Secretário estadual diz que apoia Guarda Municipal do Recife armada
Em declaração ao JC, Alessandro Carvalho afirmou que decisão cabe ao prefeito João Campos, mas que 'toda ajuda é bem-vinda'. Na segunda-feira (13), Câmara de Vereadores aprovou requerimento favorável à medida
A polêmica discussão sobre o porte de arma de fogo pelos profissionais que compõem a Guarda Municipal do Recife voltou a ganhar holofotes. Um dia após a Câmara de Vereadores aprovar requerimento em que solicita ao prefeito João Campos a adoção das armas, o secretário estadual de Defesa Social, Alessandro Carvalho, reiterou que apoia a medida como forma de contribuir para o combate aos crimes.
"Falei sobre isso recentemente e minha opinião permanece a mesma. A decisão de armar a Guarda cabe ao prefeito, mas considero importante. Toda a ajuda é bem-vinda", disse Carvalho, ao ser questionado sobre o tema pela coluna Segurança.
Para o secretário estadual, o uso de arma de fogo pelos guardas municipais vai ajudar a inibir a ação dos criminosos nos equipamentos públicos. Ele ressaltou ainda que eventuais casos de excessos praticados por guardas poderão ser punidos por meio de investigações conduzidas pela Corregedoria da própria Guarda Municipal.
A Prefeitura do Recife vem sendo procurada desde a segunda-feira (13), quando o requerimento foi aprovado na Câmara de Vereadores, mas ainda não se pronunciou sobre o tema. Na semana passada, houve troca de titularidade na Secretaria de Segurança Cidadã do Recife. Murilo Cavalcanti, que sempre foi contrário ao uso de armas de fogo, foi substituído por Gabriel Cavalcante, que era presidente da Junta Comercial e Empresarial de Pernambuco (Jucepe). O novo secretário ainda não opinou publicamente sobre o assunto.
Recentemente o governo do Estado criou um grupo de trabalho para discutir ações integradas entre as polícias e municípios, com propostas e metas de redução da violência. A Prefeitura do Recife não demonstrou interesse em participar do desenvolvimento do projeto de governança.
De acordo com estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS), 6.156 crimes violentos contra o patrimônio foram registrados na capital pernambucana entre janeiro e abril deste ano. No mesmo período de 2023, foram 7.240 queixas. Apesar da redução dessa modalidade criminosa, os assassinatos cresceram.
No primeiro quadrimestre deste ano, 280 pessoas foram mortas. Já no mesmo período de 2023, foram 197. O aumento foi de 42,1%.
VOTAÇÃO NA CÂMARA
O requerimento nº 4273/2024, de autoria do vereador Alcides Cardoso (PL), foi aprovado pelo plenário com 15 votos favoráveis, seis contrários e duas abstenções, em votação nominal.
Em defesa da pauta, Cardoso lembrou que a Casa José Mariano fomentou o debate sobre o armamento da Guarda nos últimos anos. "Não estou pedindo para armar por armar. [Pedimos guarda] treinado e armado. São 256 horas-aula. Acho que a própria Guarda quer isso, espera isso. Ele quer isso, ele espera isso. Ele sai de casa como um guarda, como uma pessoa para a segurança, e sai desarmado", disse.
O vereador Ivan Moraes (PSOL) disse ser contrário à adoção das armas de fogo.
"Não é uma boa ideia armar. É fundamental que o Recife e os municípios façam seu dever de casa no que se refere à prevenção à violência. Cabe ao município outras tarefas diversas que a de realizar o poder coercitivo do Estado, porque isso quem realiza é a Polícia Militar", afirmou.
RECIFE É A ÚNICA CAPITAL QUE NÃO ARMOU A GUARDA
Em pelo menos 20 capitais do País, a Guarda Municipal já atua armada. Recife é a única capital do Nordeste que não aderiu.
Presidente do Sindicato dos Guardas Municipais, Subinspetores, Inspetores e Agentes de Trânsito do Recife (Sindguardas), Marília Viana já afirmou que os guardas querem portar arma de fogo durante expediente para se protegerem da violência e ajudarem na prevenção nos locais onde estão atuando.
"A questão do armamento é uma situação de necessidade por causa da violência imposta. A gente sempre entendeu que a Guarda Municipal pode colaborar contra a violência. E a lei reconhece isso. É importante lembrar também que somos uma instituição com controle interno e externo. Temos nossa corregedoria para fiscalizar o trabalho dos guardas municipais", disse, em entrevista ao JC em novembro de 2023.