Uma mulher de 57 anos, que morava no município de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, morreu em decorrência de complicações causadas pela meningite (inflamação das membranas que revestem o cérebro e a medula espinhal).
O óbito foi confirmado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE). A morte ocorreu no dia 23 de outubro deste ano e consta no boletim epidemiológico sobre a doença.
De acordo com a SES-PE, a mulher não tinha registro de doenças preexistentes. O teste laboratorial confirmou a infecção por bactéria, com resultado detectável para Neisseria meningitidis.
É o terceiro óbito de 2023 causado por meningite em Pernambuco.
O primeiro óbito do ano foi um menino de 4 anos, que morreu pelo agravamento causado pelo sorogrupo B. Ele também morava em Jaboatão dos Guararapes.
O segundo foi uma mulher de 39 anos, que residia no município de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco.
A SES-PE reforça que a doença meningocócica é endêmica e, para a diminuição de casos, foi instituída a vacina meningo C (que é o tipo mais frequente) em 2010.
"A meningo C foi iniciada para crianças e, logo após, viu-se a importância de contemplar os adolescentes - faixas etárias que impactaram na diminuição de casos e óbitos da doença. Pela idade da pessoa (mulher de 39 anos que foi a óbito em Arcoverde), ela não fazia parte da faixa etária contemplada pela vacinação (contra o meningococo C)."
Sobre o terceiro óbito, a SES-PE ainda não informou o sorogrupo.
Os casos de meningite em adultos têm chamado a atenção porque, no Brasil, a doença é mais frequente no primeiro ano de vida. Mas pessoas não vacinadas, de qualquer idade, são vulneráveis à infecção.
"Com a introdução, em 2010, da vacina meningocócica C, percebemos que há agora um desvio de faixa etária dos infectados pelo meningococo. Ou seja, a maioria dos menores de 13 anos está protegida com a vacina e, por isso, o agente (meningococo C) deixa de ser o principal causador da doença nessa faixa etária. Com isso, ele vai repercutir entre não vacinados, que são os adultos jovens", explica o médico Eduardo Jorge da Fonseca Lima, pesquisador do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip).
O médico alerta que, diante do cenário de desvio de faixa etária da meningite, a ampliação da cobertura vacinal de meningo C para pessoas de 15 a 40 anos seria uma medida essencial.
Atualmente o Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza três doses da vacina meningocócica C na infância: aos 3 e 5 meses, além de um reforço aos 12 meses.
Para adolescentes, uma dose é oferecida entre os 11 e 12 anos (como reforço ou dose única, a depender da situação vacinal).
MENINGITE C: O EXEMPLO DE MINAS GERAIS
"Minas Gerais fez a ampliação da cobertura vacinal de meningo C recentemente. O Estado tinha doses sobrando, com prazo de validade curto, e imunizou os adultos", diz Eduardo Jorge.
A ação, em Minas Gerais, iniciada no fim de 2022, considerou as baixas coberturas vacinais em crianças, além de otimizar o uso das doses do imunizante contra a meningite C.
A primeira ampliação, em Minas Gerais, contemplou a imunização seletiva da população não vacinada de 16 a 30 anos de idade, dos trabalhadores de saúde não vacinados de 16 anos ou mais de idade, dos trabalhadores da educação do ensino superior e técnico com 16 anos ou mais, não vacinados e com avaliação do cartão de vacina e da população não vacinada, com avaliação do cartão de vacina, de estudantes universitários.
Em março deste ano, aconteceu a segunda ampliação, que incluiu todos os trabalhadores da educação. No fim de março, todas as pessoas não vacinadas com 16 anos ou mais foram autorizadas a se imunizar contra a meningite C em Minas Gerais.
MENINGITE: NÚMEROS DE 2023 JÁ SUPERAM TODO O ANO DE 2022 EM PERNAMBUCO
Os números de 2023 (casos notificados e confirmados, além de óbitos por meningite) já superam, em Pernambuco, os que foram registrados em todo o ano de 2022.
Em 2023, até a semana epidemiológica 43 (até 28 de outubro), foram notificados 30 casos de doença
meningocócica, segundo boletim da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE).
Desse total, 18 casos foram confirmados, 8 descartados e 4 estão em investigação.
No mesmo período em 2022, foram notificados 17 casos, 11 foram confirmados e 06 descartados. Em todo o ano de 2022, foram notificados 20 casos de doença meningocócica. Desses, 13 foram confirmados e 7 descartados.
Em 2023, até o momento, houve registro de três óbitos pela doença: um menino de 4 anos, residente no município de Jaboatão dos Guararapes (Grande Recife), e uma mulher de 39 anos, que morava na cidade de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco. No ano de 2022, não houve óbito.
VACINA CONTRA MENINGITE C
Desde 2010 no Brasil, com a introdução da vacina contra a meningite C no calendário infantil do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o número de casos de todos os tipos de meningite caiu quase três vezes no País, e o de casos do tipo C caiu quase quatro vezes.
O sorogrupo B é atualmente o mais predominante entre crianças. Em todas as faixas etárias, é o segundo - atrás do C e à frente do W e do Y. O tipo A não acontece mais no Brasil.
TRANSMISSÃO DA MENINGITE
O meningococo é transmitido por meio de secreções respiratórias e da saliva, durante contato próximo ou demorado com a pessoa infectada, especialmente entre pessoas que vivem na mesma casa.
Os ambientes com aglomeração de pessoas oferecem maior risco de transmissão e contribuem para desencadear surtos.
A evolução da doença meningocócica é muito rápida, com o surgimento abrupto de sintomas como febre alta e repentina, intensa dor de cabeça, rigidez do pescoço, vômitos e, em alguns casos, sensibilidade à luz (fotofobia) e confusão mental.
A disseminação do meningococo pelos vasos sanguíneos pode produzir manchas vermelhas na pele (petéquias, equimoses) e até necroses, que podem levar à amputação do membro acometido.
TRATAMENTO DA MENINGITE E RISCO DE MORTE
O tratamento da doença meningocócica é feito com antibióticos e outras medidas de preservação do equilíbrio do organismo, em Unidade de Terapia Intensiva isolada.
O risco de morte pela doença é alto: 10% a 20%, podendo chegar a 70%, se a infecção for generalizada (meningococcemia).
Entre os sobreviventes, cerca de 10% a 20% ficam com sequelas como surdez, cegueira, problemas neurológicos e membros amputados.