XILOGRAVURA

J. Borges: cortejo pela cidade de Bezerros e emoção marcam o enterro do artista pernambucano

Enterro reuniu amigos, familiares e autoridades em despedida do xilogravador que morreu na sexta (26/7), aos 88 anos, após uma parada cardíaca

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JC

Publicado em 27/07/2024 às 17:52
Enterro de J. Borges aconteceu em Bezerros, após cortejo pela cidade - Jean Ferreira/TV Jornal Caruaru

Com texto de Emannuel Bento

Muita emoção e um cortejo pelas ruas de Bezerros, cidade do Agreste pernambucano, marcaram o enterro do xilogravador pernambucano José Francisco Borges, o J. Borges, que morreu aos 88 anos nesta sexta-feira (26/7), após sofrer uma parada cardíaca. O xilogravador estava tratando uma infecção na perna em sua casa, que fica ao lado do Memorial Jota Borges, em Bezerros.

A cerimônia aconteceu no fim da tarde deste sábado (27) e reuniu familiares, amigos e autoridades próximas ao artista. Por volta das 15h, o corpo saiu do Centro de Artesanato de Pernambuco, onde estava sendo velado, e seguiu em cortejo pelas ruas da cidade natal do artesão.

Às 16h30, o corpo chegou ao Cemitério Parque dos Eucaliptos, localizado no bairro de Santo Amaro, e foi sepultado diante de familiares bastante emocionados. O artista, conhecido mundialmente, é um dos mais famosos xilogravador do Estado, nomeado um dos patrimônios vivos de Pernambuco.

Além de amigos e familiares, políticos estiveram presentes para acompanhar o velório de J. Borges, como a prefeita de Bezerros, Lucielle Laurentin, o deputado federal Mendonça Filho e o deputado estadual Joãozinho Tenório.

J. Borges deixa legado digno de 'maior gravador popular do Brasil'

Enterro de J. Borges aconteceu em Bezerros, após cortejo pela cidade - Jean Ferreira/TV Jornal Caruaru
Enterro de J. Borges aconteceu em Bezerros, após cortejo pela cidade - Jean Ferreira/TV Jornal Caruaru
Enterro de J. Borges aconteceu em Bezerros, após cortejo pela cidade - Jean Ferreira/TV Jornal Caruaru

"O maior gravador popular do Brasil". Era assim que Ariano Suassuna, um dos principais pesquisadores da cultura popular nordestina, se referia a J. Borges. A sentença não é um exagero: o pernambucano de Bezerros elevou a prática da xilogravura para outro patamar perante as artes nacionais. As suas ilustrações partiam da memória, trazendo no traço uma ancestralidade das artes gráficas dos interiores nordestinos.

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Todo esse imaginário ganha um aspecto quase documental, sendo um registro espontâneo da cultura popular. J. Borges contribuiu para um amadurecimento do entendimento de uma arte popular que não é necessariamente folclórica, mas que traz registros do dia-a-dia - ao lado de figuras fantásticas do imaginário regional e personagens famosos da literatura do cordel.

Estilo de J. Borges

Em 2023, o presidente Lula e a primeira-dama Janja, levaram de presenta para o Papa Francisco uma xilogravura da Sagrada Família, feita por J. Borges - Vaticano/Divulgação
Xilogravura "Forró Nordestino", de autoria de J. Borges - DIVULGAÇÃO
Xilogravura "Viagens a trabalho e negócios", autoria de J. Borges - DIVULGAÇÃO

Autodidata, J. Borges costumava desenhar direto na madeira. O fundo da matriz era talhado ao redor da figura que recebia aplicação de tinta, tendo como resultado um fundo branco e a imagem impressa em cor. Ao final, ele sempre assinava na matriz.

As suas xilogravuras não tinham uma preocupação com perspectiva ou proporção. Contudo, tinham uma grande valor estético. Os principais temas de sua obra podem ser separados em quatro grupos:

O primeiro diz respeito às personagens fantásticas do imaginário regional, como a mula sem cabeça.
No segundo grupo, estão personagens famosos de folhetos de cordel, como o Pavão Misterioso.

No terceiro, personagens e temas emblemáticos da cultura nordestina: Lampião, Padre Cícero, a seca, a festa de São João etc. E, por fim, o quarto grupo apresenta temas do cotidiano, como os bares, as brigas de galo, as cerimônias ecumênicas e a política.

Quem foi J. Borges

J. Borges ao lado de um grande incentivador, Ariano Suassuna - REPRODUÇÃO
Autoridades emitiram nota lastimando o falecimento de J. Borges, aos 88 anos - Dayvison Nunes
O ateliê do artista foi batizado de Memorial J. Borges - DAYVISON NUNES/ACERVO JC IMAGEM

Antes de dedicar-se exclusivamente às artes, foi marceneiro, mascate, pintor de parede, oleiro, entre outras atividades. Em 1956, comprou um lote de folhetos de cordel e começa a atuar como vendedor em feiras populares.

Em 1964, escreveu seu primeiro folheto, "O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina", que foi ilustrado pelo artista Dila (1937), de Caruaru, e publicado pelo folheteiro Antonio Ferreira da Silva, que acompanhava J. Borges nas feiras do interior. Esse folheto foi um sucesso, vendendo cinco mil exemplares em apenas dois meses.

Na segunda publicação, "O Verdadeiro Aviso de Frei Damião sobre os Castigos que Vêm", não encontra um artista para a ilustração da capa o e, por economia, produzir ele mesmo a sua primeira xilogravura, inspirada na fachada da igreja de Bezerros. Com esse trabalho, iniciou sua carreira como xilogravador. Em pouco tempo, adquiriu máquinas tipográficas e passa a editar folhetos.

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