As restrições a viagens para destinos mais distantes, por causa da pandemia da covid-19, têm feito os pernambucanos valorizarem o próprio território. Um dos lugares que entraram nessa rota de redescobertas é a Ilha de Santo Aleixo, no Litoral Sul. O pequeno pedaço de terra de origem vulcânica, entre Porto de Galinhas e Carneiros, é ideal para se desligar do mundo por um dia, em um cenário de areias brancas, águas cristalinas e uma calmaria cada vez mais rara nas praias do continente.
A estrutura turística se resume a quatro barracas de praia, com espreguiçadeiras e guarda-sóis. Não há hotéis, pousadas nem restaurantes. Mas fique tranquilo porque de fome ninguém há de sofrer. Um providencial bar flutuante prepara petiscos e pratos como a cioba frita, servidos à beira-mar.
A rusticidade se explica. Primeiro, porque Santo Aleixo é literalmente um paraíso particular. Embora administrativamente pertença ao município de Sirinhaém, a ilha é uma propriedade privada envolvida em um longo processo de inventário ainda indefinido. Por isso, a única construção existente é uma casa, em que quase nunca se veem os habitantes. O terreno, de cerca de 30 hectares, também faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guadalupe, outra condição que visa garantir o desenvolvimento sustentável do lugar. Luxo ali é a natureza em estado bruto.
Os passeios de bate e volta geralmente partem de Barra de Sirinhaém, em lanchas que levam de cinco a sete minutos para fazer a travessia de cerca de dois quilômetros. Em média, a permanência na ilha é de cinco horas.
Tempo mais que suficiente para você fazer um reconhecimento do entorno, enquanto decide se vai lagartear na areia, pegar o caiaque, nadar de snorkel com os peixinhos ou de tudo um pouco.
O desembarque em Santo Aleixo é feito na praia do meio. Apesar da tentação de já ficar por lá mesmo se esbaldando no mar quentinho, resista e siga pelo caminho de areia até o outro lado da ilha, que revela uma enorme piscina natural de tonalidade esverdeada na Praia da Ferradura. O nome vem do formato sugestivo, responsável pelo represamento das águas naquele trecho.
Para alcançar o mar de fora, é preciso um pouco mais de esforço, subindo pelas rochas até o lado esquerdo, onde as águas são mais frias e bravias.
Do alto, fica mais evidente o contraste entre a aridez das pedras ardósia, o azul do oceano e o verde do coqueiral. Poesia em forma de paisagem.
Quem aprecia aquela tranquilidade nem imagina o passado beligerante de Santo Aleixo, palco de disputas entre colonizadores europeus em busca de pau-brasil na costa pernambucana. Os franceses empreenderam ali sua primeira invasão ao País, deixando de legado o nome do território (Île SaintAlexis), antes de serem expulsos pelos portugueses, em 1521. A referência a essa passagem histórica está na réplica da cruz que teria sido usada na celebração da missa de paz feita por padres franciscanos.
Quando você pensa que não pode mais ser surpreendido, esquilos (!) cruzam o caminho. Não é miragem. Introduzidos irregularmente, os bichinhos acabaram se adaptando tanto ao ambiente tropical que divertem os visitantes triturando a polpa do coco verde. Uma graça. Nesse sossego todo, não há quem queira ir embora. Mas o sol ensaiando esconder-se no horizonte anuncia a hora da despedida. Resta navegar de volta com o brilho alaranjado do entardecer refletido na água.
A Monteiros Tour (99812-0696) é a empresa mais antiga que leva à Ilha de Santo Aleixo a partir de Barra de Sirinhaém. O passeio com guia e caiaque de cortesia custa R$ 80. De Serrambi, a Abissal (99933- 6927) cobra R$ 190, com água e banquete de frutas.