O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, informou durante coletiva, nesta segunda-feira (20), que o Estado confirmou a primeira morte do ano por influenza A (H3N2).
A morte foi de um paciente de 46 anos, residente no Recife. O homem apresentou quadro de falta de ar em 9 de dezembro, buscou atendimento em uma UPA no dia seguinte. Foi intubado e transferido para a unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Agamenon Magalhães (HAM). Ele faleceu no último domingo (19). O homem, segundo o governo estadual, tinha doença renal crônica, teve o exame para covid-19 negativo e fez posteriormente o da influenza.
O vírus influenza A H3N2 tem causado surtos de gripe em outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia.
Segundo Longo, o Estado registrou 43 casos positivos para esse vírus, sendo 42 confirmados laboratorialmente e um por critério clínico-epidemiológico. "Podemos afirmar que já há circulação comunitária da influenza em Pernambuco", disse o secretário.
Os pacientes são oriundos de 14 municípios, espalhados por todas as regiões do Estado, além de um de Niterói (RJ). Com isso, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) afirma que já há circulação comunitária em Pernambuco desse tipo de influenza, que circula de forma sazonal, ou seja, de tempos em tempos. Uma nota técnica foi liberada nesta segunda com orientação para os serviços de saúde sobre como proceder para notificação e tratamento dos casos, além de informações sobre medidas de prevenção.
“Precisamos lembrar que a influenza é uma doença sazonal, que já vem sendo confirmada em diversos Estados brasileiros. Apesar de preocupante, a circulação da influenza A (H3N2) deve ter uma menor repercussão em casos graves e internamentos quando comparadas às ocorrências da Covid-19. Precisamos, neste momento, de uma atenção redobrada, principalmente para as crianças, os idosos e pessoas com comorbidades severas, já que são grupos com maior risco para agravamento pela influenza”, ressaltou Longo.
O secretário de Saúde também afirmou que foi comunicado, neste último final de semana, por unidades privadas de saúde e por Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), do aumento de pacientes com sintomas gripais, quadros que podem ser provocados por diversos vírus, como a covid-19 e a influenza, além de outros agentes.
O gestor em Saúde explica que o vírus deve ter passado a circular de forma mais intensa em Pernambuco nos últimos dez dias, mas isso não significa que não havia Influenza circulando antes desse período.
"Essa rodada (de confirmação laboratorial) trouxe os 42 casos e refletiu em casos de SRAG e um óbito, além de casos de síndrome gripal. Há circulação comunitária de H3N2, reforçando a necessidade de medidas de proteção. É importante reforçar o uso de máscara. Se você está com coriza, pega o coletivo, vai ao trabalho, precisamos aprender a não fazer isso. É um equívoco grave, pode estar transmitindo o vírus. Coloque a máscara e faça isolamento, testagem", falou Longo na coletiva desta tarde.
Confira a coletiva
A indicação é realizar a testagem em pessoas sintomáticas para, inicialmente, verificar se é um caso de covid.
Descartando a hipótese de coronavírus, o secretário reforça a necessidade de testagem para Influenza. Assim, o Estado deve ter um panorama mais aproximado do número real de casos e poderá agir de forma mais assertiva.
André Longo lamentou, durante a coletiva, que Pernambuco não tenha alcançado a meta de vacinação contra Influenza na campanha deste ano. "É preciso reforçar a vacinação contra a Influenza. Na campanha deste ano, reforçamos que os grupos vulneráveis deveriam tomar a vacina primeiro e depois a população em geral. Enviamos aos municípios 3,8 milhões de doses e 2,7 milhões foram utilizadas. Não batemos a meta de vacinação para a Influenza. É importante que, ainda havendo vacina nos municípios, que possa se aplicar, especialmente nesse grupo prioritário", destacou o secretário.
O infectologista Demetrius Montenegro, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), participou da coletiva e destacou que os sintomas da Influenza H3N2 são muito semelhantes aos de covid, em especial aos sintomas da variante ômicron.
"A sintomatologia das duas doenças vão ser muito semelhantes, principalmente com a sintomatologia que a variante ômicron pode desencadear. Na Europa é dominante a variante e no Brasil já há circulação e ela vai entrar em Pernambuco e complicar um pouco mais essa relação entre covid e influenza", comentou.
Demetrius disse que os principais sintomas semelhantes são congestão nasal, dor no corpo, febre. "As outras variantes traziam muita tosse seca, mas agora é congestão e isso confunde muito", comentou.
Dos 42 casos confirmados de influenza A (H3N2) laboratorialmente desde o sábado, 9 são casos de Srag, com 6 internados em enfermaria, 2 em UTI e 1 óbito.
Também foram localizados 12 registros no sistema e-SUS, utilizado para registro de casos leves, a partir de informações que já estavam baixadas na SES-PE. Os demais, provavelmente também do e-SUS, não foram localizados, já que o sistema do Ministério da Saúde (MS) está fora do ar.
Os pacientes confirmados para a Influenza A (H3N2) são dos municípios do Recife (17), Caruaru (4), Igarassu (4), Jaboatão dos Guararapes (4), Cabo de Santo Agostinho (2), Olinda (2), Camaragibe (1), Carpina (1), Ipojuca (1), Itambé (1), Moreno (1), Ribeirão (1), Santa Terezinha (1) e Vitoria de Santo Antão (1), além de Niterói (1), no Rio de Janeiro, e mais 1 do Recife pelo critério clínico-epidemiológico.
