MÚSICA

Ludmilla se consolida no pagode com o 'Numanice 2', novo álbum de estúdio

Ao investir no pagode com o projeto "Numanice", em 2020, a cantora mostrou que existe uma inquietude artística dentro de si. Agora, ela lança a terceira parte do projeto no gênero

Cadastrado por

Bruno Vinicius

Publicado em 28/01/2022 às 16:56
COMPOSIÇÕES Ludmilla canta seus sentimentos e sua relação com Brunna Gonçalves - YGOR MARQUES/DIVULGAÇÃO

Ludmilla, de 26 anos, tinha tudo o que uma estrela pop nacional almeja. Uma carreira de quase uma década com hits em múltiplos gêneros, bons álbuns, parcerias com ícones da música popular e respeito entre fãs e a indústria. Ao investir no pagode com o projeto "Numanice", em 2020, a cantora mostrou que existe uma inquietude artística dentro de si. Regravou clássicos do gênero, fez novas composições e trouxe um público novo para o pagode com o lançamento do EP e o DVD ao Vivo nas plataformas digitais. Após as duas produções de sucesso, agora ela lançou o Numanice 2, provando que a voz as mulheres podem colocar seus sentimentos dentro do ritmo.

Considerada uma forasteira dentro do pagode, Ludmilla resgatou uma série de conquistas ao se arriscar dentro desse estilo do samba. Durante a era de ouro do pagode romântico, nos anos 1990 e 2000, poucas poucas vozes femininas eram escutadas. Mesmo com grandes referências femininas, como Leci Brandão, o gênero - que tem como principal característica o canto dos sentimentos românticos - só contavam com as mulheres como backing vocals nos principais grupos no seu auge. Duas décadas depois, podemos perceber um movimento inverso - fruto das mudanças e pautas na própria música -, em que as cantoras ocupam esses espaços cada vez mais. 

No primeiro Numanice, Ludmilla regravou alguns clássicos do pagode e trouxe novas composições suas que, automaticamente, já podem ser considerados clássicos contemporâneos dentro do gênero. Cantando sobre o amor e a sofrência pagodeira, ela transformou "I love you too", "Ela Não" e "Amor difícil" em hinos populares - tanto que as suas versões ao vivo fazem parte das mais executadas músicas brasileiras mais executadas no YouTube em 2021.

Com produção de Rafael Castilhol, o Numanice 2 tem 10 músicas compostas por Ludmilla. Se no primeiro, ela traz uma atmosfera dos pagodes clássicos dos anos 90 e 2000, nesta segunda etapa ela dá uma roupagem mais pop às composições: refrãos mais chicletes, expressões em inglês e sua sexualidade. Na produção, há camadas de trap e R&b, dialogando com a própria carreira da artista. Esse artifício serve, até, para aproximar as novas gerações ao pagode.

Entre as músicas, há um destaque para "Maldivas" e "212", que foram inspiradas no seu relacionamento com Brunna Gonçalves - que está no BBB 22. A primeira foi composta na viagem que as duas fizeram às Ilhas na lua-de-mel, em novembro de 2020. Já a segunda faz referência ao perfume que Brunna usa. As duas letras têm uma pegada interessante: além de ser uma mulher negra cantando sobre sua sexualidade e sentimentos, a roupagem pop cria um outro imaginário de relações homoafetivas, principalmente entre mulheres, as quais sempre foram ligadas à hipersexualização.

Nova estrela

O "Numanice 2" consolida a imagem de Ludmilla como uma estrela da música pop brasileira. Além da versatilidade entre os ritmos que saem das periferias, a artista tem um talento nato para compor e gravar em qualquer gênero em que se dispõe. E tem conseguido mobilizar pessoas em torno da sua arte, mesmo não sem o aval de alguns circuitos que não a colocam no mesmo patamar que outros grandes nomes do pop nacional.

Percebe-se que isso vem de um fator histórico. Poucas cantoras negras chegaram aos mainstream brasileiro. Tanto que Ludmilla é a primeira artista afro-latina a conquistar 2 bilhões de streams no Spotify - principal plataforma de música do mundo. É uma abertura importante para que outras mulheres negras cheguem ao mesmo patamar que ela. E com o Numanice 2, outras portas estarão abertas a esse espaço.

 

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