A partir desta terça-feira (8), o uso de máscaras em espaços fechados no Rio de Janeiro (RJ) não será mais obrigatório. O anúncio foi feito pelo prefeito Eduardo Paes, em nota publicada em uma rede social após reunião com o Comitê Científico do Município.
Na visão da infectologista Vera Magalhães, que concedeu entrevista à Rádio Jornal sobre o assunto, ainda é cedo para o fim da obrigatoriedade do item de proteção.
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"Não podemos flexibilizar o uso de máscara enquanto não tivermos uma vacina que promova a chamada imunidade esterilizante, como a do sarampo, onde, se vacinando, mais de 95% das pessoas não se infectarão com o vírus. Nossa vacina é essencial, conseguiu diminuir o risco da gravidade da doença, da morte pela covid, mas não impediu a transmissão para pessoas vacinadas. Então, é necessário o desenvolvimento de novas versões da vacina que promovam essa imunidade. Enquanto houver circulação viral, haverá desenvolvimento de variantes. A nova variante BA.2 está disseminada no mundo e no Brasil, isso é só uma amostra", disse.
Acredito que o uso de máscara precisa ser estimulado, mesmo que achem cansativo, não é fácil usar máscara, mas é muito pior a covidVera Magalhães, infectologista
O uso de máscaras para evitar a transmissão da covid-19 já era facultativo em espaço aberto no Rio de Janeiro desde outubro. "Cumprindo as determinações do Comitê Científico, amanhã sai decreto acabando com a obrigatoriedade de máscara em espaços abertos e fechados", escreveu o prefeito. "Com um esforço para vacinar aqueles que podem tomar a dose de reforço, em três semanas acabamos também com o passaporte."
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, justificou a decisão explicando que o Rio tem a menor taxa de transmissão do Sars-CoV2 desde o início da pandemia, de 0,3. O porcentual de testes de diagnóstico dando positivo também está baixo, menor do que 5%, com uma redução gradativa ao longo da semana.
Na visão de Vera Magalhães, não se pode pensar na covid de forma isolada, olhando apenas para os números de um local específico. "É preciso pensar prevenção do ponto de vista global, precisa de cobertura vacinal igualitária. Ou teremos sempre novas variantes. Por isso, vacina e uso de máscara não pode ser flexibilizado. A flexibilização de outras atividades até pode ocorrer, mas não podemos ver apenas o Rio de Janeiro, São Paulo. Cada um toma sua decisão de acordo com o índice de vacinação local, mas a covid é uma doença global. Mesmo que em primeiro momento eles se sintam protegidos, pode ocorrer como nos Estados Unidos, onde liberaram o uso de máscara de forma precoce e promoveu maior aumento dos casos. No Brasil, há desigualdade enorme de vacinação, são só 30% da dose de reforço e ela é fundamental em relação a ômicron e novas variantes, então não tem sentido ainda", disse a infectologista.
Crianças
A especialista lembrou que crianças abaixo de cinco anos ainda não possuem vacina disponível. "É uma faixa etária vulnerável, houve aumento da morte dessas crianças, inclusive com Síndrome Respiratória Aguda Grave, nos idosos, também. Então, a imunidade da vacina atual é transitória, acredita-se que sejam seis meses, talvez mais pela imunidade celular, mas não é duradoura, tudo isso a gente tem que pensar, precisa diminuir a transmissão viral, pela vacina e pela máscara", afirmou.
Do ponto de vista técnico, não se sustenta abolir máscara, pois a vacina precisa ser mais abrangente, precisa de cobertura global e de uma nova versão da vacina que confira imunidade esterilizante, que a transmissão seja interrompida. Enquanto não ocorrer isso, não pode ser abolido o uso de máscaraVera Magalhães, infectologista
Rio de Janeiro
Em entrevista à CNN Brasil, o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Júlio Croda disse que a situação da pandemia na cidade favorece a decisão da prefeitura do Rio.
“O Rio tem uma cobertura em crianças acima de 50%, o que é maior do que em outras cidades do Brasil. Então, eu acredito que sim, estamos avançando e as medidas individuais devem ser avaliadas em cada contexto epidemiológico e as crianças não têm tanto risco. Acredito que a baixa vacinação não é uma justificativa para manter o uso de máscara, principalmente em escolas, já que o risco de hospitalização e óbitos nessa população é menor do que na população geral”, pontua o especialista.