'It's a Sin', da HBO Max, aborda com seriedade e sensibilidade o início da epidemia da Aids

Produção mostra com o preconceito e o estigma afetou a comunidade LGBTQIA+ nos anos 1980
Márcio Bastos
Publicado em 02/07/2021 às 18:02
HOMENAGEM Série da HBO Max lembra as vítimas da Aids desde seu auge na década de 1980 Foto: DIVULGAÇÃO


A eclosão da epidemia da Aids nos 1980 provocou perdas irreparáveis, especialmente dentro da comunidade LGBTQIA+, principal afetada pela doença e também pelo preconceito social e o abandono das autoridades. Os estigmas deste período ainda ressoam e muitas obras tentam remontar a experiência daqueles primeiros anos de convívio com o vírus e seus efeitos nas pessoas, na política e nas artes. Talvez um dos trabalhos que melhor consegue capturar o zeitgeist daquele momento é a série It's a Sin, produção original da HBO Max, já disponível no Brasil.

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A produção assinada por Russell T. Davies, o mesmo responsável por Queer as Folk, um dos marcos da representatividade LGBTQIA+ na televisão, começa no início dos anos 1980, quando o jovem Ritchie (Olly Alexander, vocalista da banda Years & Years) deixa sua pequena e conservadora cidade no litoral da Inglaterra para estudar em Londres. Gay, ele encontra na metrópole as possibilidades de vivenciar sua liberdade, e sexualidade, ainda que, para a família, mantenha sua vida afetiva em segredo.

Ele decide investir no sonho de ser ator e cantor e logo passa a viver com um grupo de amigos, entre eles Roscoe (Omari Douglas), descendente de uma tradicional família africana que não aceita sua homossexualidade, Ash (Nathaniel Curtis), o introvertido e gentil Colin (Callum Scott Howells), e Jill (Lydia West), sua melhor amiga. As noites de autodescoberta, dança, sexo e diversão começam, aos poucos, a dar lugar a um medo generalizado, uma vez que os casos da doença até então desconhecida começam a aumentar.

A trama se desenvolve ao longo de uma década e mostra de forma sensível e aprofundada como a desinformação, o preconceito e a falta de políticas públicas contribuíram para que milhares de jovens perdessem suas vidas para a doença, que naquele momento era quase uma sentença de morte. De origens diferentes, os personagens principais passam por seus próprios dramas pessoais (amorosos, familiares, profissionais) atravessados pela crise coletiva na comunidade. Essa preocupação com a interseccionalidade, entendendo que as vivências LGBTQIA+ são diversas e não podem ser resumidas a estereótipos, é um dos pontos altos da série.

Direção, roteiro, trilha sonora e, principalmente, as atuações, são excelentes. Acima de tudo, se destaca como a produção consegue prestar uma homenagem a todas as vidas perdidas para a doença e aos sonhos e desejos que foram interrompidos. Apesar do peso atrelado ao tema, a série é permeada por um sentimento de amor, amizade e de liberdade, da tentativa de indivíduos de serem felizes, apesar de tudo. E conseguir imprimir isso diante de uma tradição audiovisual historicamente marcada por reducionismos, é um grande feito de It's a Sin.

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