Com coronavírus, indústria brasileira cai 18,8% em abril, maior queda em 18 anos

Somando-se ao resultado de março, quando começaram as medidas restritivas quando também houve recuo, a produção industrial acumula perdas de 26,1% no bimestre
Marcelo Aprígio
Publicado em 03/06/2020 às 11:54
O recuo de março para abril foi puxado por 22 das 26 atividades industriais pesquisadas, com destaque para veículos automotores, reboques e carrocerias (-88,5%) Foto: SÉRGIO BERNARDO/ACERVO JC IMAGEM


Atualizado em 03.06.20, às 19h43

O fechamento de comércios e serviços considerados não essenciais, por causa das medidas de isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus, atingiu em cheio a produção industrial brasileira, que em abril registrou uma queda de 18,8%. "Se as atividades do comércio ficam muito restritas, a indústria é afetada, porque é para lá que escoamos a produção", explica o economista da Fiepe, Cézar Andrade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este foi o maior recuo registrado pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) em 18 anos.

Embora não tão agudo quanto se chegou a temer, o tombo na produção industrial já era esperado pelo setor, que não tem boas expectativas para maio. "Não foi uma surpresa. Já vínhamos caindo em março, e agora já projetamos uma queda considerável para maio", conta o economista, afirmando que a reabertura das atividades econômicas não será suficiente para que a indústria tenha um ano positivo."Infelizmente, não vamos conseguir recuperar essas perdas neste ano", sentencia ele, lembrando que a perda de 8,2% no acumulado de janeiro a abril é equivalente a registrada em todo ano de 2015, considerado o pior ano para o setor até então.

Os dados do IBGE mostram uma mudança do perfil de consumo e os efeitos do isolamento social. Enquanto setores de bens duráveis, como eletrodomésticos e veículos automotores registraram queda expressiva, por conta da baixa demanda, outros como alimentos, itens farmacêuticos e até mesmo a venda de caixões apresentaram avanço. "As pessoas só estão comprando itens essenciais, evitando supérfluos", diz Cézar Andrade. Essas transformações no mercado consumidor devem contribuir para que a indústria demore a esboçar algum tipo de recuperação.

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Na avaliação de Andrade, se a tendência de queda da produção se confirmar nos próximos meses, o setor pode ser obrigado a fechar postos de trabalho, impactando negativamente os número de desemprego no Brasil. "Com a indústria produzindo menos, e, consequentemente, tendo um menor faturamento, é possível que cresça o número de demissões", afirma Andrade, apontando que o faturamento das empresas foi achatado pela deflação registrada no mês passado.

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O fechamento de postos de trabalho, porém, é uma preocupação para o setor, que precisa manter a mão de obra para continuar produzindo. "Por um lado, deve faltar dinheiro para manter o quadro de empregados, por outro, a redução da mão de obra na indústria também prejudica a produção", explica Cézar Andrade. Além disso, um aumento no número de desempregados no país pode pressionar o setor para baixo, visto que mais pessoas perderiam o poder de compra, o que diminuiria a demanda interna.

Os números da indústria divulgados nesta quarta-feira começam a consolidar as projeções para a retração de mais de 10% do PIB no segundo trimestre, desenhando um retrato ruim para a economia, em contexto de difícil acesso a crédito e aumento do desemprego. "A indústria é o termômetro da economia. Se ela vai mal, a economia como um todo vai mal", afirma Andrade, declarando que os dados industriais nacionais apontam para grandes retrações em outros setores econômicos. "Quando analisamos os dados, percebemos que os demais setores seguem, geralmente, a mesma tendência experimentada pela indústria", afirma o economista.

 

Indústria naval deve ter a maior queda em Pernambuco

Apesar de a divulgação dos resultados regionais da PIM estar prevista apenas para a terça-feira (9), o economista da Fiepe, Cezar Andrade, acredita que a produção industrial pernambucana deve seguir a tendência de queda nacional. "Certamente seguiremos o mesmo caminho do Brasil, com queda nos principais setores não essenciais", afirma ele, lembrando que, no País, a principal queda aconteceu nos bens de consumo duráveis, que são vistos como supérfluos por muitos consumidores nesse momento de pandemia e, por isso, tiveram a compra postergada. "Talvez só consigamos manter a produção positiva nos setores de alimentos, farmacêuticos e higiene, o restante deve cair mesmo", avalia ele.

Nacionalmente, o setor de bens de consumo duráveis registrou um tombo recorde de 76,9%, influenciado principalmente pela retração de 88,5% da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, que já havia contraído 28% em março. "Além dos automotores, devemos ter a maior queda no segmento de outros equipamentos de transporte, que engloba a indústria naval, que já vinha muito ruim", afirma Andrade, lembrando que o Estaleiro Atlântico Sul teve as atividades encerradas em 2019, o que já vinha contribuindo para o recuo da produção no setor.

"O segmento das bebidas também deve ser bastante impactado no Estado, porque depende muito dos bares restaurantes e lanchonetes, que estiveram fechados, sobretudo durante o lockdown", diz o economista, ressaltando que a quarentena mais rígida foi boa para saúde das pessoas, mas prejudicial para o setor produtivo.

Na avaliação de Andrade, se a tendência de queda da produção se confirmar nos próximos meses, o setor pode ser obrigado a fechar postos de trabalho, impactando negativamente os número de desemprego no Brasil. "Com a indústria produzindo menos, e, consequentemente, tendo um menor faturamento, é possível que cresça o número de demissões", afirma Andrade, apontando que o faturamento das empresas foi achatado pela deflação registrada no mês passado.


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