Com Agência Brasil
O jurista e escritor pernambucano José Paulo Cavalcanti Filho tomou posse na noite desta sexta-feira (10) como novo ocupante da cadeira 39 da Academia Brasileira de Letras (ABL), em cerimônia realizada no histórico Petit Trianon, no Rio de Janeiro.
José Paulo, que é articulista do Jornal do Commercio, ocupa a vaga que foi deixada pelo também pernambucano Marco Maciel. Essa cadeira foi fundada por um outro conterrâneo, o historiador e diplomata Oliveira Lima (1867-1928). Já o patrono é Francisco Adolfo de Varnhagen.
Em seu discurso de posse, José Paulo disse que os objetivos da Academia Brasileira de Letras foram traçados por Machado de Assis há 125 anos.
“Está nos artigos primeiros do estatuto, que é a defesa da língua e da cultura. Eu penso que a gente tem que retraduzir esses conceitos para dar-lhes maior atualidade. A defesa da língua é mais que a defesa de alguns símbolos. Eu penso que não há nada mais urgente e revolucionário do que a educação popular. Criar cidadãos. E cultura significa reconhecer a identidade nacional que está faltando”, disse.
O escritor afirmou que é preciso, agora, retraduzir esses conceitos, para que eles ganhem maior atualidade. A defesa da língua, para ele, significa ir adiante e aprender que há dois Brasis afastados, sendo “um que fala a língua oficial e outro de determinados cidadãos comuns que, usando versos do (poeta) pernambucano Manuel Bandeira, na Evocação de Recife, falam a língua errada do povo, língua certa do povo”.
O novo imortal da ABL destacou que é preciso também compreender que não há nada mais “moderno, urgente, transformador, revolucionário e democrático do que educação popular”. Ou seja, “permitir que os brasileiros sejam cidadãos e possam, informados, decidir os seus destinos”.
Ele disse que a cultura tem de ser vista com uma visão mais ampla. “Compreender que nós somos diferentes e ir além, compreender que essas diferenças nos inquietam e que seremos ainda mais ricos se formos capazes de prestigiar essas diferenças. É compreender um povo, quem somos como brasileiros, e valorizar a nacionalidade”.
Em entrevista à Agência Brasil, a primeira observação feita por José Paulo é que, em 125 anos da Academia, só um pernambucano morava em Recife e continuou morando na capital pernambucana depois da eleição, que foi Mauro Mota, eleito em 1970. “Eu sou o segundo que continua morando no Recife”. Ele disse que sua eleição significava, para ele, "uma homenagem que a Academia presta a Pernambuco".
José Paulo Cavalcanti Filho afirmou estar honrado em participar como novo membro da instituição e apostou que sua posse seria uma festa pernambucana. “Metade de Pernambuco vai invadir a academia. Vai ser uma festa divertida”, brincou.
A cadeira 39 da ABL teve antes como ocupantes: Oliveira Lima (fundador) – que escolheu como patrono Francisco Adolfo de Varnhagen –, Alberto de Faria, Rocha Pombo, Rodolfo Garcia, Elmano Cardim, Otto Lara Resende e Roberto Marinho.
Sobre José Paulo Cavalcanti Filho
José Paulo Cavalcanti Filho nasceu na capital pernambucana em 1948. Iniciou os estudos em Direito na Universidade Católica de Pernambuco, chegando a ser presidente do diretório acadêmico em 1968.
Ele participou de programas de estudos em universidades internacionais como Harvard, Cambridge e Massachusetts.
José Paulo ocupou diversos cargos de destaque em instituições da justiça, a exemplo de Secretário Geral do Ministério da Justiça (1985/1986), Ministro de Estado da Justiça (1985) e também foi membro da comissão instituída pelo Conselho Federal da OAB para acompanhar a Revisão Constitucional (1993/1994) e Reforma Constitucional (1995).
No âmbito literário - já que estamos falando de uma academia de letras -, Cavalcanti Filho é bastante conhecido por ser um profundo conhecedor de Fernando Pessoa, grande escritor do começo do século 20.
Ele é autor de um livro que se tornou referência internacional sobre o português: "Fernando Pessoa: Uma (Quase) Autobiografia" (Record, 2011), que levou o 1º lugar do prêmio Jabuti, na categoria biografia, e ganhou edições em vários países.
O novo imortal ainda acumula várias comendas e condecorações, com destaque à Ordem de Rio Branco, Grão Oficial, concedida pelo Governo do Brasil. Fez consultoria para a UNESCO, Banco Mundial, Ministério da Cultura, dentre outras instituições.