Lançamentos e crítica musical, por José Teles

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Simon & Garfunkel lançam disco de fitas perdidas nos arquivos da BBC

Em 1965, a dupla fez apresentações na emissora inglesa que permaneciam inéditas

Cadastrado por

José Teles

Publicado em 24/06/2020 às 21:18 | Atualizado em 24/06/2020 às 21:19
Simon & Garfunkel, há 55 anos - divulgação

Segundo estatísticas, as músicas mais procuradas durante a pandemia têm sido as mais antigas. As pessoas em confinamento estão voltando aos tempos em que eram felizes e não sabiam. Ou para não perderem as esperanças de que tudo poderá voltar a ser como era até uns meses atrás. Ou simplesmente, porque estão com tempo de reouvir a trilha sonora de suas vidas.
Eu mesmo não escutava Simon & Garfunkel há séculos. No tempo em que os escutava com mais frequência, alguns amigos achavam a dupla muito melosa. Uma vez comentei com Arto Lindsay sobre Paul Simon, ele disse que não gostava das letras. Li um livro sobre as piores músicas do século em que incluíram The Sounds of Silence, por causa da letra. Como Arto é americano, e o autor do livro também, deve ter alguma coisa ruim nestas letras. Independente disso, algumas eu gosto muito. America, por exemplo, do álbum Bookends, de 1968.
O recém-lançado The Lost BBC Sessions 1965 é uma edição limitada de gravações que Paul Simon e Art Garfunkel realizaram na emissora inglesa há 55 anos. Eles nem mais eram dupla. Paul Simon foi arriscar o mercado inglês. Garfunkel deu uma passada por Londres, e os dois se encontraram. Simon estava envolvido com o movimento folk inglês, e estava na casa de uma ativista política ligada à igreja, Judith Piepe. Foi que conseguiu com que os desconhecidos Simon & Garfunkel participassem do programa Five to Ten, do reverendo Roy Trevivian, na BBC. Tanto Simon quanto Garfunkel são judeus, mas até onde eu me lembre, não fizeram apologia de religiosa, embora nas primeiras de Simon canções tenha uma pequena influência de cristianismo com humanismo.
Nessas sessões da BBC a dupla canta as canções iniciais de Paul Simon, a maioria delas seria bem conhecida um ano depois. O disco é duplo, em vinil, e digital. Abre com uma versão folk de The Sound of Silence. Os tapes destas sessões permaneceram no arquivo da radio até 2001. Foram liberados agora para mais um Record Store Day, o Dia da Loja de Disco, numa tiragem pequena. É divertido escutar Simon e Garfunkel, ambos com 24 anos. Sem ideia de que em dois anos seria a dupla mais famosa do planeta. Simon estava em Londres quando soube que The Sound of Silence estava em primeiro lugar na Billboard, e também no paradão de vários países da Europa.
Graças ao produtor Tom Wilson. Ele transformou a folk The Sound of Silence, e a transformou num folk rock. Na trilha de The Graduate (A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols, com Dustin Hoffman), o filme e a trilha foram sucessos planeta afora. A dupla, no entanto, que já se desentedia quando ainda se chamava Tom & Jerry, em Nova Iorque acabou em três anos, com eventuais e sazonais reuniões.
50 ANOS
Este álbum, que é mais para fãs, e uma curiosidade para curtidores de música em geral, coincide com os 50 anos do que é considerado a obra prima da dupla, Bridge over Troubled Waters, e o final da entidade Simon & Garfunkel. Os dois começaram no final dos anos 50, mas só estouraram em 1966. Foram quatro anos de muito de badalação, hits, grandes festivais, de muitas refregas entre Paul e Art, uma delas porque ele não queria cantar Bridge of Troubled Waters, até que a separação foi anunciada, enquanto vendiam-se milhões de cópias do álbum final de estúdio da dupla.
Em 2020, completam-se, pois, 50 anos do álbum e do fim de Simon & Garfunkel. Sem a complexidade nem imergir na tradição da canção folk americana, a dupla com suas canções pop, melodiosas, levou uma geração a refletir, sobre solidão, sobre o que é pertencer a um determinado lugar, sobre amizade, sobre velhice. Foi uma boa ideia a separação. Art Garfunkel pode empregar melhor a voz, e o talento como ator, enquanto Paul Simon passou a fazer canções que ele pudesse cantar sozinho. Still Crazy After All Those Years, álbum solo de Paul Simon, de 45 anos atrás, continua sendo um dos grandes discos sobre relacionamentos, algo assim como se Paul Simon incorporasse as tiradas inteligentes de Woody Allen, ou de Groucho Marx. Na pandemia, vale à pena incursionar por Simon & Garfunkel, e pelo Paul Simon Solo, de preferência os menos badalados, feito o bombástico Graceland (1987), ou sua sequência The Rhythm of the Saints (1992, com participação do Olodum).

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