Faleceu nessa quinta-feira,o cantor francês Christophe, que fez muito sucesso nos anos 60 também no Brasil. Quando ele foi internado, no dia 26 de março, com pneumonia, os jornais franceses noticiaram que tinha sido acometido da covid-19, mas a família negou, e disse que a morte foi em consequência de um enfisema pulmonar. Christopher, que faria 75 anos em outubro, era uma entidade da música popular francesa, desde 1965, quando estourou internacionalmente. Ele lançou o último disco, Les Vestiges du chaos (Universal), em 2016.
Christophe era o nome artístico do parisiense Daniel Bevilacqua que foi um fenômeno pouco comentado no Brasil, onde tem um álbum em catálogo há 55 anos, um recorde.Três das doze faixas do disco tocam por aqui desde 1965, Aline, Je Ne T'aime Plus, e Les Marionettes, tanto no original, quanto nas versões. Aline e Je Ne T'aime Plus foram gravadas, na época, por, entre outros, Agnaldo Timóteo. A primeira foi o sucesso que alavancou a carreira de Timóteo. Teve ainda Les Marionettes que, anos depois recebeu uma um versão cantada por Reginaldo Rossi, batizada de A Marionete (“Meu bem, você não é marionete/que é feita de papel ou de algodão”).
Christophe foi um dos mais bem-sucedidos nomes do yé-yé (o iê-iê-iê) da França nos anos 60, com Joe Dassin, Michel Polnareff, Françoise Hardy, Frank Alamo, Johnny Hallyday, Sylvie Vartan, ou Serge Gainsbourg. O álbum cinquentenário de Christophe continua sendo comprado por nostálgicos dos tempos do inofensivo pop do início da década de 60, mas o francês seguiu em frente, depois de desaparecer da mídia no final dos anos 60, para reaparecer nos anos 70, reinventado, mais roqueiro, com o álbum Les Paradis Perdus (1974), produzido por um ainda desconhecido Jean Michel Jarreau. Foram parceiros no hit final do cantor Les Mots Bleus (1975). Com aversão à entrevistas, e apegado à privacidade, Christophe ganhou um aura de mistério que contribuiu para se mantenha na estrada estes anos todos, com altos e baixos. Depois de um punhado de álbuns, alguns elogiados, outros enquadrados como brega, ele caiu mais uma vez no ostracismo na segunda metade dos anos 80. Passou quase dez anos fora dos estúdios. Em 1996, voltou com Bevilacqua, um disco em que enfatiza sintetizadores, com o repertório inteiro assinado por ele, afastando-se do modelo convencional da canção. Problemas pessoais, alguns assegura que se deveram às drogas, outros à depressão, o levaram a dar mais uma parada, em que ficou cinco anos sem gravar.
Desde então se mantém em evidência, lançando álbuns, em longos espaço de tempo entre um e outro, não tão bem sucedido como nos anos 60, mas com respeito da crítica e do público. Em 2002, ele reapareceu nos palcos, depois de 27 anos. Lançou Comm’ Si la Terre Penchait (2001), Olympia (2002). Entre 2004 e 2008 preparou and Aimer Ce Que Nous Sommes, que o levaria às paradas, e à estrada por quase três anos, com uma banda que incluía Gail Ann Dorsey (baixista que tocou com David Bowie), e Carmine Apice (do Vanilla Fudge, Cactus). A faixa título tem participação da atriz Isabelle Adjani.
Ele mais uma vez se reinventou com Les vestiges du Chaos, um álbum em que não se encontra vestígios do ídolo do yé-yé. Christophe cada vez mais se aproximava do universo do “auteur” alternativo, de Lou Reed, a quem homenageia na faixa Lou. O álbum tem a ultima gravação do proto-punk Alan Vega, do cultuado duo nova-iorquino Suicide, falecido pouco depois do lançamento de Os Vestígios do Caos. Com Christophe, Vega assina a faixa Tangerine, uma evocação à cidade marroquina de Tanger.
O ministro da cultura francês, tuitou nesta sexta-feira, lamentando a morte do artista: “Suas letras, suas melodias, sua voz nos enlevavam e nos comoviam. Sem Christophe, a canção francesa perdeu uma parte de sua alma, mas o agridoce blues de suas canções é permanecerá”