Os últimos anos têm sido duros para o mercado da arte, com crises políticas e econômicas. O aprofundamento dessas dificuldades em decorrência da pandemia do coronavírus - e o consequente fechamento dos espaços físicos de comercialização e das instituições voltadas para o setor - tem estimulado galeristas e artistas a buscar soluções para reverter o quadro. Em Pernambuco, galerias estão investindo no comércio virtual e em atividades nas redes sociais para atrair novos clientes e fomentar a produção artística.
Com 21 anos no mercado, a Amparo 60 acaba de lançar sua loja virtual (www.amparo60.iluria.com). O projeto já estava nos planos de Lúcia Santos para 2020, mas foi acelerado com a eclosão da pandemia, uma vez que o espaço físico da galeria, no Edifício Califórnia, em Boa Viagem, precisou fechar as portas temporariamente. Na plataforma, estão obras do casting da galeria, como Juliana Lapa, Derlon e Alice Vinagre, com recorte em trabalhos com valores mais acessíveis.
“A gente já sentia umas oscilações no mercado e a necessidade de estarmos mais presentes no mercado digital. Já estava sendo mais difícil tirar as pessoas de casa, fazer com que visitassem as galerias, o que se refletiu em um 2019 complicado”, conta Lúcia. “Esta fase é de teste, pretendemos expandir o site, encontrar parceiros, promover mais ações. Mais do que uma galeria, somos um espaço cultural e fazemos parte de uma cadeia que envolve muita gente que precisa trabalhar.”
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Lúcia Santos ressalta ainda que entre as dificuldades enfrentadas pelas galerias está ainda necessidade de manutenção das obras nos espaços físicos, o que tem exigido um planejamento especial, com a equipe de revezando nas funções.
Localizada no Bairro do Recife, a Arte Plural Galeria também planeja abrir uma loja virtual, em outubro. Enquanto isso, disponibiliza seu acervo para consulta através do site (www.artepluralgaleria.com.br) e está funcionando com visitas previamente agendadas. O empreendimento, que comemora 15 anos em atividade, também promove dois projetos para dar visibilidade aos artistas locais durante o isolamento social. O primeiro é Retratos da Quarentena, com Renato Vale, no qual cria uma obra a partir de imagens enviadas pelo contratante; e o #aartenaopodeparar, com divulgação de obras dos artistas do casting através das redes sociais.
Plataformas como o Instagram, inclusive, têm sido utilizadas pelas galerias como uma maneira de estimular atividades e estreitar a relação com o público. A Amparo 60 tem feito lives semanais, às quintas-feiras, sempre às 19h, com artistas de seu casting e convidados. Cláudia Aires, que mantém a Nuvem Produções com Guga Marques, também tem utilizado a rede social para fomentar o debate em torno da produção artística e do mercado da arte, sempre às segundas-feiras.
A Nuvem, explica Cláudia, nasceu no ambiente virtual, com uma loja online (www.nuvemstore.iluria.com), e só posteriormente teve um espaço físico, na Galeria Joana D’Arc, de 2013 a 2017. Na internet, o projeto manteve sua proposta de evidenciar novos artistas, além de fortalecer artistas com uma trajetória já consolidada.
“Já surgimos no mercado sem essa divisão entre o físico e o online e sempre investimos em um catálogo de obras acessível, que pudesse dialogar com um público interessado em arte que não necessariamente tivesse um grande poder aquisitivo. Nosso perfil de comprador é o do novo colecionador, de profissionais liberais. Mas, o mercado já está em baixa há algum tempo, sinto que especialmente desde 2017, quando se aprofundou a crise institucional no Brasil e o achincalhamento da classe artística por parte de um setor reacionário”, explica Cláudia.
Entre os projetos da Nuvem está o foco semanal na produção de um artista, com publicações nas redes sociais, além das transmissões ao vivo. Cláudia observa um retorno positivo dessas ações e vê uma troca importante com o público e com a classe artística.
Para Yêda Bezerra de Melo, que mantém com Renata Victor a DuoGaleria (www.duogaleria.com.br), focada na produção fotográfica de ambas o e-commerce de arte passa por uma ressignificaçao. A galeria, que sempre foi virtual, deve passar em breve por algumas mudanças para dialogar com as necessidades do momento, propondo ações solidárias para auxiliar no combate à pandemia.
“É compreensível que, neste primeiro momento, as pessoas estejam direcionando seus gastos para itens de primeira necessidade e estejam com medo de investir em arte”, pontua Yêda. “Mas, a venda das fotos também impulsiona a economia da cadeia que envolve a fotografia: nós (artistas), os arquitetos, impressores e entregadores.”
Lúcia Santos enfatiza que este momento de busca por soluções vai exigir não só a criatividade de cada empreendedor, como também a colaboração das galerias entre si, além dos artistas. Antes da pandemia, a Amparo 60 tinha recém-inaugurado uma exposição com José Guedes e planejava outra com Márcio Almeida. Uma ideia para não promover mais atividades é, em breve, investir em mostras virtuais, alternativa que foi empreendida recentemente pela Galeria Ranulpho com a exposição Pérolas Preciosas.
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Assim como as galerias, as instituições de arte têm buscado soluções para auxiliar a cadeia produtiva neste momento, a exemplo do Itaú Cultural, que recentemente selecionou sete artistas pernambucanos, entre eles Alcione Ferreira, Renato Valle e Bruno Vieira, em seu edital emergencial para as artes visuais.