A depressão é um grande problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, esse cenário não é diferente. No País, segundo o Ministério da Saúde, 11,3% da população apresentam depressão: esse percentual é superior à estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Brasil, de 5,3%. Atualmente, os remédios para depressão incluem os antidepressivos orais diários e o spray nasal de escetamina - considerado uma das principais inovações para o tratamento da depressão.
Da Janssen (empresa farmacêutica da Johnson & Johnson), o spray nasal recebe nome comercial de Spravato (cloridrato de escetamina intranasal) e é indicado para os casos de depressão resistente ao tratamento e para a rápida redução dos sintomas depressivos em pacientes adultos com transtorno depressivo maior, com comportamento ou ideação suicida aguda.
Os casos de depressão resistente ao tratamento são aqueles em que há falha de dois tratamentos anteriores administrados em dose e tempo adequados. Ou seja, o paciente com depressão já fez uso de dois tratamentos e, mesmo assim, não teve melhora do quadro depressivo.
Ainda pouco conhecida, a depressão resistente ao tratamento é um transtorno que impacta cerca de 40% dos pacientes com o transtorno no Brasil. O dado é do estudo observacional TRAL (Treatment-Resistant Depression in America Latina), realizado na América Latina com quase 1,5 mil pacientes.
Para quem tem depressão resistente ao tratamento, o spray nasal, associado ao tratamento padrão, reduziu os sintomas depressivos em até 24 horas após a primeira dose, segundo estudo publicado no The Jornal of Clinical Psychiatry.
O spray nasal de escetamina, Spravato, é o primeiro de sua classe a receber aprovação regulatória da agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos (FDA - Food and Drug Administration) e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O spray nasal para depressão resistente ao tratamento age nos receptores de glutamato N-metil-D-aspartato (NMDA). Dessa forma, o medicamento ajuda a restaurar as conexões sinápticas em células cerebrais de pessoas com depressão.
"Além de ter um início de ação mais rápido do que outros medicamentos disponíveis, o Spravato (spray nasal para depressão resistente ao tratamento) tem o regime de dosagem menos frequente e a administração intranasal facilita a aplicação, por se tratar de uma via não invasiva, e também a metabolização da substância pelo organismo", explica o psiquiatra Humberto Corrêa, professor titular de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Para assegurar o uso correto, a escetamina intranasal (spray nasal) é administrada exclusivamente em hospitais e clínicas autorizadas, sempre sob supervisão de um profissional de saúde.
"Isso tanto para reduzir o risco de uso indevido e abuso, uma vez que a melhora é rápida e significativa, quanto para monitorar efeitos colaterais. Com sua chegada ao Brasil, [Spravato] coloca o País na rota das novas tecnologias, respondendo às necessidades não atendidas de grande importância que são os casos de depressão resistente ao tratamento", ressalta Humberto Corrêa.
Nos estudos (ensaios clínicos), os efeitos colaterais mais comuns incluíram tontura, náusea, sedação, ansiedade, falta de energia, aumento da pressão arterial, vômitos e dissociação.
A aprovação do Spravato para tratar depressão resistente foi baseada num programa de ensaios clínicos que envolveu mais de 1,7 mil adultos com depressão resistente ao tratamento.
Os resultados de curto prazo de quatro semanas, publicados no The American Journal of Psychiatry, com a escetamina intranasal (spray nasal) associada a um antidepressivo oral, mostraram que os pacientes tiveram melhoras superiores nos sintomas da depressão quando comparados àqueles que utilizaram o antidepressivo oral e placebo.
Os resultados do estudo de longo prazo, publicados na JAMA Psychiatry, mostraram que os pacientes que alcançaram um nível de melhora de grande parte dos sintomas incômodos tiveram uma redução de 51% na chance de recaída se continuassem utilizando o spray nasal (tratamento com escetamina intranasal), uma vez a cada duas semanas, em comparação com aqueles pacientes que deixaram de fazer o tratamento continuado com o spray intranasal.
Um frasco de spray nasal de escetamina custa cerca de R$ 2.900 mil por dispositivo.
A dosagem a ser usada e a frequência depende da fase do tratamento e de cada paciente.
É importante frisar, mais uma vez, que a escetamina intranasal (spray nasal Spravato) é administrada exclusivamente em hospitais e clínicas autorizadas, sempre sob supervisão de um profissional de saúde.
Um estudo recente publicado na revista The Lancet mostra que até 80% das pessoas afetadas pela depressão no mundo sequer sabem do diagnóstico.
Já o levantamento realizado pelo Instituto Ipsos, a pedido da Janssen, empresa farmacêutica da Johnson & Johnson, que ouviu 800 pessoas com ou sem relação com a depressão de 11 Estados brasileiros, revelou que, entre os diagnosticados entrevistados, o tempo médio para procurar ajuda foi de 39 meses (três anos e três meses). A demora ocorreu por falta de consciência de se tratar de uma doença (18%), resistência (13%) e medo do julgamento, reação dos outros ou vergonha (13%).
"A demora por buscar tratamento para a depressão pode trazer consequências devastadoras, como a cronificação da doença, agravamento dos sintomas, diminuição da eficácia dos tratamentos, perda de anos produtivos, impacto econômico e severa diminuição da produtividade, e todo um prejuízo em seu convívio familiar e social', frisa a psiquiatra Cintia de Azevedo Marques Périco, professora de psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC e integrante da Comissão de Emergenciais Psiquiátricas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Dados da pesquisa demonstram que ainda há falta de entendimento sobre a gravidade da depressão e o impacto na vida do paciente e de todos ao seu redor.
Só 10% acreditam que a depressão é uma doença com base biológica (e repercussões físicas no corpo). Outros 35% não acham que pode ser tratada com medicamento e 36% acreditam que para superar a doença é preciso força de vontade.
"No senso comum, existe uma banalização daquilo que se entende por ser psicológico, com uma falsa ideia que não precisa de tratamento. No entanto, atualmente sabemos o quanto ter uma função psíquica alterada impacta no indivíduo como um todo. Não tratar a depressão como uma doença grave e que pode resultar em uma emergência psiquiátrica pode trazer sérias consequências para os pacientes e para a própria sociedade", salienta Cintia.
Uma pessoa com depressão tem sintomas e sentimentos que vão muito além da tristeza.
Diante da depressão, o corpo e a mente passam a sentir vários efeitos, como desequilíbrio do sono, angústia, sentimento de culpa, perda de esperança, desânimo, cansaço intenso, e, em casos mais graves, ideações suicidas.
É importante ressaltar que essas emoções e sentimentos desencadeados pela depressão são prejudiciais e limitadores.
Por isso, diante de tristeza, desinteresse, falta de energia, dificuldade para dormir ou manter o sono, é preciso procurar imediatamente ajuda médica.
No Brasil, a depressão tem se tornado um problema de saúde pública.
Os sintomas de depressão podem ser bem variados e podem se apresentar da seguinte forma:
*Os sintomas listados acima devem estar presentes quase todos os dias para serem considerados presentes, com exceção de alteração do peso e ideação suicida.
**Somente um médico pode dar o diagnóstico da depressão, assim como prescrever o tratamento medicamentoso adequado, orientar o encaminhamento para terapia e acompanhar o quadro de cada paciente.