LITERATURA

Soparia: bar icônico do manguebeat tem história contada em livro lançado na Bienal PE 2023

"Soparia: de boteco a palco de todos os sons" (Cepe Editora), de José Teles, conta como o espaço de Roger de Renor se tornou epicentro do efervescente movimento cultural

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 06/10/2023 às 10:59 | Atualizado em 06/10/2023 às 11:06
José Teles, que lança livro sobre a Soparia, com Roger de Renor - CONRADO NUNES/DIVULGAÇÃO

A efervescência cultural do manguebeat no Recife dos anos 1990 eternizou diversos espaços, eventos e lugares no imaginário cultural da cidade. Um dos mais icônicos (e talvez o mais representativo) foi a Soparia, bar mantido por Roger de Renor, no bairro do Pina, Zona Sul da cidade.

A história do espaço, inaugurado em 1922, foi resgatada por uma testemunha ocular do movimento cultural da época: o jornalista José Teles, crítico musical do Jornal do Commércio durante 33 anos. Ele lança pela Cepe Editora o livro "Soparia: de boteco a palco de todos os sons".

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O evento de lançamento ocorre no primeiro dia da XIV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, nesta sexta-feira (6), no Auditório Círculo das Ideias. Teles e Roger vão participar do bate-papo mediado por Valentine Herold, editora assistente do jornal literário Pernambuco (Cepe).

O bar

A Soparia foi aberta sem a pretensão de ser o que se tornou. Alguns fatores, no entanto, contribuíram para se transformar em referência cultural, a exemplo de Lula Cortês, músico já consagrado no "udiguidi recifese".

Outro fator foi a Maré de 73 Lançamentos, como ficou conhecida a "histórica noitada mangue, que ocorreu no dia 14 de novembro de 1992, com Mundo Livre S/A e Chico Science & Nação Zumbi".

O evento contou com exibição de clipes e de um documentário chamado Mangue. A partir daí, subiram ao palco grupos como Mombojó, Mestre Ambrósio, Cascabulho, Comadre Florzinha, Paulo Francis Vai Pro Céu e Querosene Jacaré.

Roger de Renor no sofá vermelho da Soparia - ACERVO PESSOAL
Cachorros de gesso do Soparia, bar do Pina - ACERVO PESSOAl

Pela Soparia passaram muitas figuras célebres. Além do próprio Chico Science, Otto, Silvério Pessoa, Maciel Melo, Sivuca, Hermeto Pascoal, Fagner e Herbert Vianna estiveram por lá. Artistas da das artes plásticas e do cinema também marcaram presença para acompanhar shows, beber ou apenas conversar.

Em entrevista para o livro, Roger de Renor chega a afirmar que a badalação sobre a Soparia aumentou após a morte de Chico Science, ocorrida em 2 de fevereiro de 1997, atraindo novos negócios para o Polo Pina e, consequentemente, mais pessoas e problemas.

O bar encerrou as atividades em 25 de março de 1999. O fechamento atraiu milhares de pessoas com show do Cordel do Fogo Encantado. Para Teles, Roger "aproveitou o timing perfeito" para fechar a Soparia.

Livro

Capa de Soparia: de boteco a palco de todos os sons (Cepe Editora), de José Teles - DIVULGAÇÃO

No livro, Teles cita que "no geral, a programação (do bar) acontecia na base da imprevisibilidade" e que "a maioria dos que frequentavam a Soparia nem se preocupava em saber o que rolaria por lá". Quase todos confessaram que iam ao bar "para se encontrar com os amigos".

Para resgatar a história, o autor foi atrás não apenas dos famosos, mas também de quem fazia o estabelecimento funcionar, como a produtora cultural Paula de Renor, irmã e braço direito de Roger no negócio, garçons, seguranças e frequentadores do bar.

O resultado final conta com 212 páginas do livro, cerca de 50 imagens, dezenas de entrevistas, pesquisas em jornais antigos e em trabalhos acadêmicos, além de análise de material de divulgação do bar e de fotografias.

Outro bares

O livro não se limita à história da Soparia. Teles ainda aponta os bares da época e de décadas anteriores.

Dos anos 1970, por exemplo, lembra do Bar do Beco, onde passaram sambistas cariocas (Clementina de Jesus, Cartola, Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Grande Otelo), e posteriormente virou referência para a psicodelia pernambucana, o chamado Udigrudi.

Desta turma, o Bar do Beco recebeu apresentações de Flaviola e das bandas Tamarineira Village, futura Ave Sangria, e Phetus. Sobre os arredores do Soparia, nos anos 1990, o livro resgata dados de bares como o Satchmo, localizado na Galeria Joana D’Arc, o Oficina Mecânica e o Boratcho.

Mais da Bienal

Gornalista Rogério Medeiros - DIVULGAÇÃO
Jorge Filó - DIVULGAÇÃO

Entre os destaques da programação desta sexta-feira (6), há poesia, música pernambucana, apresentação cultural e rodas de conversa.

Na Conexão Petrobras, Pecúlio, o terceiro livro do poeta Jorge Filó será lançado. Foi lançado em 2023 com o apoio do Funcultura-PE, através de projeto apresentado pela Melodia Produções. São mais de 70 poemas de autoria do poeta e de seu heterônimo Anacreonte Sordano, tendo este, um capitulo à parte. Tem capa e ilustrações do artista Jefferson Campos e projeto gráfico e diagramação por Patrícia Cruz Lima. A revisão foi feita por Paula Filó e Maeve Melo.

À noite, o jornalista Rogério Medeiros apresenta uma palestra e bate papo sobre o Satwa, o primeiro álbum independente do Brasil, e sobre a cena psicodélica que floresceu no Recife na década de 70 anima o público. Durante a apresentação, histórias sobre as gravações de outros discos antológicos como "Paêbirú", "Rosa de Sangue" e "Flaviola e o Bando do Sol", além de mostrar fotos e músicas inéditas de outros artistas da cena udigrúdi recifense dos anos 70, como: Lula Côrtes, Marconi Notaro, Aratanha Azul e outros. A palestra é baseada no livro Valsa dos Cogumelos - A Psicodelia Recifense 1968/1981, lançado em 2022.

SERVIÇO
XIV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco
Onde: Centro de Convenções de Pernambuco. Endereço (Av. Prof. Andrade Bezerra, s/n, Complexo de Salgadinho)
Quando: 6 a 15 de Outubro de 2023, das 10h às 21h
Quanto: R$ 20, R$ 15 (social) e R$ 10 (meia), à venda no Sympla

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