É fato: 2020 não tem sido fácil para ninguém. E nesta segunda-feira (23), quando faltam 39 dias para acabar o ano, o comediante Leandro Hassum estreia no canal fechado TNT o especial 2000 e Vishhh..., em que fará uma retrospectiva bem humorada de tudo o que temos passado em quatro episódios semanais - todas as segundas - às 23h30. E em entrevista ao Jornal do Commercio, o carioca de 47 anos fala não só deste novo programa, mas faz a sua própria avaliação do ano que — felizmente — está terminando.
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JORNAL DO COMMERCIO — Hassum, 2020 foi de fato um ano ruim para você?
LEANDRO HASSUM — O ano foi difícil pra todos. Muitas angústias e aflições no início com a saúde e insegurança de tudo, né? Mas artisticamente, preciso me sentir em movimento e foi então que me adaptei a uma nova realidade. Eu precisava me conectar com meu País e com o público, então vim para o Brasil e quis achar uma forma de fazer isso ser possível. Fiz mais de 15 shows em drive-in, por exemplo, que era uma ideia antiga minha e que pôde ser colocada em prática agora. Também teve o programa da TNT e agora estou ensaiando uma peça infantil e meu novo show [É Nóix Família!] que estreiam em janeiro do ano que vem. Com isso, sou grato às oportunidades, mas ainda assim considero um ano de muito aprendizado, muito duro para a humanidade.
JC — O 2000 e Vishhh... adota um formato de retrospectiva, mas de forma diferente. Você costuma assistir (ou fazer) retrospectivas?
HASSUM — Sim, o 2000 e Vishhh adota um formato do tipo "acaba logo, ano!", mas na verdade acho que todos temos aquele momento na virada do ano que passa um filme na cabeça, né? Acredito que a grande magia do ano novo está na esperança de fazer diferente, isso estimula a busca constante. Um ser humano sem expectativa, não vive. Mas confesso que deste ano, retrospectiva só no 2000 e Vishhh mesmo, com leveza e bom humor... Porque o resto das recordações prefiro passar!
JC — O formato do programa foi criado por você. Você acredita/espera que ele tenha apenas esta temporada ou "teme" por uma nova edição?
HASSUM — Nós temos material para fazer um programa por mês. Tem muita coisa acontecendo. Nos quatro episódios fizemos uma espécie de linha do tempo. Mostramos o começo do isolamento e fomos chegando até o momento atual. E, com certeza, teríamos material pra muitos outros programas. Quem sabe? Mas no fundo desejo mesmo é que esta pandemia acabe logo e que tudo fique bem para todos.
JC — Apesar de receber convidados remotamente, no palco, você está sozinho. Como foi a experiência de fazer piadas sem público e gravar um programa em plena pandemia?
HASSUM — Ah, é como um stand-up. Adoro este formato! Mas o fato dos convidados estarem em casa traz um certo conforto pra eles. Eles se soltam mais. Por exemplo, teremos Maitê Proença ensinando a limpar uma mesa e malhar ao mesmo tempo. Temos Compadre Washington de cuecas. E outras surpresas. Os papos foram bem divertidos, mesmo remotamente.
JC — A comédia, bem como a cultura no geral, tem sido a válvula de escape para muitos nessa pandemia. Quais são as suas válvulas de escape?
HASSUM — Eu preciso estar em constante vivência da arte. É o meu oxigênio, de verdade. E, sem dúvida, todas as formas de arte e entretenimento ajudaram a trazer um pouco de acalento aos nossos dias longos e corações aflitos. Essa é a missão da arte, levar vida por onde lhe deixarem adentrar.
JC — A pergunta é clichê, mas necessária: Quais tem sido os seus aprendizados e descobertas nesta pandemia?
HASSUM — Além de lavar as mãos como nunca na vida? (Brincadeira, só para descontrair!) Nossa! Foi "eita" atrás de "vish", né? Nunca baixei tanto app de vídeoconferência, fiz todas as receitas da Ana Maria Braga, comecei a rever várias séries em russo, tailandês, mandarim... Fiquei sem banho uns três dias... (risos) (Brincadeira... Será?) Pijama era a nova moda... Me arrependi de não ter mais pantufas para variar... Brincadeiras à parte, p***a, que ano do c******! Mas bora que já deu 2020... Agora só vale esperar o 2000 e Vishhh... (risos) Mas falando sério, o ano nos trouxe inúmeras reflexões sobre valores essenciais, não é mesmo?
JC — Para Leandro Hassum, qual piada não teve graça nesse período?
HASSUM — Sem dúvida, a despedida tão fria de quem se foi, a incerteza de quem ficou, a angústia pelo excesso de informação "furada" — que prefiro chamar de desinformação —, como ficou ainda mais evidente as inúmeras adversidades do nosso país e o quanto tudo é desigual. E, sem dúvida, a certeza em saber que tantos sofreram ainda mais dores, perdas e dificuldades. Sim, estamos num mesmo oceano de angústias e dissabores, mas cada qual em seu barco, navio, bote ou tantos ainda a nado. E como o brasileiro é guerreiro! Vamos aguentar... Já está acabando, vamos vencer mais essa e sairemos mais fortes do que entramos.
JC — Se 2020 fosse uma pessoa, e você a encontrasse no dia 31 de dezembro, às 23h59. O que você diria a ela?
HASSUM — Putz, tenho que ser educado, né, JC? Mas confesso que a vontade é mandar um palavrão bem falado... Como tenho que ser educado... Digamos que eu falaria: 'Já vai tarde' ou 'Nem devia ter vindo'... Eu cancelaria essa pessoa no Instagram. P***a, não dá para pensar em acolher não! (risos)