VIOLÊNCIA

'Guerra do tráfico' resultou na explosão de assassinatos no Grande Recife em janeiro, avalia secretário

De acordo com a SDS, houve aumento de 73,68% no número de mortes em comparação com 2023. Foi o pior janeiro dos últimos 5 anos

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Raphael Guerra

Publicado em 08/02/2024 às 10:53 | Atualizado em 08/02/2024 às 11:01
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O número de assassinatos registrados na Região Metropolitana do Recife (RMR) no primeiro mês de 2024 trouxe um alerta ainda maior às forças de segurança quando o resultado foi comparado com a série histórica. Ao todo, 198 pessoas foram vítimas de mortes violentas intencionais em janeiro. É o pior início de ano desde 2018, quando foram somadas 218 mortes. 

Muitos dos crimes ocorreram à luz do dia, demonstrando que os assassinos estão cada vez mais ousados e seguros da impunidade.

O secretário de Defesa Social (SDS), Alessandro Carvalho, classificou o último mês de janeiro como "fora da curva". Em entrevista à Rádio Jornal, na quarta-feira (7), ele afirmou que o crescimento da violência na RMR tem relação com o tráfico de drogas e com a guerra constante entre grupos rivais.

"A maioria (das mortes) é decorrente das disputas de facções pelo domínio do tráfico de drogas. A Região Metropolitana do Recife concentra mais de 50% da população do Estado. Há relação direta entre a densidade demográfica e a quantidade de facções. Há mais pontos de tráfico de drogas e, por isso, mais registros de mortes", pontuou. 

Se a estatística de janeiro deste ano for comparada com o mesmo período de 2023 (114 casos), observa-se um aumento de 73,68% nas mortes violentas letais intencionais. 

CRESCIMENTO DOS TIROTEIOS

reprodução
Câmera de segurança filmou assassinato à luz do dia no Brejo da Guabiraba, no Recife, em janeiro - reprodução

O Instituto Fogo Cruzado contabilizou 180 tiroteios/disparos de arma de fogo no Grande Recife no mês passado. Foi o pior janeiro desde 2019, quando esse levantamento mensal começou a ser realizado pelo instituto, que investiga a violência armada.

Ao todo, 147 pessoas perderam as vidas nos tiroteios registrados em janeiro deste ano. Outras 57 ficaram feridas.

Entre os municípios mapeados pelo Instituto Fogo Cruzado, os mais afetados pela violência armada em janeiro foram:

Recife: 73 tiroteios, 53 mortos e 28 feridos;

Jaboatão dos Guararapes: 38 tiroteios, 35 mortos e 5 feridos;

Olinda: 24 tiroteios, 20 mortos e 5 feridos;

Cabo de Santo Agostinho: 13 tiroteios, 10 mortos e 7 feridos;

Paulista: 12 tiroteios, 9 mortos e 8 feridos.

"Como primeiro ano de um novo governo em Pernambuco, 2023 foi um ano marcado pelo desafio de conter a violência armada. Apesar de um plano de segurança ter sido anunciado, pouco sabemos das estratégias efetivas para o alcance da meta definida para redução das taxas de violência. O resultado ao terminar o ano passado foi que nunca houve tantos tiroteios provocados por ações e operações policiais. Agora, neste segundo ano, temos mais um recorde ainda em janeiro. Nunca tivemos um começo de ano tão violento para os moradores da Região Metropolitana do Recife", afirmou Ana Maria Franca, coordenadora regional do instituto em Pernambuco. 

"É preciso rever o modelo de segurança pública para que de fato as estratégias de redução da letalidade, inclusive a letalidade policial, sejam eficazes", completou. 

"É PRECISO UMA ABORDAGEM NACIONAL"

O secretário de Defesa Social argumentou que o problema da violência não se restringe a Pernambuco e que são necessários investimentos no País para combater as organizações criminosas.

"As facções estão se armando de maneira mais forte em todo o País. Por isso, é preciso uma abordagem nacional. O próprio ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, colocou como prioridade atacar de forma sistêmica o crime organizado no País. É preciso ter ataque em todo o território nacional e nas fronteiras, até porque a cocaína consumida no País vem pelas fronteiras", disse. 

Segundo a SDS, 3.637 pessoas foram assassinadas no Estado em 2023. O crescimento foi de 6,12% em relação a 2022, quando 3.427 vidas foram perdidas. O resultado vai na contramão da média nacional. O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) divulgou que o País atingiu uma queda de 4%.

Ao todo, 22 estados do Brasil apresentaram redução das mortes em 2023.

PERNAMBUCO TEVE AUMENTO DE 24,22% NAS MORTES EM JANEIRO

De acordo com estatísticas da SDS, 359 mortes violentas intencionais foram registradas em Pernambuco em janeiro. Houve um aumento de 24,22% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 289 assassinatos foram somados. 

Esse foi o mês com maior número de mortes violentas desde o início do governo Raquel Lyra. Além disso, foi o pior resultado desde março de 2020, quando 363 pessoas foram assassinadas. 

INTERIOR

Na Zona da Mata, em janeiro deste ano, 50 pessoas foram mortas. Foram nove casos a menos que no mesmo período do ano passado. Redução de 15,3%.

No Agreste, 63 assassinatos foram somados pela polícia em janeiro de 2024. Já no mesmo período de 2023, foram contabilizadas 75 mortes violentas. Queda de 16%.

Já no Sertão, 48 pessoas foram mortas em janeiro deste ano. Foram sete casos a mais. O aumento foi de 17% em relação ao mesmo período de 2023. 

META E TROCA DE COMANDOS

O Juntos pela Segurança, lançado por Raquel Lyra em novembro de 2023, tem como meta uma queda de 30% nos índices de violência até o final de 2026, tendo como base os resultados de 2022.

Quatro indicadores são avaliados: mortes violentas intencionais, violência contra a mulher, crimes violentos patrimoniais e roubos e furtos de veículos.

Em meio ao aumento da violência, a governadora Raquel Lyra fez mudanças na cúpula da segurança pública de Pernambuco. O coronel Tibério César dos Santos foi substituído por Ivanildo Cesar Torres no comando geral da Polícia Militar. Já a delegada Simone Aguiar foi trocada pelo também delegado Renato Leite na chefia da Polícia Civil. 

O governo Raquel Lyra também enfrenta uma queda de braço com o Sindicato dos Policiais Civis de Pernambuco e com a Associação de Delegados de Polícia do Estado. Ambos reclamam da falta de diálogo com o governo para discutir reajustes salariais e melhorias para os profissionais da segurança.

Os delegados, inclusive, não estão mais participando do Programa de Jornada Extra da Segurança (PJES) como forma de pressionar a gestão estadual. Por causa da entrega dos plantões extras, investigações de crimes foram afetadas ao longo do último mês. 

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