Surpreendida pela pandemia do novo coronavírus, a população foi obrigada a repensar e reestruturar seus modos de conviver, trabalhar e consumir. Passaram-se sete meses desde que o primeiro caso de covid-19 foi registrado em Pernambuco, no dia 12 de março. Nesse período, não é exagero dizer que o mundo mudou e as rotinas agora são outras. Mas a importância das soft skills permaneceu, ou melhor, aumentou.
Este termo, que vem sido muito difundido no mundo do trabalho, aponta para uma combinação de competências interpessoais, sociais e de comunicação, traços de personalidade, atitudes, inteligência social e emocional. Elas também são conhecidas como competências transferíveis. São talentos e habilidades importantes e úteis em várias áreas da vida: social, profissional e acadêmica", explica Lauro Buarque, diretor da Consult Human, empresa especializada em consultoria e recrutamento.
Todos nós desenvolvemos soft skills em vários contextos: na vida escolar, nas experiências profissionais, no ambiente doméstico, realizando trabalhos voluntários, praticando esportes, cultivando hobbies e em outras atividades.
"As soft skills incluem competências de liderança, trabalho em equipe, competências de comunicação, solução de problemas, ética no trabalho, iniciativa e motivação, trabalhar sob pressão, cumprir prazos, competências organizacionais, capacidade de negociação, valorização da diversidade e da diferença, flexibilidade, capacidade de adaptação e habilidades interpessoais", completa Buarque.
As competências técnicas ou "hard skills" têm mais a ver com o que você sabe. Elas podem ser comprovadas por qualificações e são mais fáceis de quantificar.
Já as soft skills estão relacionadas aos comportamentos e à maneira como encaramos o trabalho. Embora não sejam habilidades técnicas específicas, elas são altamente valorizadas pelos empregadores.
Para Taynah Carvalho, gestora de pessoas e cultura da Nutrin, destacar as suas soft skills mostra como você lida com o trabalho, assim o empregador pode ter uma ideia do tipo de funcionário que você será. "Todos os empregadores buscam habilidades de comunicação bem desenvolvidas. Ser capaz de trabalhar com os colegas, ouvir os outros e compartilhar ideias de uma forma bem articulada é essencial em qualquer ambiente de trabalho", pontua.
Algumas soft skills, como pensamento crítico e criatividade, sempre foram buscadas pelos empregadores, mas nos últimos anos, outras qualidades vêm ganhando destaque, por exemplo a inteligência emocional. A ideia é ter empatia, autoconhecimento e capacidade de lidar com situações emocionalmente complexas. "Os empregadores sabem que os candidatos com essas características podem se adaptar rapidamente e trabalhar bem com vários tipos de pessoas", comenta ela.
Um levantamento global do Linkedin mostra que essas competências comportamentais são maioria entre as dez habilidades mais valorizadas por empregadores. Segundo o estudo, a mais citada foi comunicação. A lista ainda inclui capacidade de liderança , de aprendizado online e de resolução de problemas. A pesquisa analisou as exigências de cerca de 12 milhões de vagas disponíveis na plataforma.
Pela ordem, após comunicação vêm gestão de negócios, resolução de problemas, ciência de dados, gerenciamento de tecnologias de armazenamento de dados, suporte técnico, liderança, gerenciamento de projetos, aprendizado online e aprendizagem e desenvolvimento de funcionários.
“A pandemia tornou essas habilidades humanas tão necessárias que, mesmo quem não estava aberto a elas antes, agora terá que desenvolvê-las” , explica Luana Cepellos, especialista em gestão de pessoas pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Para ela, as “soft skills” também ganham importância por causa das mudanças tecnológicas: “São competências mais difíceis de serem reproduzidas por uma máquina.”
É importante reconhecer, definir e saber apresentar as soft skills que você já desenvolveu. "Mesmo quando estamos longe de ambientes formais de trabalho, continuamos desenvolvendo as soft skills", explica Taynah Carvalho. "Se tornar mãe ou pai, por exemplo, pode facilitar o desenvolvimento de habilidades de gerenciamento de projetos, organização de eventos, execução de várias tarefas ao mesmo tempo e habilidades de comunicação", completa.
"Costuma ser difícil identificar os pontos fortes e as soft skills que temos, então vale a pena conversar com antigos colegas, amigos e parentes para entender quais são as suas capacidades", diz ela. Às vezes, não percebemos nossas maiores habilidades e pensamos que todos têm as mesmas capacidades.
"Pergunte a quatro amigos ou colegas quais eles acham que são os seus pontos fortes e onde você faz a diferença. Assim, você terá as evidências e o vocabulário para falar sobre as suas qualidades", aconselha Luana Cepellos.
Na hora de apresentar suas soft skills para um possível empregador, é muito importante dar exemplos concretos para se destacar. "Você precisa mostrar o seu diferencial e como pode agregar valor ao seu trabalho na empresa. Apresentar suas soft skills de forma organizada é uma boa maneira de fazer isso", acrescenta ela. "Se dois candidatos têm experiência de trabalho semelhante e frequentaram boas universidades com bons resultados, as soft skills vão fazer a diferença".