Lançamentos e crítica musical, por José Teles

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Nana Caymmi perto da perfeição num disco em que canta Tom e Vinicius

Dori Caymmi produz e arranja o álbum, com uma duzia de clássicos da dpla

Cadastrado por

José Teles

Publicado em 16/07/2020 às 23:31 | Atualizado em 21/07/2020 às 11:05
Nana e Dori, excelência - Livio Campo/divulgação

Quem conheceu o Rio depois da Barra, e seus condomínios gigantescos, impessoais, não conheceu o rio mítico. Basicamente Copacabana, Ipanema, Leblon, este último virou o Greenwich Village brasileiro com praia, nos anos 60. Depois do samba de Tom e Vinicius, Garota de Ipanema, e com o pasquim que tornou o bairro a meca nacional de artistas de todo tipo e quilate.
A Zona Sul era feito uma grande cidade do interior nordestino, onde parece que todo mundo tinha parentesco, senão sanguíneo, por afinidade. Namoravam e casavam entre si, feito na aristocracia açucareira pernambucana. E havia as famílias tradicionais da cultura. Uma delas era a Caymmi. Dorival, cantor e compositor, casou com a cantora Stella Maris, tiveram três filhos de uma musicalidade à flor da pele. Nana, Dori e Danilo, que cresceram convivendo com Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Pixinguinha, Vadico, Ari Barroso. Foram contemporâneo de Edu Lobo, Chico Buarque, Francis Hime, Gilberto Gil (com quem Naná foi casada). A lista é quilométrica.
Dori Caymmi aos 21 já assinava arranjos como gente grande, aos 22 ganhou o primeiro festival Internacional da Canção, em 1966, com Saveiros, dele e Nelson Motta, com Nana Caymmi interpretando. Nana estreou em disco em 1960, com 19 anos. Dona de uma afinação impecável, um fraseado perfeito, e um timbre de mormaço, intimista, embora tenha calibre para alcançar os tons mais altos, ela é cantora dos cantores. Nunca foi de modismos, de badalação, flertou com o tropicalismo, quando vivia com Gil, mas não se engajou. Ao longo dos seus 79 anos, Nana Caymmi é cantora de publico certo e sabido.
Para este publico, está chegando às plataformas digitais o álbum Nana, Tom, Vinicius, com a chancela do Selo SESC, já disponível no Sesc Digital, com clássico do cancioneiro popular brasileiro, assinado por dois dos mais importantes, em todos os sentidos dos seus autores. Como dia Nelson Rodrigues, só os idiotas da objetividade desdenham a bossa nova como música de elevador, enquanto fazem salamaleques para música assumidamente de elevador, porém feita por gringos. Certamente vão considerar o repertório manjado.
A bossa nova foi um das variantes do samba que influenciou profundamente o jazz, o cancioneiro clássico da MPB não tem música manjada. Não há música manjada. Depende que quem a grave, o que é acontece com o the great american songbook. Quando centenas de vezes, por exemplo, Fly me to the Moon, ou Night andDay foram regravadas?

Nana Tom Vinicius tem produção de Dori Caymmi, um dos mais importantes arranjadores do planeta, ou pelo menos da parte ocidental do planeta. Ele dirige músicos de requinte inquestionável, alguns bem conhecidos feito o contrabaixista Jorge Helder, o baterista Jurim Moreira, o pianista Itamar Assiére. O próprio Dori toca o violão no disco. Nana e o irmãos nos deram um álbum que é um bálsamo neste tempo de recolhimento e distanciamento, com uma dúzia de canções de uma parceria mágica.

Nana não gravava disco de estúdio há dez. Voltou em 2019, quando prestou um tributo a Tito Madi, e começou a gravar este disco. Mais que valeu a demora. Um disco exato, no momento certo. E  mais: celebra os 40 anos da morte do poetinha, e 25 da morte de Tom

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