No dia 22 de outubro de 2019, às 20h28, a cantora carioca Ludmilla postou um desafio junto com uma promessa em seu perfil no Twitter: “Se eu vencer na categoria Melhor Cantora no Prêmio Multishow, eu lanço um EP de pagode. Agora é com vocês”. Como a premiação musical dependia de voto popular, sete dias depois, o troféu foi conquistado.
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E aí não teve jeito. Na madrugada do dia 30, à 1h02, horas após o evento musical, a artista de 25 anos voltou ao seu Twitter para anunciar que cumpriria a sua parte: “O EP de pagode vem”.
E veio. No final de abril, Ludmilla, que ficou conhecida do público por sua carreira no pop e no funk, lançou nas plataformas digitais o compacto Numanice (Warner Music, 2020), com seis faixas inéditas voltadas completamente ao pagode.
O Jornal do Commercio conversou com a cantora e, para ela, este trabalho ia acabar saindo em algum momento, independente de promessa. “Acredito que sim! Eu sempre tive um relacionamento muito forte com o gênero... Cresci cantando e ouvindo! Recentemente também regravei diversas músicas que foram um super sucesso, e os fãs sempre me pediam por isso! Então, este lançamento foi também um presente para eles que sempre me apoiaram”, declara Lud, que assina sozinha quatro das seis canções do álbum. “Algumas já estavam rascunhadas, ou existiam apenas trechos. Mas todas foram finalizadas durante o processo de produção do EP”, explicou.
Ludmilla deu mais detalhes de sua afinidade com o pagode: “Eu comecei a cantar em rodas de samba da minha família. Mesmo seguindo para o pop funk após me profissionalizar, sempre amei e tive um carinho imenso pelo pagode e pelo samba, que fez e faz parte da minha vida e da minha carreira”. Para ela, mesmo com o lançamento de Numanice, não é possível enxergar esse momento como um hiato de sua carreira no pop. “Não levo como uma pausa, não. Hoje o pop é um grande mix de diversos gêneros! Esta fase é mais algo para dar uma inovada e lembrar das minhas raízes”, reforça.
Com produção musical de Rafael Castilhol, Lud revelou que teve liberdade para dar os seus pitacos no desenvolvimento EP. “Era algo que tinha planejado há um tempo, então, juntos, fizemos um trabalho bem massa! Um dia após o lançamento, todas as músicas já estavam entre as mais tocadas do país no Spotify”, comemora.
Numanice abre com a faixa Amor Difícil que reúne todos os elementos de um bom “pagode raiz”: Uma breve introdução de cavaquinho, uma letra sobre um drama amoroso, paradinhas estratégicas e melódicas no arranjo, um refrão pegajoso acompanhado de backing-vocals, e ainda tem aquele famoso “lará-lará”. Composta por Ludmilla, a letra tem um quê autobiográfico – “Faço a minha mala, dou uma viagem / O comentário é foda, é Ludmilla na cidade / Luzes, sexo, festas, drogas / Me sinto vazia, sem ela nada disso importa” – e a cantora justifica. “É a música de trabalho do álbum e com certeza uma das mais marcantes. Acho que todo mundo já passou por um “amor difícil”, passou por essa experiência. É um mix do que já vivi e do que as pessoas vivem também. Ela é a cara do pagode!”, diz ela aos risos. O disco segue com Não é Por Maldade, que conta com a participação de Marvvila, uma cantora revelada na quinta temporada do The Voice Brasil (2016).
Boa parte das letras de Numanice tem algo um pouco raro no pagode: músicas românticas cantadas por mulher para outra mulher. E o motivo é mais que nobre. Afinal, Ludmilla só tem olhos para a esposa, a bailarina Brunna Gonçalves, com quem se casou em dezembro do ano passado. E esse amor fica mais explícito em canções como Te Amar Demais (escrita por Sodré) e, especialmente, Cheiro Bom do Seu Cabelo. “Ela é o grande amor da minha vida e sempre me inspira! Cheiro Bom do Seu Cabelo foi feita especialmente para ela”, admite Lud, que assina a faixa.
As duas últimas faixas do EP entregam a vibe solar do projeto, já que Numanice tem justamente a ideia de algo mais alegre, como uma boa roda de samba. Pôr-do-Sol na Praia e, principalmente, Tô de Boa, poderiam ser facilmente interpretadas por artistas consagrados no pagode como Ferrugem e Thiaguinho, respectivamente, mas é Ludmilla quem dá toda a força e propriedade nessas canções.
Perguntamos a Ludmilla se algum hit do seu repertório original se encaixaria nesta “vibe Numanice”: “Ish, tantas! (risos) Acho que grande parte das minhas músicas tem exatamente a ideia de falar sobre liberdade de expressão, sabe? Acho que super daria para encaixar Cheguei e Verdinha, que falam exatamente sobre esta liberdade e empoderamento feminino”.
Mesmo em tempos de isolamento social, Numanice revela-se um EP, de fato, “pra cima”, capaz de animar qualquer ambiente com clima de festa. Mas enquanto não dá para comemorar o trabalho presencialmente com um grande público, Ludmilla tem aproveitado bem o tempo de reclusão. “Tenho tentado focar nas coisas/tarefas que gosto, aproveitado para ficar mais ao lado da minha família, ler a Bíblia, assistir séries, e sempre pensar em novos projetos profissionais também. E tenho estudado bastante também duas coisas que gosto muito: inglês e produção musical”, entrega a artista do pop com alma – agora mais que explícita – de uma boa pagodeira.