Após dois incidentes recentes em batalhões da Polícia Militar de Pernambuco, a saúde mental do efetivo receberá mais atenção. Nessa segunda-feira (27), um núcleo foi inaugurado, na área central do Recife, para atendimento psicológico e também de casos emergenciais.
O apelo dos policiais militares por mais atenção à saúde mental do efetivo é antigo - principalmente por causa da sobrecarga de trabalho e dos casos de assédio moral em alguns batalhões. Muitos PMs, porém, não se sentem à vontade para procurar ajuda. A proposta é justamente mudar esse pensamento.
O núcleo vai funcionar de segunda à sexta-feira, das 7h às 18h, com 13 psicólogos. Ele está localizado na Rua Coronel Silva Torres, nº 73, no bairro do Derby, onde já havia alguns serviços voltados aos PMs.
Além dos atendimentos de rotina, o núcleo vai realizar projetos que insiram aspectos preventivos ligados a preservar a saúde mental dos PMs e de seus dependentes.
"O núcleo tem a proposta de fazer intervenções nos batalhões. A gente vai tentar orientar os policiais, os comandantes, a tropa em geral. A proposta é proporcionar reuniões, estabelecer protocolos e ampliar o número de psicólogos para atender o efetivo", afirmou o capitão Gilvan Marcos Silva, chefe do núcleo de saúde mental da Polícia Militar.
Além disso, segundo o capitão, os PMs serão capacitados para identificar se colegas de farda estão passando por problemas mentais. "Quando eles perceberem isso, eles poderão entrar em contato com o núcleo para fazer esse encaminhamento", explicou.
O comandante geral da Polícia Militar de Pernambuco, coronel Tibério César, reforçou que o espaço foi criado para levar mais a sério a saúde mental dos policiais. “Os problemas mentais precisam ser entendidos e atacados como doença e para isso era preciso criar essa cultura na corporação, quebrar preconceitos, quebrar paradigmas."
Uma das ideias é de que, em breve, seja criada uma central 24h para que o policial militar entre em contato e receba orientação de um psicólogo de plantão.
A Polícia Militar conta, atualmente, com pouco mais de 16 mil PMs na ativa. Eles estão lotados em 26 batalhões e 14 unidades especializadas.
O núcleo recebeu o nome da tenente-coronel Aline Maria Lopes dos Prazeres de Luna, que foi morta após um ataque a tiros no 19º Batalhão da PM, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. A policial, que também era psicóloga, demonstrava constante preocupação em relação à difícil rotina dos policiais e a importância que eles deveriam dar à saúde mental.
Após a tragédia, o número de policiais militares que procuraram ajuda psicológica aumentou no Estado.
Além do novo núcleo, os PMs podem procurar atendimento nas unidades da Fundação de Apoio ao Centro de Assistência Social (FCAS) espalhadas pelo Estado. São elas: Unidade Agreste 1 (Caruaru), Unidade Agreste 2 (Garanhuns), Unidade Sertão 1 (Serra Talhada), Unidade Sertão 2 (Petrolina), Unidade Mata Norte (Nazaré da Mata) e Unidade Mata Sul (Palmares).
Aline morreu no dia 20 de dezembro de 2022. Na ocasião, o soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, matou a tiros a esposa, Cláudia Gleice da Silva, 33, no Cabo de Santo Agostinho, e seguiu até o batalhão, onde atirou em vários colegas de farda. Além de Aline, que era a subcomandante do 19º BPM, o 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, 30, também faleceu. Guilherme teria se matado em seguida.
O inquérito policial militar que apura as circunstâncias do ataque ao 19º Batalhão ainda não foi concluído. No mês passado, a Polícia Militar pediu à Justiça Militar a prorrogação do prazo das investigações.
Já o feminicídio de Cláudia foi investigado pela Polícia Civil. Em depoimentos colhidos pelos investigadores da 14ª Delegacia de Polícia de Homicídios, ficou claro que o soldado não aceitava o fim do relacionamento e que também praticava agressões contra a mulher, que estava grávida de três meses. Essa investigação já foi concluída.
Em 15 de janeiro deste ano, um tenente que estava de plantão no 16º Batalhão, no bairro de São José, área central do Recife, informou ao seu superior que havia encontrado na parede do auditório a seguinte mensagem: "Cuidado Maj para não ser a próxima".
O nome da major, que era subcomandante do batalhão, foi escrito na parede. A suspeita é de que a mensagem tenha sido escrita por um PM lotado no batalhão, visto que o acesso ao imóvel é bastante restrito.
Na época, o clima no batalhão era de muita insatisfação entre os militares. Os relatos eram de pressão por queda nos números da violência, perseguição e excesso de plantões extras.