As faixas etárias são: 5 (12%) menores de 18 anos; 17 (40%) de 18 e 39 anos; 15 (36%) com 40 a 59 anos e 5 (12%) com 60 anos ou mais; além do caso confirmado por critério clínico-epidemiológico (48 anos).
O aumento do número de casos de gripe é um fenômeno que se repete ano após ano durante o outono e o inverno de cada hemisfério, mas, em 2021, especialistas foram surpreendidos por uma epidemia que começou no Rio de Janeiro em plena primavera. Coordenador do grupo que monitora os dados de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e publica o Boletim InfoGripe na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcelo Gomes explica que as causas da epidemia são múltiplas e estão relacionadas à pandemia de covid-19.
Quando 2020 começou, lembra Gomes, os dados apontavam um ano com forte incidência do vírus Influenza no país, com aumento precoce de casos no Norte e no Sudeste já antes do início do outono. O início da pandemia de SARS-CoV-2 e a adoção do isolamento social e outras medidas preventivas, porém, atropelaram esse processo, fazendo com que os casos de influenza praticamente desaparecessem. “Esses outros vírus respiratórios são menos transmissíveis que o SARS-CoV-2, então, o impacto das medidas de prevenção neles é muito maior”, explica.
Como resultado, os surtos de gripe sazonais não ocorreram em 2020 e 2021. Se, por um lado, isso evitou que mais leitos fossem ocupados por pacientes com SRAG durante períodos críticos da pandemia de covid-19, por outro, a população ficou sem contato com o vírus da gripe e não desenvolveu defesa imunológica.
“A gente não teve a exposição natural, e isso nos deixa mais suscetíveis. Isso foi bom, porque teríamos tido, junto com a covid, as internações por influenza, e isso teria sido muito pior do que já foi, mas tem esse saldo negativo”, destaca o pesquisador.
Segundo Gomes, quando as medidas de prevenção contra a covid-19 começaram a ser cada vez mais flexibilizadas ao longo deste semestre, essa população suscetível foi exposta a outros vírus respiratórios, o que resultou no aumento de casos de vírus sincicial respiratório em crianças e também na epidemia de influenza no Rio de Janeiro.
Além de ser atípica, a epidemia é causada por uma cepa nova do vírus Influenza A Subtipo H3N2, chamada de cepa Darwin, por ter sido descoberta em uma cidade australiana que tem esse nome. A cepa Darwin ganhou força no último inverno do Hemisfério Norte, e o fato de os surtos no Brasil terem começado no Rio de Janeiro no segundo semestre de 2021 pode ter relação com fluxo de viajantes internacionais, considera Gomes.
Gomes pede atenção para que uma epidemia nacional de influenza não coincida com a disseminação da variante Ômicron do SARS-CoV-2 no país.
“A gente ainda não sabe muito bem qual vai ser o impacto dessa variante no Brasil. Tem que tomar um cuidado muito grande neste momento, para não criar um cenário favorável a uma epidemia simultânea, com aumento tanto da covid quanto de gripe. Aí, a gente pode ter uma pressão hospitalar muito grande, porque são dois vírus que têm histórico de causar internações".
Para a diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Flávia Bravo, o grande número de casos de gripe também está relacionado à cepa Darwin do H3N2, que não está entre as variantes do Influenza cobertas na vacina disponível nos postos de saúde e clínicas privadas.
André Longo também falou sobre o assunto na coletiva do Governo de Pernambuco. "Esta cepa H3N2 não estava no rol de vírus que compuseram a vacina da gripe deste ano. Então a (atual) vacina não protege da infecção". O infectologista Demetrius Montenegro completou: "A preocupação da circulação se dá porque muita gente se vacinou contra influenza. Então, se tivesse efeito adequado não teria a explosão toda (de casos)". Sem a defesa adequada, no momento, ele recomenda o contínuo uso de máscara, isolamento de sete dias em caso de sintomas e reforça a necessidade de diagnóstico.
A vacina contra a gripe inclui um grupo de cepas que pode ser atualizado até duas vezes por ano, com base no monitoramento feito ao redor do mundo sobre quais variantes estão predominando naquele momento. Como o vírus da gripe muda de forma acelerada, essa atualização precisa ser concluída a tempo de disponibilizar uma vacina adequada para proteger a população nos próximos outono e inverno de cada hemisfério, estações que historicamente concentram o maior número de casos de gripe por causa do clima mais frio.
Nesse sentido, é a Organização Mundial da Saúde (OMS) que reúne os dados sobre as cepas dominantes no mundo e recomenda aos laboratórios quais vacinas devem ser entregues ao Hemisfério Sul, a partir de março, e ao Hemisfério Norte, a partir de setembro, cobrindo outono e inverno de cada metade do planeta. No caso do Brasil, o Instituto Butantan entregou 80 milhões de doses ao Ministério da Saúde neste ano com base na recomendação dada pela OMS em setembro de 2020, quando a variante Darwin ainda não predominava, e a cepa Hong Kong era a principal preocupação no caso do H3N2.
A incidência da variante Darwin também não foi detectada a tempo de produzir as vacinas que estão sendo usadas no Hemisfério Norte neste momento, produzidas com base em recomendação divulgada no primeiro semestre deste ano. Já as próximas vacinas que serão entregues ao Hemisfério Sul, em 2022, devem trazer uma proteção específica contra essa cepa, seguindo recomendação da OMS divulgada no mês de setembro.
Com informações da Agência Brasil