A saída de Silvério Pessoa da Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), anunciada nesta quinta-feira (20), tem sido lamentada pela classe artística do Estado.
Produtores culturais e artistas ouvidos pela reportagem afirmaram que receberam a notícia com surpresa, principalmente pela saída ocorrer na véspera do início do Festival de Inverno de Garanhuns, realizado de 21 a 30 de julho.
A avaliação é de que Silvério Pessoa foi bem intencionado ao aceitar o cargo, sendo bem recebido por ter conhecimento sobre o setor. Contudo, ele não teve força política dentro da gestão.
"É uma pena, porque a gente vê um cara que tem estrada e poderia ter uma contribuição grande pro setor, mas que aparentemente não tinha força política e está dentro de uma pasta que aparentemente não tem orçamento", diz um produtor cultural, em reserva.
Outros artistas comentam que Silvério, por ser músico, compreendia bem a dificuldade de ser fazer arte no Estado. Apesar disso, a gestão não vinha sendo bem avaliada pela classe.
"Ele sentiu que estava perdendo laços. Muita gente o cobrava quando o encontrava. Ele era mais cobrado por ser um gestor que conhecia bem a realidade da política cultural e da necessidade de se fazer uma boa política cultural", compartilhou uma produtora, também sob reserva.
Também existe um receio dos próximos passos. "Agora, após esse desgaste com Silvério, não deve ter nenhum artista para assumir a vaga", comenta outra fonte.
Personalidades cultura já vinham percebendo o enfraquecimento de Silvério Pessoa. Alguns ressaltam que o secretário sequer apresentou a coletiva do FIG 2023, no dia 10 de julho, se resumindo a agradecer a equipe envolvida.
Desenhada na sua atual formatação em 2011, a Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE) tem por finalidade e competência promover e executar a política cultural do Estado; promover ações para mobilizar o apoio técnico necessário à produção cultural; fomentar e promover a arte brasileira fundamentada nas raízes da nossa cultura; e executar a política de preservação e conservação da memória do patrimônio histórico, arqueológico, paisagístico, artístico, documental e cultural do Estado.
Governadora Raquel Lyra,
Hoje as minhas primeiras palavras são de despedida e gratidão.
Agradeço a confiança pelo convite para o honrado cargo de secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, posição que com dedicação ocupei nos últimos meses. Como em todos os ciclos da vida, no entanto, chegou o momento de encerrar essa jornada: sem dúvidas, tempo de aprender, tempo de semear as bases de uma política cultural mais múltipla e democrática no nosso Estado.
Despeço-me do cargo com o sentimento de dever cumprido e a certeza de ter dado voz a quem muitas vezes está à margem do processo, valorizando nossos artistas e suas mais variadas expressões e linguagens inseridas também nas culturas das periferias em todo o Estado.
Estruturar e fomentar a política cultural de um Estado tão rico e diverso como Pernambuco não é tarefa simples, mas tenho a convicção que contribui com o processo. Nesse período, trazer à tona o debate sobre a pedagogia da cultura e a multiculturalidade e riqueza da cultura periférica, através do “Fala, Periferia”, que lançamos em abril, são exemplos de ações estruturadoras que por certo renderão bons frutos.
Implantamos com a Secretaria de Educação o projeto de alfabetização dos mestres e mestras da Zona da Mata e promovemos muitas escutas através do “Secult de Andada”, percorrendo quase 1.500 km visitando e me reunindo com aqueles que têm dificuldades em obter acesso ou qualquer tipo de apoio.
Estruturamos a execução da Lei Paulo Gustavo e fomos o primeiro estado do Nordeste e um dos primeiros estados do Brasil a ter o plano de ação aprovado e os recursos liberados.
O olhar para as diferenças e particularidades de cada linguagem esteve presente no nosso cotidiano, refletindo a construção das ações de uma política cultural forte e pulsante, marcada pela valorização dos artistas pernambucanos.
Premissas que também marcam a organização do 31º Festival de Inverno de Garanhuns, que se inicia nesta sexta-feira (21), com a presença dos nossos talentos, acompanhados de tantos outros nomes da cena artística e cultural do nosso país.
Decidi dedicar meu tempo agora para minha carreira e, também para a docência, pois como artista e professor sinto falta dos palcos e da sala de aula.
Agradeço ao time da Secretaria, que esteve junto comigo nesta jornada, desejando muito sucesso e novas conquistas para os que seguem na missão de mudar Pernambuco.
Por fim, agora como artista e pernambucano, seguirei na torcida e sempre à disposição, em outros palcos, em defesa da nossa cultura.