A ilha de Atlântida foi mencionada pela primeira vez em um conto do filósofo grego Platão, sendo descrita como um lugar rico e fantástico que teria sido afundado após uma catástrofe por volta de 9.500 a.C no Oceano Atlântico. A lenda de um paraíso submerso no mundo existe até hoje nas profundezas do imaginário popular. Todavia, este mito emergiu e se tornou realidade em pleno Sertão de Pernambuco, mais precisamente em Petrolândia, que completou 112 anos na última quinta-feira, a 459 km do Recife, bem às margens do Rio São Francisco.
A pacata cidade de 36 mil habitantes começou a ser chamada de “Atlântida Brasileira” há mais de 10 anos, quando começaram a aparecer de forma mais evidente os resquícios da antiga parte dela que foi inundada para a construção da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga, em 1988 (os vídeos foram gravados antes da pandemia).
De acordo com a lenda, Atlântida era um lugar deslumbrante com suntuosos palácios. Curiosamente em Pernambuco é uma edificação que aponta a localização da velha Petrolândia, no Lago de Itaparica. A construção foi a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, cujo topo sempre ficou visível, mas nos últimos anos apareceu mais à medida que o volume de água no reservatório foi baixando com a estiagem.
Com a (re)descoberta da antiga cidade, turistas de todo o Brasil e até do exterior estão começando a conhecer o local que também conta com outros encantos, como a Ilha de Rarrá e Serra do Padre (veja nos próximos domingos).
Atraídos não só pela lenda citada por Platão, mas também pela profecia de Antônio Conselheiro de que o Sertão vai virar mar, os visitantes vão lá comprovar o prenúncio e se banhar no mar artificial sertanejo. Quando a antiga Petrolândia foi inundada a população foi transferida para uma outra área, deixando para trás muita história que está voltando a aflorar no espelho da água e das lembranças. A Coluna Turismo de Valor decidiu então, literalmente, mergulhar no assunto e ir fundo nas belezas submersas da cidade.
O anfitrião é o mergulhador petrolandense Samyr Oliveira, que há mais de 10 anos leva turistas para mergulhar no lago. “É com imenso prazer que levo as pessoas para mergulhar na história da nossa cidade. É um verdadeiro tesouro submerso”, afirmou. O trajeto de barco até a igreja é feito em cerca de 20 minutos. A embarcação se aproxima com um respeito quase que sagrado de se estar diante de um altar, ainda que submerso. Tal como em uma celebração, os equipamentos são preparados. Depois de colocá-los, se chega o aguardado momento de submergir.
O passeio começa do lado de fora da igreja, contornando-a para depois se chegar em reverência ao seu interior. Sensação única de passar pelas escadarias da entrada e se ver no centro dela, sendo iluminado pelos feixes de luz que entram nas janelas. Um encanto que beira o divino. Complementado com a surpresa de se dirigir até a parede dos fundos, onde se localizava o altar, e se deparar com um azulejo com um desenho de Nossa Senhora, fixado no local pelos mergulhadores.
A enfermeira recifense Arielle Costa, do Recife, foi uma das que experimentou o mergulho. “É uma sensação indescritível você visitar uma igreja submersa. O lugar fica ainda mais lindo debaixo d'água e transmite uma paz muito grande”, descreveu.
O lugar encanta também estrangeiros. A bancária espanhola Ana Reguart, de 38 anos, que há sete vive no Recife, foi até Petrolândia para conhecer a igreja. "Eu tinha visto fotos dela na internet e quis conhecer. Ela realmente superou as expectativas, dá pra mergulhar e tirar muitas fotos boas. Sou apaixonada pelo Sertão e espero continuar conhecendo Pernambuco porque é maravilhoso", afirmou.
Platão estava certo. A Atlântida existe. E fica em Pernambuco.