O maestro Geraldo Menucci faleceu aos 92 anos vítima do coronavírus. A filha do músico, Catarina Menucci, escreveu nas suas redes sociais: "mais uma vida ceifada pela covid-19 hoje quando o Brasil completa 500 mil mortes", se referindo ao falecimento do pai que antes de falecer passou "pelas agruras de uma fila de 380 pessoas a espera de uma UTI em Recife". O violinista foi o primeiro regente da Banda Sinfônica do Recife e também atuou no Movimento de Cultura Popular (MCP) na década de 1960.
Ele estava internado na UTI do Hospital Alfa desde o dia 30 de maio último. O falecimento foi confirmado às 5 horas deste sábado (19). Antes de chegar na UTI, passou quatro dias na UPA de Torrões na fila de espera por um leito de UTI, segundo informações da família.
Em nota, a Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife recebem com profundo pesar o falecimento do maestro Geraldo Menucci, "carioca que se tornou recifense de coração, história e luta!". O secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello, afirmou que a morte do maestro foi "uma grande perda, fica um enorme legado, é importante sempre aprender com quem faz da arte mais do que uma emoção, também um instrumento de luta pela vida”.
Além do talento musical, o maestro atuou em várias iniciativas por melhores condições de vida dos brasileiros na época da ditadura militar, dividindo trincheiras com nomes como Dom Helder Câmara, Paulo Freire e Abelardo da Hora.
Carioca do Grajaú, Geraldo estudou violino desde os 14 anos, graduou-se em Regência e Composição na Escola Nacional de Música da Universidade da Bahia e fez outras tantas práticas musicais com professores como Kurt Thomas, H.J. Koellreuter, Yulo Brandão, Pe Jaime Diniz, etc. Em 1951, se mudou para o Recife por causa de uma recifense, que se tornou a sua esposa e mãe dos seus filhos.
Geraldo criou o Coral Bach do Recife em 1955 e costumava dizer que "a voz humana é o instrumento musical mais perfeito". A filha dele, Catarina Menucci escreveu nas redes sociais: "das minhas melhores memórias da infância, tenho esta de adormecer ao som dos ensaios do Coral na garagem de nossa casa no bairro de Casa Amarela na Rua da Estrela (hoje me parecem nomes tão auspiciosos). O Coral Bach foi o primeiro coral brasileiro a atravessar o Atlântico para apresentações de 11 concertos em vários países da Europa, em especial no VI Festival da Juventude pela Paz e Amizade em Moscou em 57".
O maestro também passou um tempo no Sudeste depois do golpe militar de 1964, só retornando a Recife em 1980 depois da Lei da Anistia. Em 1985, participou da criação do projeto da Fundação Centro de Criatividade Musical de Olinda para menores carentes. Além de Catarina, ele deixa três filhos: Alexandre, Daniel e Andrea.