"Muribeca": Estreia documentário que resgata história de luta de comunidade

Sob a direção da jornalista Alcione Ferreira e do cineasta Camilo Soares, o trabalho narra a luta dos moradores do antigo Conjunto Habitacional Muribeca
Katarina Moraes
Publicado em 02/03/2023 às 16:06
Quadrinista Flavão, um dos entrevistados do documentário Muribeca Foto: Alcione Ferreira/Divulgação


Entrou em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (2) o documentário "Muribeca", que descortina a história do Conjunto Habitacional Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife.

Sob a direção da jornalista Alcione Ferreira e do cineasta Camilo Soares, o trabalho narra a luta dos seus moradores - alguns de renome, como o poeta Miró e o quadrinista Flavão - que precisaram evacuar os 70 prédios, cada um com 32 apartamentos, por problemas estruturais.

O filme mostra como os edifícios eram mais que concreto - mas um espaço de lutas, afetos, sonhos e memórias que estava sendo destruído. Nesse sentido, torna-se uma reconstrução afetiva daquele lugar e da luta dos moradores.

Ferreira e Soares conheceram o Muribeca em momentos distintos, que se apresentou como uma memória local latente para eles.

"Foi a partir das temáticas sobre cidades que nos movia enquanto produtores de imagem e da iminente destruição de um lugar cuja trajetória era reconhecida por sua vivacidade que nos colocamos para colaborar no sentido de reverberar essa história", afirmaram os diretores.

Para a realização do documentário, contaram com imagens de arquivo de Ozael Lopes, uma espécie de repórter da comunidade, que, ao filmar a região incessantemente por décadas, permitiu um olhar de dentro.

“Ele possui uma memória em vídeo gigantesca do conjunto habitacional e vimos que seria importante aquele olhar de dentro, com câmera na mão e muito zoom de uma Muribeca pujante e cheia de vida, em contraste com o vazio e a frieza do cemitério de prédios que encontramos. Ficamos muito gratos com sua generosidade de compartilhar essa incrível memória.”

Quando começaram o filme, os diretores também assistiram a algumas audiências que a comunidade teve com o Ministério Público e conheceram outras personagens que estavam ali, lutando e tentando viver em meio a tanta confusão e insegurança jurídica, além das próprias pessoas que se aproximaram espontaneamente deles interessadas em participar do filme.

As entrevistas foram feitas em 2018, e os diretores filmaram a comunidade algumas outras vezes, inclusive logo após o resultado da ordem judicial que autorizou a demolição de todos os blocos do conjunto habitacional.

“Nas conversas, foi essencial trabalhar de forma transparente com a comunidade, mostrando nosso recorte e tipo de abordagem, que não era o mesmo de uma reportagem e/ou notícia do jornalismo tradicional", afirmaram.

"Outro fator importante a destacar é que a comunidade sempre se mostrou solícita e interessada em falar, contar suas histórias e vivências, na maioria das vezes de uma forma intensa, íntima, emocional, com muita disposição, amor e orgulho por pertencer àquela coletividade, além do expressar cuidado e extrema luta por sua permanência", pontuaram.

Fotógrafos por formação e experiência, Ferreira e Soares apontam que o filme converge suas “afinidades" eletivas nas artes visuais, sobretudo em relação às narrativas ligadas às conexões subjetivas de pertencimento no conceito de cidades e os processos de desumanização pelos poderes instituídos em relação às pautas de pertencimento e afeto nas relações de moradia.”

Veja o trailer de "Muribeca"

Sinopse de "Muribeca"

Diante da iminente transformação de seus lares em uma verdadeira cidade fantasma, moradores do Conjunto Habitacional Muribeca expressam a morte física de uma comunidade ainda viva na memória e nos sentimentos.

O desaparecimento do bairro (em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco) devido a problemas estruturais, à especulação imobiliária e a um longo e turvo imbróglio entre moradores e órgãos responsáveis pela obra é testemunhado a partir de resiliências e resistências, de paisagens afetivas e lembranças que ora buscam abrigo na nostalgia, ora reacendem a chama resoluta da esperança.

Ficha Técnica de "Muribeca"

  • Direção: Alcione Ferreira e Camilo Soares
  • Roteiro: Alcione Ferreira e Camilo Soares
  • Produção: Camilo Soares
  • Direção de Fotografia: Alcione Ferreira e Camilo Soares
  • Edição: Paulo Sano
  • Gênero: Documentário
  • País: Brasil
  • Ano: 2020
  • Duração: 78 min

Onde assistir Muribeca

No Recife, o filme estará em cartaz no Cinema da Fundação, no Derby, nesta quinta-feira (2), às 19h45, na sexta (3), às 14h45, no sábado (4), às 19h25, na terça (7), às 15h, e na quarta (8), às 19h45. Confira outras sessões ao redor do Brasil:

Quem é Alcione Ferreira

Alcione Ferreira é formada em jornalismo pela UFPE (2001). Foi fotojornalista sênior e vídeo repórter do Diario de Pernambuco (2000-2015). Dentre os prêmios de fotografia, destacam-se : Vladmir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, Senai de Jornalismo e Cristina Tavares. Compõe o coletivo de fotografia Cria.

Quem é Camilo Soares

Camilo Soares é também fotógrafo, diretor de fotografia e professor de cinema na UFPE. Participa do Coletivo do fotógrafos Cria e da Senda Produções. Assinou a fotografia de King Kong em Asunción, Kikito de Melhor filme no Festival de Gramado de 2020. Dirigiu os curtas Sue, Turbulenta Aberração (2013, com Zizo), Céu de Lua, Chão de Estrelas (2022, com Orun Santana) e Ming (2022). Publicou o livro de poemas Palavras Sujas sobre Azulejos Brancos (Trevo, 2021).

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