A notícia musical mais comentada na semana que passou foi a compra pela Universal Music (pertencente a holding francesa Vivendi) do catálogo inteiro de Bob Dylan, único astro da música popular a ser agraciado com um Prêmio Nobel de Literatura. Claro, que não foi pelos atributos literários que a Universal pagou atribuídos 300 milhões de dólares por cerca de 600 canções, incluindo das primeiras gravações do artista no início dos anos 60, ao seu mais recente disco Rough and Rowdy Ways, lançado em junho de 2020.
Embora Dylan não seja um grande vendedor de discos, muito menos nos dias atuais, suas canções circulam milhões de vezes diariamente nas plataformas de música para streaming, pagamento que agora irá para os cofres da Universal Music. E ainda: as música de Bob Dylan são regravadas com freqüência. Estima-se que tenham seis mil regravações mundo afora. Regravações que também são escutadas por streaming. Dylan, por sua vez está com 79 anos, quando chegar aos cem ainda assim não receberia tanto dinheiro de direitos autorais.
Mas ele não é o único a vender sua obra inteira. Uma semana antes de Dylan, a cantora e compositora Stevie Nicks, do Fleetwood Mac, vendeu a uma editora, a Primary Wave Music, todas suas canções, um volume bem inferior às 600 de Bob Dylan, por 80 milhões de dólares. E tem mais gente pondo catálogo à venda, como por exemplo, David Crosby, que integrou dois grupos clássicos dos anos 60 e 70, The Byrds e Crosby, Stills, Nash & Young.
Crosby confessa que está vendendo sua obra por necessidade. Com a mesma idade de Dylan, bem menos músicas regravadas, e poucos sucessos internacionais, ele acusa as plataformas por streaming de o roubarem: “Não posso fazer shows, e o streaming está roubando o dinheiro de minhas gravações”, escreveu David Crosby no Twitter.
STREAMING
Enquanto isto, na Inglaterra, uma pesquisa conclui que 82% dos artistas britânicos(incluindo Irlanda, Escócia e País de Gales), ganham 220 euros por ano da plataformas de música digital, cerca de 1.360 reais. O estudo, realizado pela Ivors Academy em parceria com a Sindicato dos Músicos, e publicada na revista portuguesa Blitz, revelam que as grandes editoras registraram lucros em torno de 3,6 mil milhões de euros (22,2 milhões de reais). 92% do artistas britânicos revelam que apenas 5% de sua receita vem do streaming, enquanto 43% trabalham em outras áreas para pagar as contas.
Um estudo desses seria bem recebido no Brasil, onde os músicos se queixam bastante do que recebem da música que toca nas plataformas de música digital.