Festival de Roma presta homenagem ao diretor brasileiro Glauber Rocha

Filme é inspirado no filme "Claro", rodado por Rocha em Roma em 1975, durante seu exílio na Itália
JC
Publicado em 19/10/2020 às 12:59
Documentário Glauber, Claro, do cineasta brasileiro César Augusto Meneghetti, 55 anos, faz uma homenagem ao Pai do Cinema Novo Foto: Divulgaçãoi


Com um documentário sobre seu exílio voluntário na Itália nos anos 1970, o Festival de Cinema de Roma homenageou o diretor brasileiro Glauber Rocha, considerado o pai do "Cinema Novo".

O documentário, intitulado "Glauber, Claro", do cineasta brasileiro César Augusto Meneghetti, 55 anos, apresenta ao espectador o espírito de Rocha, em sua vital criatividade acompanhada pela necessidade de protestar à sua maneira contra um sistema e um mundo que rejeitou.

"É um metafilme, nos metemos dentro de um filme e seu mundo", disse à AFP Meneghetti, que não pôde comparecer à exibição desta segunda-feira no auditório do MAXXI em Roma, devido à pandemia.

O filme, dedicado ao influente diretor, ator e roteirista, falecido em 1981 aos 43 anos, é inspirado no filme "Claro", rodado por Rocha em Roma em 1975, durante seu exílio na Itália.

O mosaico de memórias, de amigos, de atores, de colaboradores e críticos, descreve toda uma geração que acreditava em princípios e se sentia politicamente comprometida.

"Na montagem fomos guiados pela sinceridade, pelo emocional, o que vinha do coração, a cronologia não contou. Nos deixamos levar”, contou Meneghetti.

Conhecido pelos seus filmes políticos, expressos de forma forte, muitas vezes aliados ao misticismo e ao folclore, entre eles "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de 1964, mas também pelo seu estilo e fotografia particulares, Glauber Rocha 45 anos depois continua muito atual.

"Esses jovens de 80 anos que entrevistei ainda são muito vitais e ainda acreditam que devemos lutar por um mundo melhor", disse Meneghetti, que queria fazer o filme desde 2005, quando estudava no Centro Experimental de Cinema de Roma.

Ditadura e censura

Glauber Rocha, que contava histórias entre a verdade e a imaginação, foi censurado no Brasil durante a ditadura militar (1964-1985), razão pela qual deixou seu país para morar em vários lugares, como Espanha, Chile, Itália e Portugal.

"Ele foi um visionário. Ele antecipou o homem global e também foi um pensador", afirmou o cineasta, que não o conheceu pessoalmente.

2020 GLAUBER, CLARO -TRAILER_02 ENG from césar meneghetti on Vimeo.

O documentário aborda, sem dizer explicitamente, argumentos muito atuais no Brasil, como autoritarismo, violência estatal e racismo. Usa material inédito do arquivo histórico da televisão estatal italiana. "Foi uma sorte poder mostrar um importante pedaço da história do cinema", resume Meneghtti.

 

TAGS
cultura cinema Itália Glauber Rocha ditadura militar censura
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory