores mostrarem um grande predomínio da variante P.1, e o que se observa agora é um sensível aumento proporcional dos casos da delta, entre pacientes com sintomas leves e boa parte deles vacinados, ainda que a quantidade de amostras caracterizadas tenha sido pequena", relata a nota técnica produzida no âmbito do convênio de monitoramento epidemiológico de variantes do vírus SARS- Cov-2 para melhor controle da pandemia da covid-19, firmado entre a UFPE e a Prefeitura de Caruaru.
Leia a íntegra da nota técnica:
"Casos da variante Delta de SARS-CoV-2 aumentam no município de Caruaru-PE
Em junho de 2021, foi assinado o convênio intitulado “Monitoramento Epidemiológico de Variantes do Vírus SARS-CoV-2 para Melhor Controle da Pandemia da covid-19” entre a UFPE e a Prefeitura de Caruaru. O monitoramento epidemiológico de novas variantes do SARS-CoV-2 é imprescindível para avaliação do impacto da transmissibilidade, da gravidade da doença, além de promover medidas de saúde pública mais seguras e eficazes para os gestores dos municípios. Um total de 87 amostras de swab coletadas entre 03 de setembro e 20 de outubro de 2021 foi encaminhado pelo município de Caruaru ao Núcleo de Pesquisa em Inovação Terapêutica – Suely Galdino (Nupit-SG), na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). As amostras foram processadas e testadas por RT-PCR.
Aquelas com resultado positivo e que atenderam a alguns critérios técnicos seguiram para a determinação da variante. A caracterização molecular ocorreu a partir de dois métodos distintos: por sequenciamento do material genômico do vírus, realizado em parceria com o Instituto Aggeu Magalhães (IAM/Fiocruz PE), e por sistemas de primers e sondas específicos para mutações no RNA viral (discriminação alélica), através da tecnologia de PCR multiplex em tempo real, realizado no Nupit-SG. Além da alta eficiência e confiabilidade, o método molecular implantado no Nupit- SG possui a vantagem de fornecer uma resposta rápida quando comparado ao sequenciamento genômico 1-4. Das 27 amostras positivas submetidas à determinação molecular, 21 (77,8%) foram caracterizadas como a variante indiana (Delta - B.1.617.2) e apenas seis (22,2%) como a amazônica (P.1). Discriminando por método, pelo sequenciamento foram oito amostras caracterizadas como Delta e cinco como P.1, e pelos sistemas de PCR multiplex, 13 amostras foram caracterizadas como Delta e uma como P.1. Desse total de amostras, cinco caracterizadas como Delta pelo sequenciamento foram testadas pelo sistema PCR multiplex e todos os resultados concordaram.
Chama atenção o fato de, no mês de maio, ter sido realizado um amplo rastreio entre paciente internados em UTIs e em salas de setor vermelho e os dados anteriores mostrarem um grande predomínio da variante P.1, e o que se observa agora é um sensível aumento proporcional dos casos da Delta, entre pacientes com sintomas leves e boa parte deles vacinados, ainda que a quantidade de amostras caracterizadas tenha sido pequena. O projeto de monitoramento é contínuo e faremos um acompanhamento das variantes prevalentes no município de Caruaru até o próximo ano. Dentre os 21 casos de Delta, dois pacientes não haviam tomado nenhuma dose de vacina contra a covid-19, dez pacientes haviam recebido apenas a primeira dose da vacina, e nove haviam recebido o esquema vacinal completo (duas doses ou dose única). Devido à coleta direcionada para indivíduos sintomáticos, todos apresentavam sintomas tais como dor de cabeça, febre, dor de garganta, coriza e fraqueza no momento da coleta.
É importante salientar que dos cinco pacientes que apresentaram sintomas respiratórios, nenhum possuía o esquema de vacinação completo, sendo que quatro haviam recebido apenas uma dose e um não havia recebido nenhuma dose de vacina anti-covid-19. As idades dos pacientes variaram consideravelmente, estando entre 18 e 70 anos. Há um amplo esforço do município para que haja o alcance do maior número possível de pessoas com o esquema vacinal completo dentro do prazo, por isso existe uma busca ativa vigorosa, por meio de visitas domiciliares e uma descentralização dos pontos de vacinação. Apesar disso, frisamos a importância da manutenção desta vigilância epidemiológica, uma vez que a partir desses dados, medidas preventivas poderão ser aplicadas precocemente, evitando assim o aumento descontrolado dos casos no município. Mesmo indivíduos já vacinados devem manter os cuidados contra a covid-19, tais como evitar aglomerações, usar máscara e lavar sempre as mãos."