O uso de bloqueadores de celulares para impedir a comunicação de presos com membros de facções que estão soltos voltou ao radar do governo de Pernambuco dez anos após testes terem sido realizados, sem sucesso, no Complexo Prisional do Curado, localizado na Zona Oeste do Recife.
Em entrevista exclusiva ao JC, nesta quarta-feira (28), o secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização, Paulo Paes, afirmou que está em negociações para que as unidades prisionais do Estado recebam a tecnologia.
"Até como policial penal me incomoda saber que há presos comandando de dentro das unidades prisionais. A gente vai tirar a comunicação. A gente sabe da dificuldade do telefone celular, da questão dos arremessos, que são diários, constantes. Há unidades em que a pessoa passa de moto e faz um arremesso. Por isso, estamos vendo a questão dos bloqueadores de telefone. Isso já está em construção com algumas unidades do Estado", disse.
A tecnologia usada em Goiás pode ser adotada no sistema penitenciário pernambucano. "Eu vi em Goiás um exemplo exitoso. Vou mandar uma equipe ao Estado para avaliar a ressocialização e também como é realizado o bloqueio. Pretendemos avançar o mais breve possível", pontuou o gestor, que é policial penal desde 2002 e já atuou como diretor de unidades prisionais do Estado e na Gerência de Inteligência da antiga Secretaria Executiva de Ressocialização.
A guerra pelo domínio do tráfico de drogas em Itamaracá, no Litoral Norte de Pernambuco, que resultou nos assassinatos de um bebê de 9 meses e de uma criança de 10 anos, em menos de uma semana, evidenciou a continuidade da falta de segurança nas unidades prisionais.
O delegado Gilmar Rodrigues, em entrevista coletiva na última segunda-feira, revelou que as ordens para os crimes contra facções rivais saíram de presídios.
Na realidade, essas ações criminosas fazem parte da rotina do mundo do crime. Tanto que frequentemente operações realizadas pela Polícia Civil cumprem mandados de prisão preventiva em presídios, comprovando que detentos mantêm fácil comunicação com seus comparsas.
Desde o início da gestão, a governadora Raquel Lyra tem ressaltado que vai atacar os problemas do sistema prisional para ajudar na redução da violência. No começo da semana, uma reunião do Juntos pela Segurança, com participação de membros do Poder Judiciário, discutiu a necessidade de acelerar o julgamento de processos criminais para reduzir a impunidade.
FALHAS NOS BLOQUEADORES NO COMPLEXO PRISIONAL DO CURADO
Bloqueadores de celulares, com tecnologia indiana, foram testados no Complexo Prisional do Curado em 2014. O governo estadual informou, na época, que 85 pares de antenas foram adquiridos para o interior dos três presídios do Complexo.
Mas os resultados nunca foram satisfatórios. Enquanto moradores do bairro do Tejipió reclamavam que estavam sendo prejudicados por causa da falta de sinal de celular, a gestão estadual identificou que ao menos parte dos presos continuava com a comunicação normalmente.
LÍDERES DE FACÇÕES FORAM ISOLADOS
Para tentar avançar no combate às organizações criminosas e reduzir as mortes violentas intencionais, o governo estadual também fez a transferência de líderes para unidades prisionais consideradas mais seguras. Na prática, esses presos foram isolados. A medida começou a ser colocada em prática em setembro do ano passado.
"A gente traçou alguns perfis de presos no Estado para que a gente deixasse eles sem comunicação. Hoje nós já conseguimos fazer o isolamento de 243 (desse total, 127 líderes de facções). Eu consegui colocar duas unidades prisionais dentro desse procedimento, com efetivo necessário, para fazer o trabalho. Como diz a história: tirar a chave da mão do preso. Estou com nessa unidade há três meses fazendo revista e não encontro celular", afirmou o secretário Paulo Paes.
REVISTAS SERÃO AMPLIADAS NO ESTADO
O secretário estadual também demonstrou preocupação com a facilidade com que celulares são arremessados para os presídios de Pernambuco. Segundo ele, diretores foram orientados a realizarem mais revistas para apreensão dos aparelhos.
"Existe uma fragilidade na questão de arremesso muito grande no Presídio de Igarassu, como também tem no Complexo Prisional do Curado e em outras unidades prisionais do Estado. Chamei os diretores e disse que quero, até o final do ano, uma revista em cada unidade prisional toda semana. A gente vai ter mais de 1.300 revistas até o final do ano", asseverou.
RETOMADA DE OBRAS DOS PRESÍDIOS
Paulo Paes reforçou que o governo estadual vai manter a promessa de criar 7.950 novas vagas para diminuir a histórica superlotação no sistema prisional de Pernambuco.
"Até o final deste ano, a gente vai ter 1.923 vagas geradas no Estado", disse.
Segundo ele, isso será possível porque estão em andamento obras no presídio de Caruaru, que vai gerar 155 novas vagas, no Presídio Frei Damião de Bozzano (localizado no Complexo Prisional do Curado), que deve ampliar a capacidade em 954 vagas, e duas unidades em Araçoiaba (com 83% das obras finalizadas).