Nas vésperas do centenário do Modernismo no Brasil, celebrado em 2022, o selo Pernambuco, da Cepe Editora, está lançando o livro "Narrativas Impuras", que reúne diversos ensaios de Eneida Maria de Souza, considerada uma das maiores autoridades em Mário de Andrade - personagem central na articulação da Semana de Arte Moderna de 1922 e autor de "Macunaíma, o herói sem nenhum caráter". A obra é dividida em quatro partes, com uma seleção do que há de mais representativo e diversificado na produção da autora nos últimos 20 anos.
A live de lançamento do livro no YouTube da Cepe será realizada nesta quarta-feira (27), a partir das 19h30, com uma conversa entre a autora, o editor do selo Pernambuco, Schneider Carpeggiani; e a crítica literária Heloísa Buarque. A obra ganhará lançamento presencial em Belo Horizonte (MG) em 6 de novembro, às 11h, com autógrafos na Livraria Quixote.
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Na primeira parte do livro, a autora trata do imaginário da obra de Mário de Andrade, conhecido por diluir as fronteiras entre o erudito e popular, abordar a etnografia e refletir sobre outras áreas, como pintura e música. Os textos versam sobre crítica literária, construção poética, viagens, estilo de vida e prática da apropriação. Os demais artigos versam sobre pesquisas em torno da crítica biográfica e citam nomes como Silviano Santiago. Na última parte, ela escreve sobre a sua própria trajetória teórica e crítica.
"'Narrativas Impuras' é um livro que tem uma continuidade, uma organicidade. Mesmo que eu esteja falando de modernismo e de Mário de Andrade, eu trago essas questões para o hoje, para o contemporâneo, para as heranças do modernismo. É tudo mais relacionado", diz Eneida Maria de Souza, coautora de "A pedra mágica do discurso" e organizadora de "Correspondência – Mário de Andrade & Henriqueta Lisboa", segundo colocado do Prêmio Jabuti 2011 na categoria Biografia.
A autora cita as mudanças na retórica e na linguagem para exemplificar como o modernismo ainda ecoa no universo literário. "As pessoas escreviam bonito, embolado e difícil. Com o modernismo temos uma mudança nessa questão, agregando linguagens das minorias, dos negros, das mulheres. Surgiram escritoras femininas. Isso tudo abriu um caminho para uma releitura hoje. Agora, em termos literários, não podemos ficar repetindo o modernismo e sua proposta."
Maria de Souza ainda afirma que o centenário do movimento em 2022 deve ser celebrado, mas o momento também pede por revisões e críticas. "O modernismo deixou heranças, mas não devemos seguir cegamente o que eles falaram", diz. "Apesar da existência de obras como 'Macunaíma', que tratavam de problemáticas indígenas, não se abordava tanto a questão do negro, de desigualdades sociais e outras questões de minorias. As pessoas questionam porque eles não valorizaram o negro como hoje, por exemplo. Agora temos grupos de pessoas que se dedicam a isso."
Contudo, ela também ressalta as dádivas do modernismo, que podem ajudar a cultura brasileira no futuro. "O tempo muda, as questões sociais e políticas também. Tudo muda muito. Mas se tem algo importante é olhar para a realidade e pensar que nem tudo está perdido. Podemos refazer esse caminho, assim como o modernismo fez", finaliza.