Há alguns meses, eventos virtuais, editoras e projetos literários têm colocado em destaque em suas programações e lançamentos a vida e obra de Clarice Lispector, já que 2020 é o ano de seu centenário. A efeméride é, de fato, comemorada no próximo mês de dezembro, e duas datas são de importância indiscutível, 9 e 10. A primeira marca sua morte, em 1977 - na véspera de completar 57 anos - e a segunda seu aniversário. É justamente ao longo desses dois dias que acontece a segunda edição da Semana do Livro de Pernambuco, organizada pela Internacional do Livro de Pernambuco.
A programação, anunciada nesta terça (17), é enxuta mas muito bem pensada, reunindo grandes nomes que têm uma estreita relação com a produção literária da homenageada. Quem abre o evento é o escritor norte-americano Benjamin Moser, biógrafo de Clarice e recém-contemplado pelo Pulitzer por Sontag (Companhia das Letras, 2020). Ele irá falar às 18h na palestra O Primeiro Beijo e Outras Histórias, sobre como conheceu a obra de Clarice Lispector e da travessia até a escrita da biografia.
Em seguida, às 20h, é a vez de debater A Potência do Mínimo Segundo Clarice Lispector, com a crítica literária Eliane Robert. Ela parte da frase "tudo o que é vivo se contrai", do livro de crônicas A Descoberta do Mundo para explorar a maneira como Clarice explorou toda sorte de "matéria vivente".
No dia 10 o Recife urbano da infância de Clarice toma conta da conversa. Às 18h a arquiteta Amélia Reynaldo vai falar sobre A Cidade Sitiada. Não romance homônimo de Clarice, mas como era esse Recife da primeira metade do século 20 em que a autora e sua família moraram e que ela retratou em obras emblemáticas, como Felicidade Clandestina.
Encerrando essa Semana do Livro de Pernambuco, às 20h, a escritora Marilene Felinto traz para a conversa um olhar íntimo sobre a obra de Clarice com a palestra Um Mundo Todo Vivo Tem a Força de um Inferno, em que vai abordar tanto suas leitoras pessoais quanto uma análise de como as empregadas domésticas são tratadas nas obras de Lispector.
Para o curador do evento, Schneider Carpegianni, o objetivo foi pensar numa programação que revelasse recortes menos comuns a partir da obra de Clarice Lispector e que pudesse ser visto como um minicurso de dois dias, gratuito e aberto para o público de qualquer cidade pela facilidade do digital.
"Acredito também que o que costura essas quatro falas é a questão do fantasma que toda cidade tem de algum escritor, alguma escritora. E o Recife tem isso muito forte com Clarice, com Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto', pontua. "Clarice passou a infância aqui e para o público de fora pode ser uma oportunidade de conhecer mais essa Clarice do Recife e não apenas a Clarice do Rio de Janeiro."
As lives serão transmitidas através do site e depois ficarão disponíveis nas plataformas da Bienal.