Ana Leopoldina dos Santos (1923-2008) está tão associada à sua arte que suas criações viraram não só cartão de visita, como parte de sua identidade. Ana das Carrancas, como ficou internacionalmente conhecida, deixou sua marca na cultura do Estado, tornando-se um símbolo de talento e resistência. Entre os louros já recebidos, sua trajetória deve agora lhe conferir outro título, o de Patrona da Arte Ceramista em Barro, conferido pela Assembleia Legislativa de Pernambuco.
O Projeto de Lei para titulação da artista tem autoria do deputado Antônio Coelho (DEM) e já recebeu parecer favorável na Comissão de Constituição e Justiça, em sessão ocorrida segunda-feira (1). A relatora foi a deputada Teresa Leitão (PT), que forçou a importância da escolha de Ana das Carrancas.
"Foi uma satisfação de ter sido sorteada para fazer parte desse relatório porque estamos falando da força da arte popular, da produção de uma mulher negra, um símbolo de resistência, que é um ícone de Pernambuco", pontuou Teresa.
Agora, é preciso receber o aval da Comissão de Educação e, depois, seguir para votação no plenário. A expectativa é de que a aprovação ocorra até o fim de setembro.
Para Antônio Coelho, a homenagem é um reconhecimento do talento da artista e também de sua contribuição para a cultura de Petrolina e do entorno do rio São Francisco.
"Ana das Carrancas impactou a cultura de Pernambuco e permitiu que nossa arte transcendesse fronteiras. As carrancas são icônicas na cultura sertaneja, símbolo de proteção, e ela trabalhou essa tradição imprimindo seu próprio estilo. Toda sua história, sua relação com a arte, é digna de celebração", reforçou.
Quando Ana chegou a Petrolina, na década de 1950, a história das carrancas, figuras antopomórficas, criadas para afastar os espíritos os maus espíritos, logo chamou sua atenção. Com a mãe louceira, aprendeu a trabalhar com o barro e, aos poucos, passou a utilizar suas habilidades para criar arte. Compartilhando do imaginário da cultura rebeirinha do São Francisco, Ana passou a vender, junto às louças, suas carrancas.
Seu talento, lenta, mas gradativamente, foi chamando a atenção, até que virou notícia para além da região, aguçando a curiosidade dos moradores de outras cidades, como o Recife. Suas peças contêm um traço inconfundível, os olhos vazados, uma homenagem ao marido, José Vicente, que era cego.
Em Petrolina, ganhou um centro cultural dedicado à sua produção e legado cultural, além de ter sido eleita pelo Governo do Estado como Patrimônio Vivo de Pernambuco, em 2005.
Por definição, um patrono é um indivíduo reconhecido por sua luta em prol de uma causa, engajado na promoção de seu fazer e que, em sua trajetória, deixou uma contribuição excepcional para sua área de atuação.
A homenagem a Ana das Carrancas faz parte de uma série de titulações para indivíduos com contribuições excepcionais para o Estado que a Assembleia Legislativa tem promovido este ano. Paulo Freire foi eleito Patrono da Educação em março; Clarice Lispector, da Literatura, Dom Helder Câmara, dos Direitos Humanos, e Mestre Vitalino, da Arte do Barro, em agosto.
Outros nomes devem ser aprovados em breve. São eles: Ariano Suassuna, como Patrono da Cultura; Abelardo da Hora, das Artes Plásticas; Naná Vasconcelos, da Percussão; Osman Lins, da Dramaturgia; João Cabral de Melo Neto, da Poesia; Reginaldo Rossi, do Brega; e Cícero Dias, da Estética do Modernismo.