Desde 24 de outubro de 2000, muitos não podem entender o que há por trás da capa de um disco de rock que ilustra um soldado com asas de libélula. Mas o conceito da ilustração feita pelo vocalista e multi-instrumentista Mike Shinoda pode ser facilmente ser traduzido por uma fala do vocalista principal, Chester Bennington: "Descrever a mistura de elementos musicais pesados e suaves com o uso dos olhares cansados do soldado e os fracos toques das asas". E é exatamente assim que pode ser definido o Hybrid Theory (Warner Music, 2000), o álbum de estreia da banda Linkin Park, que completou no último sábado (24) exatos 20 anos de lançamento.
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O que Mike e Chester não sabiam é que a banda californiana formada por eles, mais Brad Delson na guitarra, Dave Farrell no baixo, Rob Bourdon na bateria e o DJ Joe Hahn, com esse disco - que tem em seu título o primeiro nome do conjunto - apresentariam ao público um som completamente novo, pois Linkin Park sempre representou mais que rock. Em Hybrid Theory, suas 12 faixas - com produção musical de Don Gilmore - somam quase 38 minutos de uma música imersa no metal, fusionado com rock alternativo, hip hop e batidas eletrônicas. Fórmula esta que fora definida na época do lançamento do disco como "nu metal", "rap metal" ou "new metal", e se tornaria uma marca registrada do Linkin Park (os potentes gritos cantados de Chester mais os raps de Shinoda) também nos trabalhos posteriores.
Gravado entre março e junho de 2000, o disco teve One Step Closer - a segunda faixa - escolhida como o primeiro single do trabalho. Não demorou muito para que a música, junto a um videoclipe gravado numa passagem subterrânea em Los Angeles, invadissem a MTV e outros canais musicais mundo afora, até chegar aqui no Brasil. "[Esse disco] Foi o meu primeiro contato com a banda. Eu era um jovem de 21 anos, estava no pré-vestibular, e um amigo tinha uma cópia e me emprestou. Só lembro que eu ligava o som nas alturas, ia no [site] Vagalume buscar as letras pra não 'fazer feio' cantando e acompanhando a tradução", relembra o supervisor de qualidade Thiago Moraes, hoje com 35 anos.
Uma das canções mais emblemáticas e conhecidas do Hybrid Theory está na oitava faixa, intitulada In The End. Hit esse que conquistou de imediato a professora de inglês Cassandra Brito, de 27 anos: "Eu tinha 11 anos. Estava assistindo à MTV e de repente começou o clipe de In The End. A sensação da descoberta foi incrível! Lembro claramente que fiquei alucinada com o que estava ouvindo. A música era simplesmente perfeita. Desde então, nunca parei".
Além da sonoridade e interpretação únicas, o disco de estreia do Linkin Park expunha o público a letras bastante densas, inspiradas em sua maioria por experiências traumáticas que Chester viveu em sua infância, como abuso infantil, o divórcio dos pais, isolamento social, além de decepções e sentimentos pós-términos de relacionamentos mal sucedidos. Em 2002, o vocalista deu detalhes de Crawling, o segundo single do álbum, à revista Rolling Stone. "É facil cair naquela cilada — 'pobre de mim, pobre de mim', é daí que canções como Crawling vem: Eu não posso me aguentar. Canções como essa falam sobre assumir a responsabilidade pela sua situação. Em Crawling, eu não falo 'você' em nenhum momento. É sobre eu ser o motivo de estar como estou. Tem alguma coisa que me agarra e me puxa para baixo", contou o músico, que daria fim à sua própria vida em julho de 2017.
Vinte anos depois do Hybrid Theory, mesmo com a perda de Chester Bennington, o Linkin Park resolveu celebrar com os fãs este marco zero da banda. No último dia 9, eles realizaram uma live paga para responder perguntas dos admiradores sobre o disco, sendo a primeira reunião do grupo após a tragédia que vitimou seu principal vocalista. A cereja do bolo, porém, veio com o álbum Hybrid Theory (20th Anniversary Edition) (Warner Music, 2020), lançado no mesmo dia nas plataformas digitais. O registro é composto de 80 faixas junto à tracklist original, contendo demos, remixes, lado B, versões especiais e até uma canção inédita, intitulada She Couldn’t.
Com 24 milhões de cópias vendidas pelo mundo, e considerado pela crítica um dos álbuns mais importantes do rock – além do disco de estreia mais vendido no gênero desde Apettite for Destruction (1987), do Guns N’ Roses – Hybrid Theory, do Linkin Park, se torna um disco necessário de ser ouvido. “Hybrid inaugura uma nova fase no rock, então certamente deve ser celebrado, pois introduz a marcante mistura entre metal e rap junto aos vocais poderosos dos caras”, justifica Thiago. “É um bombardeio de músicas absurdas! Acho que minha ligação pessoal com a música é bem definida nesse disco, pelo propulsor de energia que cada faixa causa em mim”, completa Cassiane.