As estreias nos cinemas foram as primeiras impactadas com a pandemia do novo coronavírus, com produções de diversos portes sendo adiadas ou até canceladas, estreando diretamente nas plataformas de streaming. Nesse cenário, há um outro segmento que teve um pouco mais de tempo para ver se haveria possibilidade de ser realizado normalmente, mas que também precisará de mudanças significativas: os festivais. O nó apertou tanto para os gigantes globais como para os locais mais independentes.
Da trindade Berlim, Veneza e Cannes, talvez só o primeiro poderá dizer que teve uma edição 2020, realizada pouco antes do isolamento social. O prestigiado festival francês, tradicionalmente realizado em maio, chegou a ser adiado para junho, mas a França já decretou que eventos não serão permitidos até meados de julho. Então trata-se de um ano que passará batido para o mundo dos festivais? Pelo visto, não totalmente. Organizadores se movimentam e repensam a dinâmica desses eventos ao trazerem experiências online para manter viva a energia de frescor criativo que essas iniciativas sempre carregaram. As telas agora serão menores, claro, mas o empenho é fascinante e de grande ajuda nesse momento complicado.
A maior dessas iniciativas talvez seja a We Are One: A Global Film Festival, organizada pelos organizadores do Festival de Tribeca, realizado anualmente em Nova York, tendo o ator Robert De Niro como uma de suas principais cabeças. A empreitada será abastecida pelo maiores do mundo, incluindo os já citados Cannes, Veneza, Berlim, além de outros como Sundance, Toronto, Locarno, Marrakesh, San Sebastian, Annecy e outros ao redor do globo. O We Are One será realizado em parceria com o YouTube e terá acesso gratuito. Longas, curtas, documentário, ficção, animação, tudo será contemplado, além de conversas e masterclasses.
A programação ainda não está detalhada e os indicativos é de que serão exibidos filmes clássicos e alguns outros que não tiveram ampla circulação durante sua época de lançamento. Segundo o site Deadline, os filmes marcados para os grandes festivais não são esperados, por motivos financeiros e legais. Ainda de acordo com a publicação, Cannes fornecerá apenas conteúdos de masterclass. O festival começa no dia 28 de maio e arrecadará doações para diversos fundos de combate ao coronavírus.
Por aqui pelo Brasil, iniciativas semelhantes vêm surgindo. O Festival Internacional de Cinema de Brasília, realizado entre os últimos dia 21 e 26, foi todo realizado online. Os filmes dentro das mostras competitivas e especiais. O público pôde ter acesso gratuitamente a clássicos como A Montanha dos Sete Abutres e Assim Estava Escrito, em um homenagem especial ao astro Douglas Kirk, falecido neste ano, assim como curtas e longas nacionais e estrangeiros. Atividades formativas, como cursos e debate também foram disponibilizadas online.
Em Pernambuco, o pioneiro nesse sentido foi o Curta Taquary, que teve sua 13ª edição realizada virtualmente. O festival, que é realizado tradicionalmente em Taquaritinga do Norte, no Agreste do Estado, disponibilizou gratuitamente mais de 82 obras de suas mostras. O público ainda pôde escolher os melhores filmes do júri popular.
Já o Festival É Tudo Verdade, o maior voltado para documentários na América Latina, é dono de uma dessas iniciativas online. O evento organizou uma retrospectiva com obras dos primeiros momentos de sua história, iniciada em 1996, além de importantes obras dirigidas por mulheres nesse período e outra voltada para a obra de José Mojica Marins, o Zé do Caixão. A mostra feminina segue no ar e pode ser acessada até o dia 23 de junho e os planos para a edição presencial estão para setembro.
Quem também entrou em um onda de retrospectiva de seus melhores momentos foi o Festival Varilux de Cinema Francês, que lançou sua edição Em Casa. Ao todo, foram disponibilizados 50 filmes de todas as edições. É um verdadeiro passeio por obras por populares obras do cinema francês, passando por estrelas como Juliette Binoche, Gérard Depardieu, Marion Cotillard e Catherine Deneuve, além de diretores como François Ozon e Olivier Assayas.