Os brasileiros são a segunda população mais estressada do mundo, perdendo apenas para o Japão, com 30% das pessoas economicamente ativas sofrendo com a síndrome de burnout, um distúrbio que leva ao esgotamento físico e mental, segundo dados da International Stress Management Association (ISMA-BR). A pressão por entregar resultados está entre os maiores desencadeadores do problema.
Com a pandemia do novo coronavírus, o impacto negativo no ânimo dos trabalhadores se agravou em decorrência da crise econômica causada pela covid-19. O número praticamente dobrou. Atualmente, quase 60% dos profissionais empregados se sentem sobrecarregados com o excesso de trabalho nos últimos meses. Segundo Lauro Buarque, diretor da Consult Human, empresa especializada em consultoria e recrutamento, esse excesso de trabalho sobre forte influência das demissões no período pandêmico.
De acordo com ele, por causa disso, muito profissionais têm absorvido trabalho extra. Além desse fator, a mudança na dinâmica do trabalho prioritariamente remoto, que levou as pessoas a se manterem mais conectadas, o bombardeio de informações e o excesso de reuniões também têm contribuído para a sensação de sobrecarga e estafa. "Muitas empresas precisaram dispensar colaboradores no período da pandemia e os que ficaram tiveram que absorver mais tarefas. Além disso, a dinâmica de trabalho para muitos mudou: eles perderam o tempo de deslocamento, absorveram novas tarefas e ficaram na sensação de estar conectado o tempo todo", conta o especialista.
Um dos profissionais que se sentem sobrecarregados, o assistente administrativo Bruno Tabosa (nome fictício), 33 anos, chegou a parar no hospital com crise de ansiedade após uma longa jornada de trabalho. Ele conta que tem começado o expediente antes do horário e terminado depois. Ele também tem reduzido o intervalo de almoço e dormido menos que antes da pandemia. "Se você sofre de ansiedade e tem que fazer entregas rapidamente, essa crise junto com o medo de ficar desempregado te estimula a não cumprir os momentos de descanso, e isso acaba te sobrecarregando. Parece que você não para nunca de trabalhar, e uma hora a conta vem", diz ele, afirmando que se sente pressionado para se manter disponível o tempo todo e responder às demandas instantaneamente.
A “conta” vem mesmo. É o que explica a psicóloga e professora do UniFBV Geórgia Menezes. Segundo ela, o excesso de trabalho pode trazer problemas de saúde para os profissionais. Entre elas estão os causados por má postura, falta de atividade física e de sono de qualidade e alimentação deficiente. Há também prejuízo sobre as emoções, causando uma doença chamada síndrome de Burnout, que pode desencadear aumento da pressão arterial e levar a distúrbios cardíacos, respiratórios, dermatológicos e psicossomáticos. “O estresse gerado pela necessidade de produzir sempre mais e melhor, para garantir o emprego ou fazer virar um projeto individual, é um risco quando os sintomas físicos e psicológicos começam a aparecer mesmo sem a presença do estímulo”, afirma a psicóloga
Quando isso acontece, o organismo passa a interpretar o mundo externo e seus acontecimentos como um perigo constante. “Saímos da fase de alerta, que é normal e desejável frente aos desafios, para a de resistência ao estresse, com os primeiros sintomas físicos”, diz ela. Os sinais mais comuns são dores de cabeça, musculares e no estômago, fadiga e baixa libido, que surgem com frequência. “Se não tratados em sua origem, levarão a uma piora do quadro, chegando à fase de exaustão”, afirma Geórgia.
Mas não é tão simples reconhecer os sintomas e a gravidade da situação quando você está nela. Se desconfiar que sofre com o excesso de estresse, procure conversar com alguém de sua confiança e verificar se tem mudado comportamentos – por exemplo, ficando mais agressivo e mal-humorado em situações corriqueiras. “Não tenha vergonha de solicitar auxílio em questões práticas, como em orientações para organizar melhor os prazos de suas entregas, delegar mais, otimizar tempo e processos”, afirma Luciana Tegon, headhunter e master coach na Consultants Group.
“E, se notar que seu colega está exagerando na dedicação e que isso afeta a saúde dele, dê apoio. Uma boa conversa, iniciando por deixar claro o quanto você se preocupa, fará grande efeito”, diz Luciana. “Possivelmente, a pessoa já percebeu que algo não vai bem, e, sendo encorajada a buscar uma saída ou até ajuda profissional, terá motivação extra para enfrentar o problema.”
Os trabalhadores do Brasil também são os que mais perdem o sono devido ao estresse e ansiedade relacionados ao trabalho durante a pandemia, segundo estudo realizado com 12 mil funcionários de 11 países. O levantamento, realizado pela Oracle com a Workplace Intelligence, também indica que 42% dos brasileiros e 35% dos entrevistados globais estão trabalhando mais de 40 horas extras por mês e 21% dos trabalhadores brasileiros estão enfrentamento burnout, síndrome de esgotamento profissional.
Mais de 75% dos 1004 brasileiros entrevistados afirmaram que a covid-19 afetou negativamente a saúde mental, e entre os principais motivos estão: pressão para atender aos padrões de desempenho (44%), realizar tarefas rotineiras e tediosas (46%) e lidar com cargas de trabalho imprevisíveis (39%). Na média global, esses fatores ficaram em torno de 40%.
Segundo Maicon Rocha, gerente de soluções de Recursos Humanos da Oracle, muitas pessoas relataram que 2020 tem sido o ano mais estressante de suas vidas. “Grande parte delas se dedicou muito e se sobrecarregou para mostrar que poderia ser produtiva em casa”, diz Maicon.
Quase 90% dos brasileiros citaram ter enfrentados desafios enquanto trabalham remotamente — sendo a ‘falta de distinção entre vida e pessoal e profissional’ apontada por 43% deles e 43% dizendo sofrer problemas crescentes com saúde mental. Mais de 50% dos brasileiros confirmaram que suas empresa realizaram ações de apoio psicológico, mas 84% deles disseram que elas poderiam fazer mais para ajudá-lo ou protegê-los de um quadro de depressão, por exemplo.