'Dedicated Side B': Carly Rae Jepsen captura a euforia da pista de dança

Com 12 faixas, álbum reúne músicas que não entraram no último álbum da canadense
Márcio Bastos
Publicado em 27/05/2020 às 14:37
Carly Rae Jepsen escreveu cerca de 200 músicas nas sessões de 'Dedicated' Foto: Divulgação


Carly Rae Jepsen é uma das artistas mais prolíficas e consistentes do pop. Enquanto alguns de seus contemporâneos optam por processos criativos rápidos, com sessões em um esquema quase fordista de produtores e compositores com prazo para entregarem hits certeiros, a canadense costuma produzir - e muito - a cada trabalho. Só para o Dedicated, seu último álbum, ela compôs 200 canções. As “sobras” costumam ser tão boas quanto o material que entra nos discos e, para sorte dos fãs, a artista tem percebido o potencial dessas faixas, como mostra no recém-lançado Dedicated Side B.


Lançado praticamente um ano após o Dedicated, a nova coletânea de músicas da canadense comprova sua fórmula infalível para criar refrões memoráveis e narrativas de amor, euforia e corações partidos embaladas por sintetizadores. A experiência, inclusive, não é nova para Carly Rae Jepsen: em 2016, ela lançou Emotion: Side B, também com faixas que não entraram no clássico instantâneo Emotion (2015).

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Assim como no caso do Emotion: Side B, praticamente todas as 12 faixas do Dedicated Side B rivalizam com o que há de melhor nos seus álbuns-irmãos. O synth-pop, com inspiração na música dos anos 1980, assim como na disco music, sonoridades que ela vem explorando nos últimos cinco anos, dão o tom das canções e atingem a perfeição em músicas como Summer Love, que captura a atmosfera de liberdade e excitação que uma paixão pode despertar, e Let’s Sort The Whole Thing Out. Ambas parecem ter saído das pistas alternativas dos anos 2000, quando conceitos como indie e mainstream começavam a fazer as pazes.


Esse, aliás, é um dos grandes trunfos da canadense como intérprete e compositora: sua voz é discreta, mas cheia de sentimento, e as letras são diretas e certeiras, tentando dar corpo a sentimentos às vezes indescritíveis. Como nas faixas de gigantes do pop, como ABBA, Madonna, Janet Jackson, Donna Summer e Cyndy Lauper, Carly provoca reflexões emocionais que não passam necessariamente pelo racional, mas pelo êxtase do corpo em movimento, a exemplo de Solo e Stay Away.


Para quem não acompanha a carreira de Carly Rae Jepsen, ela estará para sempre paralisada no sucesso monstruoso de Call Me Maybe, uma das canções mais vendidas da história. Mas, já faz um tempo, a cantora foi abraçada pela crítica e pela crítica sem que, para isso, tenha abandonado suas raízes pop. É justamente o conhecimento profundo dela do gênero, que é um grande guarda-chuva para várias sonoridades e influências, que faz dela uma expert em criar faixas-chiclete como This Love Isn’t Crazy, cuja explosão de sintetizadores é quase hipnótica, e Fake Mona Lisa.


Quando explicou o processo de produção das canções, Carly disse querer capturar o sentimento das festas na sua casa, quando a sala se transforma na boate. Não por acaso, o primeiro single do trabalho se chamava Party For One (“festa para um”, em português). Um ano depois, se divertir em casa se tornou não só uma possibilidade, mas uma exigência.

E, com suas novas-velhas canções, a artista cria um espaço seguro, uma possibilidade de escapismo e de vislumbre de dias melhores contra a dureza da pandemia que faz com que a pista de dança (seja ela literal ou imaginária), se torne, mais uma vez um símbolo de esperança. Afaste os móveis e dance.

 

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